sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

ESCOLA OU ESTREBARIA?

                                                                           Isaac Warden Lewis

Numa manhã do ano de 199..., em um município à beira do rio Amazonas,  o senhor Francisco Medeiros acordou mais intolerável e indignado do que de costume. Sua frágil paciência desaparecera. Ninguém conseguia encontrar explicação plausível para tal comportamento de intolerância radical. Isso significava que todos os familiares iriam sofrer mais ironias, sarcasmos e até xingamentos por qualquer coisa. A primeira vítima, ou melhor, a segunda vítima foi sua esposa de sessenta anos, dona Maria Medeiros que ousou criticá-lo por se aborrecer com o neto, Francisco, a primeira vítima que fora à padaria comprar pão e não conferiu o troco que lhe deram. Ao ser criticado por isso, Francisco Neto quis discutir com o avô, dizendo que a moça do caixa lhe dera o troco certo porque ela havia feito o cálculo na máquina de calcular.  O senhor Francisco Medeiros deu uma gargalhada e chamou o neto de quadrúpede ignorante, pois não sabia que animal era. A família ficou arrasada. Dona Maria Medeiros queria auxiliar ou defender seu neto e disse ao senhor Francisco Medeiros que ele não precisava ser tão intolerante por causa de um trocozinho de nada. Foi, nesse momento, que as filhas, os filhos, as netas e os netos perceberam que a paciência do senhor Francisco Medeiros havia se evadido completamente. Ele virou-se para a esposa e disse que ela era melhor do que o neto porque ela sabia que animal era: uma hipopótama sem cérebro. Nenhum filho, nenhuma filha, nenhum neto, nenhuma neta ousaram interferir ou criticar o senhor Francisco Medeiros.

É preciso entender as circunstâncias que levaram o senhor Francisco Medeiros à situação de paciência negativa com relação ao neto, à moça que devolvera o troco errado e à esposa que lhe cobrava tolerância. Algumas semanas antes, ele participara de uma reunião de pais e mestres na escola dos  netos e a professora de Maria Neta lhe revelou que sua neta, na sexta série, não conseguia aprender os pronomes pessoais, os substantivos e os adjetivos da língua portuguesa e, por isso, ela não conseguia fazer uma simples redação, mas ela teria de passar a menina de ano porque a orientação da Secretaria de Educação era para “não reprovar nenhum aluno ou nenhuma aluna para o bem das crianças”. O senhor Francisco Medeiros foi o único responsável que protestou pela decisão absurda da Secretaria de Educação.

O senhor Francisco Medeiros voltou para casa meio intolerante, disse que ele tinha aprendido a ler, escrever e calcular muito bem na escola primária em uma escola pública e não conseguia entender como professores, professoras, pedagogos, pedagogas e outras autoridades educacionais diziam não ser importante os alunos e as alunas aprenderem o mínimo que ele aprendera bem quando era criança sem que os professores e as professoras daqueles tempos exprimissem tanto blá, blá, blá sobre ensino e aprendizagem.

O senhor Francisco Medeiros achava estranho que mães e avós achassem bonito quando uma menina ficava grávida, tinha filhos com treze ou quatorze anos sem ter aprendido a lavar suas roupas, lavar louças, cuidar de uma casa, cuidar de si, quanto mais cuidar de uma criança e, na escola, não conseguia aprender as classes gramaticais da sua língua. Ele começou a criticar autoridades educacionais, as quais informaram que a educação seria reformada para dar ensino técnico aos jovens, os quais não aprenderam a ler e nem a escrever. Concluiu dizendo que tais autoridades mereciam ser premiadas pelo seu doutoramento em burrice, estupidez e ignorância educacional precoce.

A seguir, o senhor Francisco Medeiros fez a seguinte revelação. “No outro dia, fui à cidade, entrei numa loja, fiz algumas compras e quando me dirigi ao Caixa para pagar, dei uma nota à funcionária que pegou uma máquina de calcular para saber quanto ela deveria me devolver.  O cálculo era muito simples. Achei o uso da máquina tão fútil quanto os neurônios que essa moça tinha em sua cabeça. Ontem fui a uma loja neste bairro, fiz uma compra, dei uma nota para pagar e o dono da loja pegou também uma máquina de calcular para saber quanto ele deveria me devolver de troco. Sinceramente, não aguento mais encontrar tantas pessoas com suas mentes com neurônios atrofiados por falta de uso. O que devemos esperar de uma país coalhado de analfabetos funcionais e de doutores analfabetos?”

O senhor Francisco Medeiros estava furioso. Revelou que aprendera a tabuada aos oito anos, aprendera a ler aos sete anos com sua mãe e não fora para nenhuma creche. Disse que se tivesse ido a uma creche, com certeza, ele seria mais um hipopótamo naquela casa. Declarou que não tinha certeza se aquela era uma casa para seres humanos ou uma estrebaria com animais que não conseguiam aprender contas, nem aprender a ler e a escrever e nem a pensar. .Afirmou que estava pensando em comprar capim para os animais que viviam naquela casa. Criticou mais uma vez as autoridades educacionais, dizendo que elas deveriam voltar para uma escola séria para seres humanos, pois, agora, inventaram de ensinar crianças e jovens através de jogos e brincadeiras, não aprenderam que temos hora e tempo para tudo na vida. Tempo para brincar, tempo para trabalhar, tempo para estudar e tempo para divertimento.

 

Manaus, novembro 2021 

sábado, 12 de novembro de 2022

ELEIÇÃO DIALÉTICA EM 2022 NO PAÍS COLONIZADO

                                                                                                                 Isaac Warden Lewis

 

A disputa eleitoral em 2022 no Brasil revelou-se pedagogicamente dialética. A máquina governamental da mentira, vigarice e do estelionato que desgovernava o país desde 2019 foi suplantada pela ânsia de verdade, justiça, liberdade, igualdade e fraternidade da maioria de homens e mulheres que vivenciaram práticas de desrespeito, desonestidade e traição a princípios basilares da sociedade brasileira.

É verdade que os cidadãos que se autodenominam conservadores não sabem o que esse termo realmente significa. O que querem conservar, que tradição aspiram conservar? Os conceitos importados de países da Europa Ocidental geralmente são distorcidos ou atribuídos significados completamente diferentes dos usados em países desenvolvidos. Em países colonizados, como o Brasil, a tradição das classes favorecidas é restringir a compreensão de conceitos que poderão ser-lhes desfavoráveis. Um exemplo disso é de um colunista articulista que qualificou o movimento terrorista do governo federal de “conservador revolucionário”. Esse articulista parece não saber o que seja “um conservador” e nem sabe o que seja “um revolucionário”. Uma outra confusão muito frequente  é designar as “confusões débeis mentais” de políticos e governantes atuais de “fascistas” ou “nazistas”. Esses políticos e governantes são herdeiros de bandidos que ocuparam as terras dos nativos que viviam no território achado casualmente por navegantes portugueses em 1500. E desde então, esses aventureiros espoliaram os nativos de suas terras, assassinaram covardemente milhares e milhares de nativos, nativas e suas crianças, escravizaram os sobreviventes e, além disso, adotaram práticas destrutivas contra a natureza, a fauna, a flora, os rios e os mares em nome da civilização, o que significou, na verdade, a adoção de modos de produção financiados por capitalistas europeus.

Depois da independência de Portugal em 1822, políticos, letrados e militares luso-brasileiros continuaram administrando o território a serviço de metrópoles que planejaram o modo e a relação de produção do país chamado Brasil, que nunca revogou os conteúdos racistas, discriminatórios e preconceituosos da cultura medieval, contidos nas Ordenações elaboradas pelos reis de Portugal no século XVI.

Entretanto, do século XIV ao século XIX, a Europa passou por muitas revoluções: a Comercial, a Intelectual (a Renascença, o Iluminismo), a Religiosa, a Industrial (Inglaterra), a Social (Inglesa e Francesa) . Nesse período, o que vigorou no Brasil foi o domínio e a expansão do latifúndio,  a sociedade escravagista, a violência colonial contra nativos da América e da África, ou seja, a espoliação das terras dos nativos e a exploração violenta da força de trabalho dos nativos  da América e da África. Na colônia portuguesa, os políticos, os letrados, os juízes, os militares , os latifundiários não tomaram conhecimento ou fingiram não tomar conhecimento das lutas dos Movimentos Populares na Revolução Francesa (1789) que aboliu privilégios, distinções, realizou reforma agrária, extinguiu a monarquia, condenando à morte na guilhotina o rei Luís XVI, a rainha Maria Antonieta e muitos latifundiários conservadores medievalistas. Fundou-se, então, a república moderna.

Em resumo, a vitória da Frente Ampla Democrática, liderada por Luís Inácio Lula da Silva, foi dialética porque seus eleitores exerceram o direito de destituir um desgoverno, que não respeitava os interesses e as necessidades da maioria da população como apregoavam os Movimentos Populares que realizaram a Revolução Francesa, seguindo os ideais políticos de Jean-Jacques Rousseau..

Para sabermos realmente o que são revolução, revolucionário e Movimentos Populares, podemos também estudar as Histórias da Revolução Russa de 1917, a Revolução Chinesa de 1949 e a Revolução Cubana de 1959. Nesses países, os autores de crimes políticos e peculatos são punidos e sumariamente executados, o que explica a raiva dos conservadores medievalistas brasileiros contra esses países.

 

 

 

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

IDIOSSINCRASIAS DAS CLASSES FAVORECIDAS LUSOBRASILEIRAS EM PAÍS COLONIZADO

                                                                                           Isaac Warden Lewis

O Senhor Roberto Jefferson, ex-deputado, advogado, declarou, ao ser preso em sua residência, que ele não poderia ser preso porque ele não era do PCC. Ele poderia também acrescentar que não era do CV, do PC ou do PCB ou de qualquer partido anticapitalista e não era morador em uma favela. Ao que parece, todos os letrados, como ele e o ministro da Justiça, Anderson Torres são sobreviventes do período colonial português, por isso, ignoram todas as revoluções (intelectuais, comerciais, industriais, sociais) ocorridas na Europa do século XIV ao XIX que aboliram privilégios, condenaram discriminações e preconceitos contra as classes desfavorecidas. Não me consta que esse Ministro da Justiça tenha, alguma vez, se dirigido a uma favela da periferia invadida para investigar a legalidade ou a constitucionalidade de tais operações policiais. Tais invasões policiais covardes afetam mais o prestígio do país no mundo do que uma revolta de um deputado e advogado com visões de mundo muito mais confusas do que as defendidas pelos terroristas do Taliban ou do Boko Haram e as atitudes guerrilheiras destes terroristas são mais coerentes e honrosas do que o exemplo vergonhoso assumido pelo advogado e ex-deputado Roberto Jefferson.  

No período colonial, os navegantes portugueses que acharam o território brasileiro, por acaso, chegaram em caravelas, trazendo canhões, mosquetes, arcabuzes para atirarem covardemente nos nativos desarmados da América e da África em nome de Cristo para se apropriarem de suas terras e explorarem sua força de trabalho. Nas caravelas, também vieram ouvidores, juízes e promotores do rei para garantir a justiça e a ordem na colônia e punir os nativos que se rebelassem contra as ordens do rei e do papa.    O que as faculdades de Direito têm ensinado, de fato, a advogados como Roberto Jefferson e Anderson Torres? Será que estudam ainda as Ordenações medievais, prenhe de preconceitos e discriminações, promulgadas pelos reis de Portugal no período colonial? Os advogados formados em faculdades fundadas, segundo o programa de ensino vigente no período colonial e medieval, poderiam, ao menos, ler bons livros de História universal, consultando os eventos históricos ocorridos do século XIV ao XIX, época em que vigorava, no Brasil, a cultura medieval portuguesa.

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

UM INSPETOR GERAL PARA UM PAÍS COLONIZADO

                                                                                                              Isaac Warden Lewis

 

Nicolai Gogol (1809-1852) escreveu uma peça teatral, na verdade, uma comédia que refletia bem o contexto social e político da Rússia no século XIX. Enquanto, na Europa Ocidental,  Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Giordano Bruno e Johann Kepler haviam  pesquisado, provado e comprovado que a Terra e os outros planetas com seus satélites giravam em torno do Sol; os filósofos do Iluminismo, como Jean-Jacques Rousseau, Voltaire, Diderot, Jean d’Alembert haviam enunciado que a sociedade humana era obra dos seres humanos e não de nenhum deus; Cientistas, como Louis Pasteur, haviam pesquisado, provado e comprovado que as doenças eram provocadas por vírus ou bactérias e não por vontade de deus ou do demônio e recomendavam práticas de higiene não só de médicos como de seus pacientes. Alguns cientistas foram ainda mais longe, criando vacinas para prevenir doenças letais; a revolução industrial (1780) na Inglaterra e a revolução francesa de 1789 haviam ensinado aos seres humanos que a sorte, o destino, o futuro, o desenvolvimento, a melhoria ou a piora da sociedade eram responsabilidades dos próprios seres humanos e não de nenhuma divindade, na Rússia, os seres humanos insistiam em viver na crença de que o mundo feudal era o melhor dos mundos e que a sociedade era produto da fé e não da razão; a religião era o sol maior de suas vidas e a doutrina religiosa, construída por sacerdotes e patriarcas antigos e ignorantes era o melhor conhecimento do mundo. Por isso, a maioria das pessoas das classes privilegiadas, favorecidas e desfavorecidas russas não via necessidade de pensar em mudanças.

No século XIX, a Rússia era governada pelo Czar Nicolau I. Seu reino era administrado por funcionários corruptos e incompetentes em todos os setores públicos e privados. Políticos, juízes, professores, médicos, padres, policiais, latifundiários, comerciantes, chefes de polícia, aposentados, prefeitos, governadores, e, naturalmente, czares. Todos trabalhavam como se seus setores funcionais fossem suas propriedades e, por isso, cobravam propinas para fazerem suas obrigações e deveres.

A peça de Gogol, “O inspetor geral” retrata essa situação em uma aldeiazinha, quando o prefeito é alertado por uma carta de que um inspetor geral, viajando incógnito pelo país, poderia chegar a qualquer momento para verificar, analisar as atividades desenvolvidas pelos funcionários para atender a demanda da população da referida aldeia. Esses funcionários entram em pânico. Reúnem-se para deliberar o que fazer. Nesse ínterim, chega, na aldeiazinha, um viajante que é confundido com  “o inspetor geral”. O viajante era um vigarista e se faz passar pelo “enviado”, o aguardado “inspetor geral”. No final, os corruptos descobrem que se equivocaram. O viajante não era o “inspetor geral”.

Esta história nos faz lembrar o país colonizado em que vivemos, pois sua história está mais para uma farsa ou, talvez, uma tragédia, muito similar à peça de Gogol. A história desse país colonizado pode ser definida como um país construído de corrupção, distorção, mentira, falsificação desde sua invenção. Descobrimento de terra e de habitantes que eram desconhecidos dos invasores portugueses. Metodologia de ignorância propositada dos conhecimentos desses habitantes  sobre o meio em que viviam há milhares de anos. Práticas de violência, iniquidades, hipocrisias e desumanidade cristã contra os nativos. Práticas de corrupção dos funcionários do rei desde o momento em que chegaram para administrar terras alheias.. Invenção de independência para beneficiar as classes favorecidas que sempre serviram como lacaios dos colonizadores. Invenção de república para continuar gerindo a terra como uma feitoria colonial. Ensino de ciência distorcida e mistificada com visões religiosas construídas há mais de seis mil anos por sacerdotes e patriarcas ignorantes.  Práticas políticas corruptas por parte de funcionários (preferencialmente) do alto escalão, juízes, políticos, militares, chefes de polícia, secretários de governo, generais, ministros, policiais que legislam (principalmente) em causa própria e não pela causa democrática. Percebemos que o país colonizado, chamado Brasil, parece-se com a Rússia do século XIX ou a China do tempo dos mandarins, daí porque certos luso-brasileiros e descendentes de estrangeiros,  conservadores e adeptos da liberdade para corrupção,  não gostam do comunismo ou do socialismo que executa sem parcimônia ladrões do erário público.

Nesse contexto, os vigaristas, falsários e embusteiros adoram seguir carreiras públicas. Surgem jurando que pretendem acabar com a corrupção se forem eleitos. O inacreditável é que existem eleitores que adoram ser enganados por vigaristas, falsários e embusteiros. Não se perguntam como pode um vigarista ou um falsário ou um embusteiro acabar com a corrupção depois de passar a vida toda apropriando-se de recursos alheios, públicos? Não percebem que tais personagens deveriam ter sido presos há muito, muito tempo. Políticos, padres e pastores vigaristas. Juízes,  advogados e médicos ignorantes. Generais e ministros falsários. Delegados e policiais corruptos Todos precisam ser rigorosamente investigados por um Inspetor Geral. Na epígrafe da peça de Gogol, está escrito: “A CULPA NÃO É DO ESPELHO SE A CARA É TORTA”

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segunda-feira, 8 de agosto de 2022

AOS PAÍSES COLONIZADOS; UM DITADO MILENAR, UNIVERSAL E POPULAR

                                                                                                         Isaac Warden Lewis*

“Quem com ferro fere, com o ferro será ferido”. As classes favorecidas e desfavorecidas de países colonizados deveriam prestar mais atenção aos ditados universais e populares, conhecidos desde a Antiguidade porque o mundo é redondo, como foi comprovado por estudiosos e cientistas, como Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Johanes Kepler e Giordano Bruno durante a Renascença na Europa. E contra os fatos examinados, verificados e provados, não há nenhuma divindade que possa mudá-los. Aprendemos, com isso, que todo mistério pode ser desvendado, desvelado e explicado.  Somente os tolos, que costumam seguir tolos, vigaristas e chalartões, não conseguem entender as leis da natureza, exposta através da Ciência. No Brasil, país colonizado por excelência, várias pessoas das classes favorecidas e das classes desfavorecidas pregam políticas igualitárias para si e políticas de desigualdade para os outros e não percebem que, ao admitirem isso, estão, na verdade, propondo e admitindo políticas de desigualdade para todos. Os colonizadores portugueses chegaram ao Brasil no século XVI, trazendo ideias  pré-históricas, medievais, discriminando negativamente povos da América, África e Ásia com o intuito de se apossarem de seus  territórios , dos recursos minerais e vegetais desses territórios através da violência e da exploração violenta da força de trabalho da população que vivia nesses continentes. Alguns luso-brasileiros e europeus desavisados aceitaram essas práticas violentas eurocêntricas como normais, não percebendo que tais práticas também valiam para atingi-los. É que os luso-brasileiros, os católicos e os evangélicos alienados e ignorantes preferiram ignorar as críticas religiosas feitas pelos reformadores contra a Igreja Católica Apostólica Romana, os princípios defendidos pelos filósofos do Iluminismo francês contra os privilégios da nobreza feudal, as lutas dos revolucionários franceses em favor de uma sociedade justa e igualitária, a crítica do modo de produção capitalista feita pelos filósofos e revolucionários marxistas a partir do século XIX.

Para as classes favorecidas da sociedade brasileira, o Brasil tinha de continuar a ser uma feitoria colonial para atender as metrópoles capitalistas europeias ou norte-americanas e garantir seu papel de lacaios para administrar política, militar, jurídica e policialmente a sociedade brasileira, mantendo a violência, a injustiça e a desigualdade social construídas pela sociedade medieval portuguesa a partir de 1500.

A proclamada independência política de 1822 não aboliu a política autoritária, medieval, colonialista e discriminatória praticada por autoridades políticas, militares, jurídicas e policiais luso-brasileiras que insistiram com práticas conciliadoras que mantêm a sociedade injusta e desigual. É hora de combatermos as políticas conciliadoras entre opressores e oprimidos. Precisamos fazer nossa opção pelos oprimidos e combater vigorosamente os que fazem a opção pelos opressores.

 

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quinta-feira, 21 de julho de 2022

A FLECHA E A LANÇA EM PAÍSES COLONIZADOS

                                                                                                   Isaac Warden Lewis

 

O poeta norte-americano Henry Wadsworth Longfellow (1807-1882) escreveu o seguinte poema “The arrow and the song” (A flecha e a canção):

“Atirei uma flecha para o ar/Caiu na terra, Não sei onde;/Pois, tão rapidamente ela voou, a vista/Não pôde segui-la em seu vôo.

Assoviei uma canção para o ar,/ Ela caiu na terra. Não sei onde;/Pois, quem tem visão tão penetrante e forte/Que possa seguir o vôo de canção.

Muito, muito tempo depois em um carvalho/Encontrei a flecha, ainda inteira./E a canção, do início ao fim,/Achei novamente no coração de um amigo.”

Este poema revela um poeta romântico e idealista, o que explica seu poema não dar conta de que no mundo físico , real,  toda ação produz reação contrária igual à força dispendida, o que significa dizer que tudo que é lançado pelo homem retorna a ele de algum modo, independentemente de sua vontade. É verdade que se ele age bem sobre o mundo e os seres no mundo, ele colherá o bem que ele semeou. Por outro lado, se ele age mal sobre o mundo e os seres do mundo, ele estará produzindo males para todos os seres do mundo e também para si mesmo.  

No período colonial, os capitalistas do mundo ocidental estabeleceram que a terra e os produtos dela deveriam ser apropriados por capitalistas e, com isso, têm degenerado a vida sobre a terra para todos. Agora, querem investir na exploração do mundo extraterrestre para fazer a mesma coisa. No Brasil, os portugueses e os luso-brasileiros (classes favorecidas), vinculados aos interesses das classes privilegiadas do capitalismo ocidental, agiram com subserviência, apropriando-se violentamente de terras ocupadas milenarmente por indígenas, escravizaram nativos da América, África e Ásia, devastaram terras e seus produtos naturais para entregá-los ao capitalismo europeu e norte-americano. Inventaram um país semi-independente, mais burocrático do que democrático, para continuar a exploração da terra e a espoliação dos nativos americanos, africanos etc, através da criação de castas políticas, militares, policiais, jurídicas para legitimar a exploração e a espoliação referidas acima.

Os protocolonizadores luso-brasileiros têm dificuldades em entender as leis da natureza que punem os seres humanos que agem mal e estupidamente sobre o mundo e os seres que vivem nele. De qualquer modo, o poema The arrow and the song, de Longfellow, revela um poeta sensível com relação ao mundo em que ele vivia. Do mesmo modo, brasileiros como Bruno Pereira, o inglês Dominique Philips, o religioso Júlio Lancellotti, o ambientalista Leonard Boff têm cumprido o papel de nos alertar sobre os efeitos dos males sobre o mundo e os seres produzidos por seres humanos gananciosos. Desde o início da colonização portuguesa, nativos da América, África, Ásia criticaram e condenaram os crimes contra a sua humanidade produzidos pelos colonizadores europeus e norte-americanos. Os depoimentos de descendentes de luso-africanos têm mostrado que os colonizadores portugueses cometeram os mesmos crimes tanto na África como no Brasil. Por isso, a maioria das classes desfavorecidas brasileiras nada tem a comemorar nos duzentos anos da independência do Brasil de Portugal.

                          

    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sábado, 9 de julho de 2022

A MANSÃO

                                                                                                             Isaac Warden Lewis

 

A casa de Roberto Ferreira, mais conhecido como Beto Fera, localizava-se no final de uma longa rua, que subia até uma colina, em um bairro do Rio de Janeiro. Em cima da colina, destacava-se a casa de Beto Fera. Os vizinhos, em geral, trabalhadores pobres, que lutaram arduamente para construir suas casas para abrigar sua família e numerosa prole, chamavam a casa de Beto Fera de mansão. Ninguém conseguia explicar como essa casa, dentre tantas naquele bairro, naquela rua, merecera a distinção, dada pelos vizinhos e vizinhas. O curioso é que essa casa virou referência até para os comerciantes do bairro e de outros bairros adjacentes, pois quando um vizinho ia comprar mercadorias em uma loja que precisasse fazer a entrega das compras, o vendedor perguntava pelo nome da rua, o número da casa: O comprador respondia, com orgulho: “ rua Bela Vista, sem número”. O vendedor pedia, então, uma referência. O comprador respondia quase que invariavelmente: “”A minha casa é a antepenúltima antes da mansão do Beto Ferreira” ou “Minha casa fica ao lado da mansão do Beto Fera” e assim por diante.

Ninguém conseguira entender também porque aquela rua se chamava Bela Vista, dado que a rua não apresentava vista bela ou coisa parecida. Mais surpreendente era o nome específico da quadra de ruas daquele bairro. Geralmente os moradores acrescentavam que a rua Bela Vista ficava no “Jardim da Felicidade”. Que felicidade poderia haver naquele bairro?, se levarmos em consideração que aquele bairro era tranquilo antes da chegada dos portugueses no século XVI. Ali, viviam os índios Tupinambá, que foram massacrados pelas tropas de Mem de Sá, o qual viera da Bahia para combater os franceses que pretendiam fundar uma colônia francesa na Baía da Guanabara. Como os Tupinambá eram aliados dos franceses e odiavam os portugueses, eles se tornaram alvos preferenciais dos portugueses, os quais gostavam de descarregar suas armas de fogo contra índios que lutavam com arco e flecha. Isso é a história colonial.  Essa tradição covarde se perpetuou no Brasil república. As polícias, as forças armadas, sob o comando de oficiais luso-brasileiros, continuaram invadindo bairros pobres, operários, comunidades quilombolas e indígenas, descarregando suas armas de fogo, em nome da “ordem e progresso” contra populações desarmadas, com apoio de juízes, políticos e da lei republicana.

A população testemunhava esses fatos históricos que aconteciam como se fosse uma fatalidade, um destino, um fato natural ou normal. Um aviso ou alerta percorria a comunidade, informando que, naquele dia, haveria abordagem policial e todos os homens, todas as mulheres e crianças deveriam ficar alertas. Os moradores ficavam mais preocupados do que alertas. Às dez ou às onze horas, um carro com um oficial e alguns soldados montados em uma camionete, fortemente armados, ao lado de uma potente metralhadora, subia a rua em direção à colina. Meia hora depois, o veículo descia. A vida voltava ao normal. Não houve nenhuma abordagem. Era apenas uma visita de negócios entre os policiais e o Beto Fera em sua mansão. Os policiais foram visitá-lo para receber a propina que ele lhes devia. Beto Fera era conhecido como poderoso comerciante de drogas pelos policiais, juízes e outras autoridades políticas que permitiam o seu monopólio comercial e de tráfico de drogas naquela comunidade. O comunicado que circulara de manhã cedo na comunidade não fora endereçado aos pobres moradores e sim para o Beto Fera, que deveria ficar alerta para atender bem os policiais em sua missão pacificadora.

E, assim, por muitos anos, Beto Fera reinou em sua mansão, situado na rua Bela Vista, no Jardim da Felicidade e bairros adjacentes. Ele se tornou também uma espécie de delegado nessas comunidades. Ele não permitia roubos, assassinatos, crimes em sua jurisdição. Quando algum morador se sentia violentado por algum criminoso, ele se dirigia ao Beto Fera que mandava investigar a procedência do delito e punia severamente o causador do crime. Todo morador sabia, de antemão, que não adiantava se dirigir à delegacia de polícia do bairro, a qual, geralmente, ignorava as reclamações dos moradores pobres.

Um dia, os moradores foram surpreendidos com a morte de Beto Fera. Ao voltar para casa à tarde no dia anterior, um carro aproximou-se de seu carro e dois pistoleiros saíram e atiraram em Beto Fera, que não teve tempo de se defender. À noite, o corpo foi velado na mansão. Que mansão? Os moradores perceberam que as paredes da mansão não era embuçadas, assim como não eram as paredes internas, o piso era terra batida, os dois banheiros eram precários. A viúva, a segunda mulher de Beto Fera, declarou que ele pretendia terminar de fazer os acabamentos da casa. “Agora, não sei o que fazer. A primeira esposa me comunicou que quer vender a casa, alegando que tem direito ao espólio do ex-marido. Todo dinheiro que ele ganhou foi entregue aos policiais e juízes corruptos dessa cidade, embora a vizinhança imaginasse que vivíamos bem. Que vida miserável.. Essa mansão é tão precária quanto foi a vida de Beto Fera. Ele vivia com medo. Afinal, não sabemos se ele foi morto a mando de algum comparsa do crime ou de alguma autoridade policial”.

 

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Manaus, Maio de 2022.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

MULHERES EM SÉRIE

                                                                                                          Isaac Warden Lewis

                                                                           I

Juliano Ferreira, um homem negro de sessenta anos, vivia preocupado, angustiado. Homem de poucos amigos, na verdade, de nenhum amigo e de muitos colegas que gostavam de beber cerveja e acompanhar jogos de futebol. Juliano Ferreira não sentia prazer em se reunir com seus colegas. Pensava nos seus relacionamentos, mais precisamente, nos seus três falidos casamentos. Resumia sua experiência da seguinte maneira: mulheres em série, como produtos de fábrica.

A primeira mulher teve duas filhas. Ele viveu quinze anos com ela e as filhas. Juliano e a primeira mulher brigavam constantemente sobre educação das filhas. Juliano Ferreira entendia que educação era coisa séria e uma ação para toda a vida. Sua esposa entendia que as filhas deveriam ser tratadas como crianças por toda vida e cobrava do marido festas e presentes para agradar as filhas. Juliano Ferreira tentou convencer a primeira esposa que era papel dos pais conversarem com as filhas sobre trabalho para atender as necessidades e carências humanas e que o mundo não deveria se resumir em festas e presentes e quem gostava de festinhas e presentes eram os animais de quatro patas. Sua primeira esposa ofendeu-se com as lições do marido e resolveu abandoná-lo. Desapareceu com suas filhas. Juliano Ferreira acabou se conformando. Pensou que era melhor viver só do que mal acompanhado.

 

II

Mas surge a segunda mulher. Ela também era separada e tinha três filhos. Depois de muito conversarem sobre seus fracassados relacionamentos, Juliano passou a viver com a segunda mulher e seus três filhos. No início, Juliano imaginou que tudo seria maravilhoso. Ele pensou em educar sua nova família, falando sobre a situação miserável do país em que viviam. Disse-lhes que o Brasil era um país de apartheid não declarado. A sociedade brasileira era excludente, desigual e que o poder político existia para o benefício das classes favorecidas e discriminava negativa e continuamente as classes desfavorecidas e isso era observado na contínua concentração de renda a favor de poucas pessoas e a pauperização continuada da maioria das pessoas das classes desfavorecidas. Juliano Ferreira explicou que, nessa circunstância, ele e todos iguais a ele tinham de trabalhar muito para viver razoavelmente, sem luxo, sem vaidade, sem desejos irracionais.  Talvez a segunda mulher não tenha conseguido entender ou não quis entender as lições políticas e sociais de seu companheiro e logo, bem logo, começaram as cobranças. Ela disse ao Juliano que ele não manifestava simpatia pelos afilhados, parecia mesmo não gostar deles. Juliano Ferreira sentiu-se incompreendido, tentou justificar-se, tentou dizer a sua segunda companheira que ele não ganhava o suficiente para comprar um celular para cada um de seus afilhados se divertir com jogos idiotas que não educavam ninguém, nem crianças, nem adultos. A segunda mulher passou a viver triste, sempre de mau humor, não queria conversar, disse que não queria saber de política, educação, desigualdade e, muito menos, de pobreza e miséria na sociedade brasileira. Juliano Ferreira não conversou mais com a sua nova família.  Sua segunda mulher resolveu partir com os filhos depois de conviver três anos  com Juliano. Ao ficar só mais uma vez, ele decidiu que jamais se casaria.

 

III

Entretanto Juliano Ferreira cometeu o erro de comparecer a uma festa na casa de seu vizinho. Nessa festa, ele conheceu sua terceira mulher. Ela também era separada, tinha dois filhos e duas filhas. Todos eram adolescentes e estudantes. Juliano passou a viver com a terceira mulher e seus filhos e filhas. Inicialmente, ele acreditou na maturidade de sua nova família e imaginou que todos seriam felizes. Para melhorar o relacionamento com a sua nova família, Juliano Ferreira começou a conversar com seus afilhados sobre a importância do estudo, ressaltando que eles deveriam pensar em construir seu conhecimento tanto sobre a realidade natural quanto a realidade social. Disse a eles que estudar é uma atividade séria que exige esforço e dedicação. Disse-lhes que não deveriam ver estudo como possibilidade de ganhar coisas e sim como possiblidade de compreender o mundo, os problemas do mundo, as lutas, as descobertas, as invenções, as conquistas realizadas por homens e mulheres ao longo da história.

Entrementes, a terceira mulher começou a ficar de mau humor toda vez que Juliano Ferreira conversava com os afilhados e estes, por sua vez, pareciam felizes com as suas lições. Numa dessas conversas, a terceira mulher dirigiu-se ao Juliano, chamando-o de filósofo e acusando-o de incutir ideias nocivas na cabeça de seus filhos. Disse ainda que ele estava estragando a educação que ela havia lhes dado de ser alguém na vida e de estudar para ganhar muito dinheiro e que todo estudante brasileiro deseja isso e mais nada dessa coisa de trabalhar para o bem da humanidade e blá, blá, blá. A temperatura do mau humor da terceira esposa aumentou quando a filha mais velha manifestou-se a favor de seu padrasto, dizendo que ele ajudava ela e seus irmãos a pensaram sobre o futuro de suas vidas. Com isso, a terceira mulher virou-se para Juliano Ferreira e disse-lhe para ir embora porque ela não iria aceitar que ele desviasse o comportamento de suas filhas e de seus filhos. Disse-lhe para arrumar suas coisas imediatamente e sair de casa antes que ela atirasse tudo na rua. Juliano Ferreira levantou-se, despediu-se de seus afilhados, da sua nova família, arrumou suas coisas e partiu. Desde então, Juliano Ferreira vive desgostoso, quer saber onde ele errou, pensa nos seus relacionamentos e conclui que as mulheres estão sendo produzidas em série.

 

 

                                                     F I M

 

Outubro de 2021.

 

quinta-feira, 16 de junho de 2022

BRASIL:GENOCÍDIO HISTÓRICO EM UM PAÍS COLONIZADO

                                                                                                                 Isaac Warden Lewis

O Brasil comemora oficialmente 200 anos da proclamação da independência de Portugal. Entretanto os acontecimentos trágicos e dramáticos sofridos pelos indígenas em suas terras, pelos  afro-brasileiros  nos quilombos e nas favelas, por jornalistas e missionários/as comprometidos/as com a melhoria das condições de vida de indígenas, afro-brasileiros, trabalhadores sem terra ou sem teto, todos vítimas de violência praticada por forças armadas que supostamente existem para a proteção de povos anteriormente colonizados e explorados pelos colonizadores portugueses através de suas classes privilegiadas portuguesas e de suas classes favorecidas luso-brasileiras, demonstram que a proclamação da independência constituiu uma ficção, uma invenção produzida pela diplomacia do imperialismo britânico para usufruir das matérias primas produzidas pela colônia portuguesa e controlar a produção agrícola e comercial. Desse modo, os ideólogos britânicos não deveriam ficar perplexos quando cidadãos ingleses são baleados ou mortos nas favelas brasileiras, no rio Amazonas ou nos territórios indígenas da floresta amazônica, uma vez que os poderes políticos, militares, jurídicos e policiais luso-brasileiros existem desde o período colonial para coagir, perseguir e punir os povos nativos da América, da África, Ásia, além de colonos portugueses rebeldes com  relação às determinações contidas nas Ordenações promulgadas pelo reis portugueses que discriminavam negativamente os povos nativos de continentes não-europeus.

Aprendemos com um personagem , Rafael Hitlodeu, criado por Thomas More (1478-1535), em seu livro “Utopia”, que, no início do século XVI, a Inglaterra estava-se transformando radicalmente porque uma nova classe de comerciantes capitalistas estava açambarcando as terras do reino inglês para criar carneiros para produção de lã, visando atender sua ganância de lucros comerciais e industriais, expulsando famílias e mais famílias das terras, tornando-as miseráveis e famintas, levando alguns de seus membros a praticarem roubos e outros crimes e, consequentemente, a serem enforcados. Essa ação de açambarcamento ou de monopolização de terras vai ser exportada pelos colonizadores europeus para outros continentes em benefício das classes privilegiadas europeias, ignorando os direitos de ocupação dos povos nativos americanos pré-colombianos, africanos, asiáticos. Os colonizadores europeus praticaram crimes hediondos contra os nativos desses continentes, muitas vezes, aliando-se a nativos para massacrar os nativos que reagiam contra os colonizadores. No Brasil, a história desses crimes praticados contra os nativos apresenta-nos uma lição inestimável. No século XVII, os povos indígenas guaranis obtiveram do rei da Espanha o direito de usar armas de fogo contra os bandeirantes paulistas escravagistas. Foi dessa maneira que  os portugueses, os mamelucos e  seus aliados indígenas aprenderam a não atacar covardemente as populações pacíficas que viviam nas missões jesuíticas. Entendemos que somente dessa maneira, as favelas, os quilombos, as terras indígenas poderão ser protegidas. Infelizmente, a partir da proclamação da independência, esses nativos foram destituídos do direito de se defenderem em seu território e, por isso, eles vêm sendo exterminados covardemente pelas forças políticas, militares, jurídicas, policiais e mercenárias luso-brasileiras que supostamente deveriam protegê-los. Em resumo, uma proclamação de independência é apenas uma proclamação e não uma ação revolucionária efetiva e radical de independência.

 

quinta-feira, 9 de junho de 2022

THE BIG PIG'S STORY

                                                                                                     Isaac Warden Lewis

There was a very, very big pig  which was very proud of his fatness. Because of that he considered himself as one that had done well in life. “I have succeeded”, he used to say to himself.

He never realized that his fate, his life, his fatness and his death had been scheduled by the gains or losses of a capitalistic farming. He did not know that he was solely an economic unity of the capitalistic mind of the farmer.

One day he said to his  kin: “Let’s make a house for us. Everybody has a house. We must have a shelter to protect us against the sun and the rain. The other pigs agreed. They gather themselves. Brothers, sisters, fathers, mothers, uncles, aunts, sons, daughters and friends. Everyone wanted to help because most animals have a socialistic instinct. In fact, they realized that from birth to death, they depended, in one way or another, on the work of others.

They began the construction of their house happily. One brought bricks, another brought woods, another brought cement, another brought tools. Everyone brought something or did something to help build the house. The big pigs, the little pigs and even the new-born pigs, all contributed in one way or another.

            The new-born pigs contributed in a very unique way. Every time when pigs were born, the work was momentarily paralysed in order to welcome them merrily with drinks and dancing and  many congratulations to one another. Everybody was happy and eager to go back to work when the feast finished.

            The big pig commanded the work for he was elected to direct the work once he had suggested it. Very proudly he said to the others: “Let’s do this”, “Let’s put that here”, “Bring that”, “Let’s carry this”, “Tell the carpenter to come here”, “Call the mason” and so on.

            After work, at night, when talking to his mates, he would say: “We are building a house, we are doing this, we are going to do that and so on. But funny as it may be his language began to change, but nobody noticed that for a long, long time. He said instead: “Do that”, “Carry this”, “Tell the mason to come here”< “Don’t do that”, “Don’t put that there”, and so on. After work at night, when talking to one or another, he would say:”I am building a house”, “I am doing this”, “I am doing that”, “I am going to do a lot of things interesting for my house”, and so on.

            The pigs continued to build the house. They did everything the great boss commanded them to do. The big pig was called the big boss now. The pigs finished the construction of the house. The big boss suggested that they had to fence in the house in order to protect it from invaders. The other pigs began to think that something was wrong. They wanted to know why the big  boss wanted to fence in their house. Some of the pigs realized that for a long time the big boss referred to the pigs’ house as “my house”. These pigs realized that the big pig decided to expel the workers from “his house”. These pigs decided to leave the work and went into the forest to find another place to live. A few pigs remained working for the big pig. They fenced the land where the house was located.

            As soon as the fence was finished, the big boss suggested that they ought to make a gate. After the gate was ready, he told the pigs that they were free  so they could leave the house and wander through the neighbouring forest and come back when they pleased. The pigs became happy to be free for a while. They spent the whole day in the forest. At night they returned home. They found the gate closed. The house was closed. The big pig did not bother to open the door of the house and neither he bother to open the gate. The pigs could not enter their house. They were expelled from it by the big pig. He began to tell everybody that he constructed the house by himself. 

 

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Silves, Amazonas, Abril de 2022.

 

segunda-feira, 9 de maio de 2022

AUTOCRÍTICA DE UMA PROFESSORA APOSENTADA

 Isaac Warden Lewis

Incrível! Depois de tantos anos, hoje estou aposentada. Não mais dou aulas. Não sei por quê. Isso me soa estranho: dar aulas. Isso significa que o meu tempo de magistério pode ser contado em número de aulas dadas. Eu não havia pensado nisso antes.

Sinto-me estranha. Por que faço essa reflexão todos os dias? Quando era pequena, queria ser professora. Não sei por quê. Talvez a sociedade, a família, alguma professora ou alguém ou alguma coisa tenha-me sugerido seguir a carreira do magistério. Não sei ao certo. Mas o fato é que me dei conta de que desejava ser professora. Naquele tempo, não sabia nada sobre a História, a sociedade, a vida. E passei muitos anos sem saber nada disso. De repente, dou-me conta de que talvez não tenha feito nada diferente todo esse tempo.

Quando era pequena, eu ia à escola todos os dias. A professora ditava as lições. Dizia que devíamos estudá-las. Para ela, estudar era decorar. Eu copiava e decorava as lições. Dessa forma, aprendia muitas coisas. Ou melhor, acreditava que aprendia muitas coisas. Nunca me ocorria refletir sobre o que respondia. E parece que isso nunca ocorria à professora também. Ela repassava o conhecimento pronto. Ela nos dava um saber. Daí, pressupor-se o dever de reconhecimento do aluno – pobre de saber – para com o seu professor que doa um pouco de seu saber.  

Com essa educação da doação, fui crescendo. Enquanto crescia, fui frequentando outros níveis escolares até chegar ao curso de magistério. E alegremente eu me formei professora primária. Houve festas. Ganhei um diploma. Sentia-me feliz e orgulhosa de ser professora. Anos mais tarde, participei de um concurso para o magistério público. Passei. Fui designada para lecionar numa escola. E, durante anos, desempenhei a função de professora. Afinal de contas, o que é uma função de professora? O que é ser professora?

Rotineiramente, sem meditar, passei a fazer a mesma coisa que as minhas professoras haviam feito. Ditava e ditava as lições e pedia aos alunos para estudá-las. Para mim, estudar era decorar. No final do mês, eu organizava provas com perguntas sobre as lições dadas. Os alunos respondiam as perguntas mecanicamente.

Quando me aposentei, reencontrei a maioria desses alunos, vivendo condições de vida sofridas e injustas. Percebi que eram inconscientes e incapazes de entender sua situação  e o contexto social e político em que estavam inseridos. Entendi, então, que eu não lhes havia ensinado a viver. Percebi que os havia treinado para se adaptarem aos preconceitos sociais e às tarefas exigidas pelo mercado de trabalho.

Como é que eu não me dera conta disso durante o tempo em que lecionava? Como pude ser tão cega? Compreendi que fora educada numa bitola e ensinava os meus alunos nessa mesma bitola. Ao exigir deles a memorização das lições, dificultava a possibilidade de refletirem sobre o mundo e de agirem criativamente sobre ele. Sei bem que alguns alunos recusavam-se a conformarem-se a essa bitola. Embora a minha prática de ensino dificultasse o desenvolvimento da reflexão e da criatividade, ela não impedia que alguns alunos agissem criticamente. No meu entender, esses alunos eram rebeldes, maus elementos porque  atrapalhavam a rotina das minhas aulas. Entendo, agora, que minha formação me impedia de perceber e compreender, com clareza, as minhas ações, a minha prática educativa.

Agora, tenho consciência de que, embora tenha desempenhado a função de professora, não fui uma educadora. Pois não fui capaz de estimular e desenvolver a capacidade reflexiva da maioria dos meus alunos. Isso possibilitaria a eles pensarem o seu cotidiano, pensarem a sua vida. Então, eles seriam capazes de refletir sobre as injustiças sociais de sua sociedade e poderiam agir criticamente para transformá-la e torná-la justa para todos. Imagino como seria o mundo se cada professora assumisse uma postura crítica no ato de ensinar.

No entanto, enquanto exercia a função de professora, eu me preocupava somente com as aparências. Orgulhava-me do status de ser professora. Exibia o anel de professora a todo momento e em todo lugar. Na parede da sala, fiz questão de pendurar o diploma e a fotografia da minha formatura. Eu estava vestida de beca e com a borla na cabeça. Quanta futilidade! Como sinto vergonha de tudo isso!

Na verdade, eu deveria ter aprendido a aprender para poder ensinar os meus alunos a aprenderem.Somente agora, compreendo que “o pior analfabeto é o analfabeto político”. Não me lembro onde vi ou ouvi esta frase. Como pude ser tão analfabeta?

Entretanto algumas frases que lia antes, mecanicamente, ganham sentido agora ao relacioná-las  com a reflexão que faço sobre a minha experiência vivida no magistério. Eu ouvia dizer que “a educação era uma questão política”, mas nunca parei para refletir sobre isso.

Será que ainda posso ensinar, apesar de estar aposentada? Sim, acho que posso. Educação é participação. Quando eu reencontrar os meus alunos, falarei com eles sobre a autocrítica que tenho feito da minha prática educativa durante o tempo em que fui professora. Na verdade, falarei com todas as pessoas que me ouvirem. Falarei com todo mundo, pois, como li num livro – “Pedagogia do oprimido”, de Paulo Freire, ontem à noite: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.

 

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Do livro “Umanitá e outras histórias”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 21 de abril de 2022

DOENÇA INFANTIL DO CAPITALISMO DEPENDENTE EM PAÍS COLONIZADO

                                                                                                              Isaac Warden Lewis

 Vladimir Ilich Ulyanov, Lenin (1870-1924), em seu texto, “Esquerdismo: a doença infantil do comunismo” (1920), analisa doenças intelectuais de comunistas, como desvios teóricos, revisionismos, dogmatismos, incoerência, irracionalidade, oportunismo e incapacidade metódica para construir conhecimentos objetivos sobre fenômenos sociais da sociedade que pretendem transformar. Curiosamente, de passagem, Lenin ressalta que os capitalistas ocidentais também apresentam doenças espirituais semelhantes, porém mais graves.

Esses casos, no mundo capitalista ocidental, podem ser observados ainda hoje na Europa, nos Estados Unidos e, principalmente, nos países colonizados ou neo-colonizados, como o Brasil, onde a doença infantil do capitalismo ocidental apresenta-se epidêmica e gravíssima, por ser um país neo-colonizado, capitalista dependente, cujo setores favorecidos e desfavorecidos, em sua maioria, orientam-se por ideias místicas medievais ou pré-históricas, misturadas com ideologias modernas. Isso explica porque os luso-brasileiros e seus aliados, descendentes estrangeiros, mamelucos, mulatos, indígenas, negros orientam-se ainda por preconceitos medievais prescritos há mais de quinhentos anos pelas bulas papais e Ordenações promulgadas pelos reis de Portugal. As classes favorecidas organizaram a produção econômica, as atividades política e judiciária, militares, policiais, visando mais atender os interesses das classes privilegiadas de países capitalistas centrais e das favorecidas nacionais do que atender as necessidades da população nativa. Não é, pois, de estranhar a institucionalização da corrupção generalizada nos órgãos públicos, principalmente, nas instituições políticas, forças armadas, policiais, jurídicas, que foram criadas para perseguir ostensivamente os nativos (ameríndios, afro-brasileiros, operários e agricultores pobres; a violência e a discriminação negativa praticada pelas instituições públicas contra os nativos, quilombolas, operários, agricultores e favelados; o desmatamento de florestas, os incêndios florestais, a invasão e grilagem de terras indígenas, o massacre da população indígena e quilombola. Essas ações não são “fatalidades”, como declarou  um general, comprometido com os crimes praticados pelas Forças Armadas, Milícias, Polícias no Brasil, onde autoridades e setores da população acreditam que esse país é diferente de Porto Rico, Haiti, Filipinas, Panamá, Congo e outros países colonizados pelo Capitalismo Ocidental.

Além das doenças infantis, mencionadas acima, a pior é a cegueira lateral ou parcial. As pessoas acometidas por essa doença, tanto nos países colonizados como nos países capitalistas centrais, só conseguem perceber os erros. males, as doenças, os absurdos, o terror praticados por outros indivíduos ou países. Recentemente, a esposa de um ator norte-americano foi agredida violentamente por um comediante. O marido, Will Smith, indignado, levantou-se e deu um tapa no rosto do comediante. O mundo veio abaixo em Hollywood por causa da atitude do ator. Poucas pessoas se indignaram pela agressão sofrida por sua esposa, como se uma mulher não tivesse o direito de raspar a cabeça, se ela quisesse. Imaginemos que se esse comediante fizesse gracinha ou ofensa a uma mulher que se apresentasse publicamente sem blusa, com o peitos de fora e seu marido reagisse da mesma forma que Will Smith, esse comediante estaria dizendo que as mulheres não têm o direito de se apresentarem carecas ou com os peitos de fora. Para esse comediante, somente os homens têm esse direito!!! Quanta hipocrisia!!!

No Brasil, há crianças morrendo de fome, há corrupção generalizada, há genocício nas terras indígenas, quilombolas e favelas, há violência policial e militar, há aberrações políticas e jurídicas, porém a ONU não tem se manifestado contundentemente contra os crimes de lesa-humanidade praticados nessa colônia. Para quê e para quem serve a ONU? 

 

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