terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

LEITURA DE UM POEMA-CALEIDOSCÓPIO, DE FERNANDO PESSOA

                                                                                       Lucilene Gomes Lima

 

                                       Saudade dada

Em horas inda louras, lindas

Clorindas e Belindas, brandas,

Brincam no tempo das berlindas,

As vindas vendo das varandas,

De onde ouvem vir a rir as vindas

Fitam o fio as frias bandas.

 

Mas em torno à tarde se entorna

A atordoar o ar que arde

Que a eterna tarde já não torna!

E em tom de atoarda todo o alarde

Do adornado ardor transtorna

No ar de torpor da tarda tarde.

 

E há nevoentos desencantos

Dos encantos dos pensamentos

Nos santos lentos dos recantos

Dos bentos cantos dos conventos...

Prantos de intensos, lentos, tantos

Que encantam os atentos ventos.

                   

Ao iniciarmos a leitura do poema “Saudade dada”, de Fernando Pessoa, é possível percebermos um  intenso ritmo melódico, aliás, esse ritmo já se faz presente antes de a poesia tomar corpo, no próprio título do poema, através da alternância entre a consoante sonora /d/ e a consoante surda /s/.  Ainda que se faça uma primeira leitura desatenta à mensagem que o poema encerra, a musicalidade não passa despercebida. Como exemplo, note-se o eco na repetição da sílaba /das/ no final de todos os versos da primeira estrofe.

Além da musicalidade, o poema também é construído por inúmeras associações no plano semântico.  As palavras horas, louras no primeiro verso levam à sequência: louro – dourado – sol – luz do sol o que nos possibilita interpretar metaforicamente as horas inda louras como horas ainda banhadas pela luz do sol. A aliteração da consoante /l/, sonoramente branda, nas sequências louras, lindas, Clorindas/berlindas dá à estrofe um tom de doçura, fluidez, leveza. O adjetivo lindas prolonga-se no interior dos substantivos Belindas, berlindas intensificando e renovando o ritmo melódico da estrofe. É interessante observar também que esses substantivos sugerem um tempo passado e, num contínuo exercício de musicalidade, expressam na repetição de suas sílabas finais (indas), juntamente com as finais de outras palavras (lindas, vindas), um sentimento nostálgico, quase à imitação de um suspiro, pelo prolongamento das sílabas.

Apesar do tom nostálgico suscitado por alguns nomes, o compasso/andamento da estrofe não é lento, os verbos brincam, vendo, ouvem, vir, rir, fitam indicam ação, sentido, movimento. A presença reiterada dos fonemas consonantais e vocálicos através de ecos e aliterações intensifica as sensações. A sucessão de vogais abertas e claras /e/ /o/ /a/ /i/ está em harmonia com a ideia transmitida na estrofe, de um momento do dia ainda banhado pela luz solar.

Na segunda estrofe, a presença da conjunção mas  no primeiro verso transmite uma clara indicação da ruptura a ocorrer no âmbito do sentido e também no ritmo melódico. O tom nostálgico se espraia. Nos primeiros versos apresentam-se as sinestesias (associações fonético-semânticas de sensações): “O ar que se entorna a atordoar”, “ar que arde”; “ar de torpor”; “adornado ardor”, “eterna tarde” (nessa última, note-se a possibilidade que se desdobra: terna tarde). Verifica-se também novamente o prolongamento de uma palavra (ar) em outras: atordoar, arde. Ao verbo arde, no segundo verso, agrega-se um serial de combinações em todos os demais versos da estrofe, sejam contidas em outras palavras, sejam em formas derivadas: tarde, atoarda, alarde, ardor, arda, mantendo a mesma unidade no sentido. Esse recurso é amplamente significativo, pois constrói a sugestão musical do poema através do eco das palavras e intensifica o sentido da ideia comunicada na estrofe, criando um farto paralelismo. Essa  brincadeira, pode-se dizer, com a escolha das palavras ainda se repete em “adornado”. Verbos como entorna, torna, transtorna e o particípio adornado, carregam outros, misturando os sentidos. Em “entorna”, tem-se torna, orna; em “torna”, orna; em “transtorna”, tem-se torna, orna e em “adornado”, tem-se orna e ornado.

O conjunto dos verbos empregados na segunda estrofe indica uma sintonia com uma sensação de languidez, de amolecimento, mormaço: entorna, atordoar, transtorna, arde. O mesmo se verifica com as imagens: eterna tarde, tarda tarde. Pode-se pressupor ainda uma sugestão sutil no verso “Que a eterna tarde já não torna”, em que primeiramente a negativa “não torna” remete à definição daquilo que não volta (a tarde faz parte do percurso do tempo e o tempo passado não retorna), mas ganha uma interpretação nova se ligado ao sentido de se restabelecer de um desfalecimento – a tarde desfalece. Nesse caso, ocorre uma figuração de um período de tempo através da atribuição de uma qualidade que não lhe é própria. O último verso da estrofe: “No ar de torpor da tarda tarde” leva a uma associação que pode nos definir o momento descrito pelo poeta. Para tal, é necessário ler o verso em um novo arranjo, isolando a última sílaba do substantivo torpor, encadeando-a às  palavras finais do verso: “torpor da tarda tarde”.

A terceira estrofe traz novamente o jogo das palavras dentro das palavras desencantos, encantos, recantos, cantos, encantam, cantam, ocasionando o eco das sílabas no interior e no final das palavras dos versos.

Encontra-se, ainda, o efeito paronomástico (semelhança na forma e oposição no sentido) na palavra “cantos” que pode ter o sentido de lugar em associação com “recantos”, como também o sentido musical. A repetição da consoante oclusiva surda /t/ associa-se com as ideias de fechamento (convento); pouca luz (cantos, recantos); obscuridade (nevoentos). No verso “Nos santos lentos dos recantos”, a aparente desordem sintática é proposital para possibilitar o cavalgamento dos versos: “recantos/Dos bentos cantos dos conventos”, sendo que a palavra “cantos” perde a sua associação com “recantos”, em indicação de local, e passa a ser um substantivo qualificado pelo adjetivo “bentos”. Os versos finais da estrofe trazem um paradoxo nos “prantos/Que encantam” e uma personificação em “atentos ventos”, enriquecendo simultaneamente o plano sensorial e conceitual do poema.

Retornando ao poema a partir do seu título, pode-se considerar que apesar da palavra Saudade, o poema se constrói com todos os versos no presente e o título Saudade dada reforça o sentido de uma saudade presente. Menos que um sentimento saudosista do passado, o que parece ser transmitido pelo poema é o tom nostálgico que o entardecer suscita, daí a Saudade dada, uma saudade que não é obrigatoriamente de um tempo, mas uma sensação que o entardecer transmite. O ritmo nostálgico é intensamente reforçado pelas aliterações que sugerem uma música suave, transmitindo-nos uma sensação de embalo pelas palavras, a exemplo do verso: “As vindas vendo das varandas”. É de se notar ainda que o próprio ritmo de cada estrofe dá a gradação das horas do evoluir da tarde. Dessa forma, a poesia vai sendo construída por estágios: primeira estrofe – as horas inda louras; segunda estrofe – a tarde se encaminhando para a noite, a languidez do ar que se entorna a atordoar, o torpor; terceira estrofe – a chegada da noite estabelecendo a obscuridade, o fechamento (recantos, conventos). É oportuno lembrar que a escolha de palavras como “convento’, “bentos”, “cantos” numa relação paradigmática (associativa, correlacional) pode representar a hora que marca a chegada da noite (seis horas), momento em que se começa a entoar cantos nos retiros religiosos, mas sempre é possível buscar outras interpretações, pois a riqueza de um texto poético como esse parece não ter fim. As releituras não exaurem sua mensagem, ao contrário, fazem surgir mais e mais possibilidades interpretativas, o que nos permite compará-lo a um caleidoscópio, o aparelho que, por certa disposição de espelho, cria inúmeras figuras.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

EÇA DE QUEIROZ E O SÉCULO XIX, XX e XXI

                                                                                     Lucilene Gomes Lima


Viana Moog escreveu em 1938 a biografia intitulada “EÇA de QUEIRÓS E O SÉCULO XIX”, procurando focalizar o que de mais característico ocorreu na vida e na carreira do autor português nesse século. Das páginas de seu texto depreendemos especialmente que a vivência de Eça impregna sua literatura. Moog afirma na introdução da biografia: “[...] Os seus livros estão cheios de recordações de países, cidades e vilas onde andou peregrinando [...]” (1966, p. 11). Essas recordações dizem muito do que representou o século XIX para a cultura humana e para Eça particularmente.

A galeria de personagens vem de Coimbra, com sua gente de todas as partes e de todas as classes (fidalgos e burgueses, lisboetas e transmontanos, ricos e pobres), na descrição de Moog. É a cidade portuguesa cuja classe intelectual e artística insufla as ideias revolucionárias do século XIX em Portugal, provocando o conservadorismo lisboeta na “Questão Coimbrã”; vem de Lisboa e suas pasmaceira burocrática, retrógrado bacharelismo, franco casuísmo e oportunismo; do Oriente, onde Eça inspira-se com a observação da vida prática, despojando-se do academicismo coimbrão e lisboeta, observando, a cada viagem, em cada transporte, tipos particulares, exemplares humanos; de Havana, onde exerceu carreira consular e resistiu a transigir em relação aos direitos humanos dos chineses, ali transformados em escravos nas plantações de tabaco, como o foram os nordestinos na Amazônia na monocultura da borracha; dos Estados Unidos e sua diretriz inescrupulosa da ganância; de New Castle, cidade inglesa constituída em centro industrial pela produção de carvão e ferro em meados do século XIX, respirando trabalho em todos os setores de sua economia; vem, por fim, de Paris onde presencia a espetaculização da modernidade e o vazio de sua vida mundana.

O conto “Civilização”, de Eça de Queiroz, transformado no romance “A cidade e as serras”, é parte do conjunto de obras que o autor denominou “Cenas da vida real”, que começou a escrever antes de sua morte, tendo sido publicado postumamente. O texto é narrado por Zé Fernandes, personagem amigo do protagonista, Jacinto, o qual “nasceu num palácio com quarenta contos de renda em pingues terras de pão, azeite e gado” (1996, p. 50). Sem os preâmbulos e os detalhamentos do romance, o conto introduz diretamente as cenas de Jacinto em sua rotina diária de vida farta e privilégios modernos, para tanto, cercando-se de aparelhos, aos olhos do século XXI já completamente ultrapassados: o telégrafo Morse, a máquina de escrever, o fonógrafo, o telefone, o teatrofone, denominados pelo narrador “facilitadores do pensamento”, imprimindo no século XIX o mesmo sopro de modernidade civilizatória que hoje nos possibilitam o telefone celular, as redes sem fios, os eletrônicos, enfim. Naquele século, assim como posteriormente, a crença do ser humano, ilustrada no conto, é de que as máquinas facilitam a vida. Jacinto é cercado de utilidades por todos os lados, em sua sala de estudo, de banho, no lavatório. Mas, ao mesmo tempo em que tenta tirar proveito de todos os objetos avançados que tem a seu dispor, Jacinto é frustrado por uma série de contratempos: o fonógrafo dana-se a repetir a mesma reprodução de voz incessantemente: “Maravilhosa invenção! Quem não admirará os progressos deste século” (1996, p. 54), o peixe do jantar trazido em bandeja pelo ascensor emperra no meio do caminho, sendo necessários pedreiros com alavancas para retirá-lo, a torneira com jato de água a cem graus começa a fumegar e estrondar descontroladamente, fazendo todos fugirem. Tudo pode parecer caricatural, apesar de Eça ter se baseado em fatos ocorridos com o seu amigo Eduardo Prado. Comparado com a atualidade, não é muito diferente do sistema GPS que nos leva para onde não queremos ir, da comunicação em rede que, parecendo ampliar nossa liberdade, começa a se voltar contra nós, restringindo nossa privacidade, pondo nossos dados à disposição de todas as fraudes, dos caixas eletrônicos que nos irritam diariamente com a leitura do chip que não funciona, impedindo-nos de realizar uma operação ou de ter acesso ao nosso dinheiro, mas facilitando para os ladrões saqueá-los a hora que lhes for conveniente. Convivemos com os sistemas e os aplicativos fora do ar, o apagão das redes. Até nosso orgulho super moderno de termos máquinas tão avançadas que se autodirijam pode nos surpreender. Que garantia teremos de que ao abrir a geladeira e a ela falar conosco, dizendo-nos o que necessita, a qualquer momento também não possa esgotar nossa paciência com sua objetividade de máquina ou desregular-se, fazendo o que não foi programada para fazer. Como dizia o narrador de “Civilização” naquele ultrapassado século XIX: “[...] Todos esses fios mergulhados em forças universais, transmitiam forças universais. E elas nem sempre, desgraçadamente, se conservam domadas e disciplinadas!” (1996, p. 54).

Assim como ironiza a imprevisibilidade funcional das máquinas, Eça ironiza o acúmulo, o excesso de coisas de que nos cercamos, às vezes sem usufruirmos delas. Esse é outro dilema do personagem Jacinto, ocupar-se de coisas de que ele não precisava para viver ou até para viver bem: “[...] Nunca recordo sem assombro a sua mesa, recoberta toda de sagases e sutis instrumentos para cortar papel, numerar páginas, colar estampilhas, aguçar lápis, raspar emendas, imprimir datas, derreter lacre, cintar documentos, carimbar contas! Uns de níquel, outros de aço, rebrilhantes e frios, todos eram de manejo laborioso e lento: alguns com as molas rígidas, as pontas vivas, trilhavam e feriam: e nas largas folhas de papel Whatman em que ele escrevia, e que custavam quinhentos réis, eu por vezes surpreendi gotas de sangue de meu amigo. Mas a todos ele considerava indispensáveis para compor as suas cartas (Jacinto não compunha obras) assim como os trinta e cinco dicionários, e os manuais e as enciclopédias, e os guias, e os diretórios, atulhando uma estante isolada, esguia em forma de torre, que silenciosamente girava sobre o seu pedestal, e que eu denominava o Farol [...]” (1996, p. 53).  

Como no século XIX, no século XXI ainda temos muitas coisas para fazermos uma coisa só, ainda convivemos com coisas que se desdobram, multifuncionais, multifocais, 3D, 4D, 3G, 4G... Nossa crença de que engenhos mais modernos facilitarão tudo torna-nos cada vez mais dependentes deles. No século XX, os cavalos conviveram com os automóveis nas ruas das metrópoles emergentes. O cinema surpreendeu quem ainda não era capaz de distinguir a imagem reproduzida por equipamento e a imagem do real, o bonde igualmente surpreendeu quem não concebia um veículo àquela velocidade. No fundo, a civilização continua a conviver com o velho e o novo, escondendo, às vezes no fundo dos oceanos, o que descarta em toneladas. Já começamos a perceber que nosso desenvolvimento e progresso, dependente que foi da queima de carvão, extinguindo muita vida vegetal, poluindo a atmosfera com combustível fóssil, pode ser também nossa regressão. Que proteção real temos contra furacões, maremotos, terremotos, mudanças climáticas abruptas? Que proteção (quase infalível) contra os milenares fenômenos naturais?

O conto de Eça chama-se “Civilização”, não “Civilização e rusticidade”, mas a narrativa é dividida entre a civilização urbana e a vida rústica. Não seria o conto uma reflexão sobre o que é realmente civilização? No texto estendido, que posteriormente se denominou “A cidade as serras”, o personagem Jacinto estava certo, na primeira parte da narrativa, que se passa na cidade, que vivia uma vida superior: “[...] eu, civilizado, sou mais feliz que o incivilizado, porque descubro realidades do Universo que ele não suspeita e de que está privado. Aplica esta prova a todos os órgãos e compreendes o meu princípio. Enquanto à inteligência, e à felicidade que dela se tira pela incansável acumulação das nações [...] Claro é portanto que nos devemos cercar de Civilização nas máximas proporções para gozar nas máximas proporções a vantagem de viver [...]” (1996, p. 11). A certeza de Jacinto, de repente, começou a se abalar no meio da narrativa. Ele já não vivia, empalidecia, prostrava-se em estado vegetativo e procurava alento em alguma novidade: “Que maçada! Que maçada! Claramente a vida era para Jacinto um cansaço – ou por laboriosa e difícil ou por desinteressante e oca. Por isso, o meu pobre amigo procurava constantemente juntar a sua vida novos interesses, novas facilidades. Dois inventores, homens de muito zelo e pesquisa, estavam encarregados, um em Inglaterra, outro na América, de lhe noticiar e de lhe fornecer todas as invenções, as mais miúdas [...]” (1996, p. 63). Na segunda parte da narrativa, vivendo na serra, Jacinto se surpreende com as coisas que não notava, como o céu estrelado, e desabafa para o amigo Zé Fernandes que só o ser humano pode desiludir-se com a vida: “É no máximo de civilização que ele experimenta o máximo de tédio. A sapiência, portanto está em recuar até esse honesto mínimo de civilização que consiste em ter um teto de colmo, uma leira de terra e o grão para nela semear [...]” (1996, p. 87). É o que muita gente nesse início de século XXI não tem.

Talvez o desapontamento com os rumos da civilização que havia se tornado tão particular no espírito de Eça no final do século XIX faça parte hoje de um conflito muito mais abrangente. Se a obra de Eça de Queiroz foi uma tradução muito aproximada do século XIX, ela não deixa de anunciar o que também iria se passar no século XX e nesse princípio de século XXI, à medida que muitas coisas ali engendradas se acentuaram. Constatemos algumas afinidades através das palavras de Moog: “No conjunto de sua obra viveria somente o século XIX, nos seus aspectos predominantes, nos seus defeitos como nas suas virtudes, e até nos seus transitórios desfalecimentos. Do século XIX vir-lhe-ia o cientificismo, o naturalismo, a irreligiosidade, o gôsto pelos problemas psicológicos e sociais. Dêle o narcisismo, o orgulho da razão, o materialismo, a suficiência, a fatuidade, o cinismo, o satanismo, a leviandade, a ligeireza, a procura desesperada de originalidade, a falta de originalidade, a arrogância, a paixão pelo bizarro, o dandismo, e no seu caso o grande desencanto do fim” (1996, p. 69). O que Eça já apontava no seu conto escrito sobre a atmosfera do décimo-nono século, o século XX vivenciou no movimento Contracultura, o século XXI experimenta na sua saturação do discurso ecológico.

Existem interpretações dos textos de Eça de Queiroz publicados postumamente que conjecturam sua retomada de um Portugal arcaico, histórico. De qualquer forma, a fuga do personagem Jacinto e de seu criador é a nossa fuga contemporânea quando buscamos alternativas de respiração fora das cidades, de seu ar poluído, opressor, sua superlotação e violência, quando buscamos uma alternativa à alimentação fabricada em série, à locomoção impedida, as atitudes compulsivas. Quem acompanha a trajetória de vida de Eça narrada por Moog compreende que ele tenha se desvanecido da crença numa civilização e tenha projetado na vida sem pretensões da serra o último reduto de esperança.

*Publicado no blog em 0.5.05.2019

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

AMIZADES ROMPIDAS


I

 

As palavras podem ferir, ofender ou magoar os sentimentos de pessoas que vivem ao nosso redor. Também elas podem ser alentos, estímulos ou princípios pedagógicos que contribuem para o desenvolvimento da consciência, inteligência e do conhecimento pessoal. As palavras ofensivas podem tornar uma pessoa próxima infeliz, magoada por toda a sua vida. As palavras estimulantes podem tornar as pessoas próximas felizes por toda vida.

II

Charles Johnson , professor de inglês, descendente de barbadianos, chegou à cidade de Manaus. Ele havia lido em um livro de autor inglês que a maioria da população do Amazonas era descendente de inúmeros povos nativos que lutaram contra os colonizadores portugueses. Mister Jonhson viajou para outras cidades situadas no interior do Amazonas. Lecionou inglês para estudantes e professores das escolas municipais. Em uma de suas aulas, ele comentou sobre a informação que um autor inglês declarara sobre a descendência nativa da maioria da população do Amazonas. Alguns professores ficaram revoltados. Disseram que “eles nada tinham a ver com os povos que viviam na floresta.” O professor desculpou-se e disse que, com certeza, o autor do livro não conhecia, com  profundidade, a cultura da população do Amazonas. Alguns professores romperam amizade com o professor Charles Johnson.

 

III

Paulo Nascimento nasceu no Amazonas, numa cidade à beira do rio Amazonas. Seu pai, Manoel Nascimento, era português, comerciante próspero, amigo de índios, mamelucos, caboclos, negros, mulatos e de estrangeiros ou de descendentes de turcos, libaneses, judeus, árabes,  barbadianos, colombianos, peruanos e de outras gentes que viviam no Amazonas. Paulo Nascimento pensava em conhecer Portugal algum dia, mas o destino ou a sorte acabou fixando-o no solo amazônico. O destino chamava-se Lindalva, uma moça mulata, filha de um paulista e de uma maranhense, gente extremamente trabalhadora. Paulo e Lindalva tornaram-se amigos, namorados e, por fim, noivos. Paulo Nascimento comunicou aos amigos que iria casar-se com Lindalva. A maioria desses amigos parabenizaram-no, com exceção de Joaqumi Santana, filho de outro casal de portugueses. Joaquim perguntou, em tom de reprovação: “Você vai casar com essa mulher?”. Paulo Nascimento sentiu-se ofendido e respondeu: “Sim, qual é o problema? “Mas, ela é mulata”, respondeu Joaquim. Desde então, Paulo Nascimento não falou mais com Joaquim e deixou de frequentar a casa dos pais de Joaquim. Também, desistiu de conhecer Portugal.  

 

IV

 

Pedro Menezes nasceu no Rio de Janeiro. Ele era mulato. Filho de mãe branca e pai negro. Quando criança, Pedro gostava de sua mãe e de seu pai. Na verdade, ele adorava seu pai. Na adolescência, sua admiração pelo pai decresceu porque descobriu  que  ele era intolerante com seus amigos. Pedro Menezes conheceu Laura, uma estudante de medicina. Ela era branca, inteligente e estudiosa. Pedro e Laura namoraram por três anos. Pedro tornou-se escrivão da polícia. Também tornou-se crítico da sociedade em que vivia e extremamente rigoroso e competente profissionalmente. Não admitia injustiça de qualquer ordem para com os oprimidos da sociedade. Angariou, por isso, muitos inimigos na repartição onde trabalhava. Amoroso com seu pai na infância, tornou-se amargoso com ele por causa de sua atitude desrespeitosa com Gina, a sua nova namorada. Ela era negra e também amiga, carinhosa e inteligente. Um dia, seu pai lhe perguntou pela Laura. Pedro respondeu que ele e Laura romperam relações. Seu pai lhe perguntou se estava namorando “essa nega”. Pedro Menezes percebeu o tom preconceituoso de seu pai com relação à Gina. Pedro ficou mudo, olhou para o pai alguns instantes como se duvidasse que ele era realmente negro. Com certa rispidez, Pedro Menezes respondeu: “Sim, senhor meu pai, ela é minha nova namorada e vou me casar com ela, mesmo que o senhor não concorde”. Depois disso, Pedro Menezes passou a evitar seu pai e não falou mais com ele.

Logo, Pedro Menezes casou com Gina. Eles passaram a morar numa casa ao lado da casa dos pais. Muitas vezes, Pedro chegava tarde. O senhor Lourenço Menezes costumava sentar na varanda para observar a chegada do filho. Numa noite, quando seu filho chegou, o senhor Menezes chamou-o. Em tom delicado e com muita cautela, falou com o filho que ele não devia deixar Gina sozinha até tarde da noite. Pedro Menezes ficou mudo. Observou o semblante de seu pai por alguns instantes e afastou-se para a sua residência.

 

Manaus, Janeiro 2023

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

ALIENAÇÃO ESTRUTURAL EM PAÍSES COLONIZADOS

 


 

ALIENAÇÃO ESTRUTURAL EM PAÍSES COLONIZADOS

                                                              Isaac Warden Lewis*

 

Os ideólogos capitalistas colonialistas sabem muito bem, mas fingem ignorar, que a alienação é estrutural nas sociedades colonizadas, vinculadas à ordem capitalista dependente. Isso significa dizer que tanto as classes favorecidas quanto as classes desfavorecidas são alienadas para possibilitar as injustiças, as desigualdades, a cultura da ignorância, o regime de propriedade privada, a sacralização do mistério, o desprezo pela ciência e a naturalização da pobreza material e intelectual da maioria de homens e mulheres que vivem nos países colonizados.

As Ordenações dos reis de Portugal e as bulas dos papas da Igreja Católica Apostólica Romana continham os preconceitos, o racismo e a xenofobia estruturais que os invasores europeus e seus descendentes deveriam adotar contra os seres humanos que, por ventura, fossem encontrados nos territórios invadidos da América, África e Ásia. Por sua vez, os capitalistas europeus financiaram a fabricação de embarcações para descoberta de novas terras e a invenção de armas de fogo para que os invasores se protegessem dos nativos que, por ventura, tentassem impedir a exploração dos recursos agrícolas e minerais e a espoliação da sua força de trabalho. É evidente que as classes privilegiadas europeias (capitalistas, os reis e as suas cortes, os dignatários eclesiásticos) esperavam auferir grandes lucros através das ações determinadas para as classes favorecidas (latifundiários) e desfavorecidas nas novas terras. Era através da violência que as classes favorecidas agiam contra as pessoas das classes desfavorecidas (nativos da América, África e Ásia) obrigando-as a trabalhar à força nas terras açambarcadas pelos invasores, impondo nessas terras as normas de propriedade criadas por capitalistas europeus a partir do século XVI.

No texto “Manifesto do Partido Comunista”, Marx e Engels declararam que “A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes”, /”Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada [...]”

Os autores informam que, na época moderna, a burguesia e o proletariado confrontam-se, para defender seus respectivos interesses. Eles deixam claro que a burguesia, através da grande indústria, ampliou seus negócios em todo mundo, determinando os modos e as relações de produção, impondo formas de governo, mais precisamente, de administração  pública que beneficiam seus interesses. Desse modo, podemos inferir que a invasão do território brasileiro pelos portugueses, a apropriação das terras dos nativos, os genocídios praticados contra homens, mulheres e crianças nativos da América e da África, a escravização desses nativos atenderam os interesses gananciosos não só de colonos portugueses como das classes privilegiadas europeias que financiaram esses empreendimentos.

A proclamação da independência (1822), a abolição da escravatura (1888) e a proclamação da república (1889)  não aboliram os modos e as relações de produção  implantados pela colonização portuguesa a partir de 1500, haja vista que as lideranças políticas das classes favorecidas promulgaram em 1850, a Lei da Terra que reiterava que a aquisição de terras no Brasil deveria ser realizada através de compra diretamente  do Governo Imperial., impedindo, desse modo, que os imigrantes pobres e as pessoas das classes desfavorecidas pudessem adquirir terras  para produzir suas condições de vida, ao invés de se submeterem ao trabalho nas terras dos latifundiários.

Por sua vez, os políticos e militares, comprometidos com os interesses das classes favorecidas luso-brasileiras e das classes privilegiadas das metrópoles capitalistas europeias, continuaram administrando o país independente como se fosse uma feitoria de sua propriedade, mantendo suas ações e ideias medievais de dominação e de exploração das classes desfavorecidas.  Os políticos continuaram a administrar a propriedade e a terra privadas em favor das classes possuidoras internacionais. Os militares e as forças de segurança (milícia, guarda nacional) continuaram considerando as pessoas das classes desfavorecidas como inimigas estrangeiras da nação, sem direitos, com a obrigação de cumprirem os deveres estabelecidos para elas. Os militares e as forças de segurança constituíram-se em forças mercenárias para garantir a lei e a ordem em favor das classes possuidoras nacionais e internacionais.

 

.............

Janeiro 2022.

 

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

ESCOLA OU ESTREBARIA?

                                                                           Isaac Warden Lewis

Numa manhã do ano de 199..., em um município à beira do rio Amazonas,  o senhor Francisco Medeiros acordou mais intolerável e indignado do que de costume. Sua frágil paciência desaparecera. Ninguém conseguia encontrar explicação plausível para tal comportamento de intolerância radical. Isso significava que todos os familiares iriam sofrer mais ironias, sarcasmos e até xingamentos por qualquer coisa. A primeira vítima, ou melhor, a segunda vítima foi sua esposa de sessenta anos, dona Maria Medeiros que ousou criticá-lo por se aborrecer com o neto, Francisco, a primeira vítima que fora à padaria comprar pão e não conferiu o troco que lhe deram. Ao ser criticado por isso, Francisco Neto quis discutir com o avô, dizendo que a moça do caixa lhe dera o troco certo porque ela havia feito o cálculo na máquina de calcular.  O senhor Francisco Medeiros deu uma gargalhada e chamou o neto de quadrúpede ignorante, pois não sabia que animal era. A família ficou arrasada. Dona Maria Medeiros queria auxiliar ou defender seu neto e disse ao senhor Francisco Medeiros que ele não precisava ser tão intolerante por causa de um trocozinho de nada. Foi, nesse momento, que as filhas, os filhos, as netas e os netos perceberam que a paciência do senhor Francisco Medeiros havia se evadido completamente. Ele virou-se para a esposa e disse que ela era melhor do que o neto porque ela sabia que animal era: uma hipopótama sem cérebro. Nenhum filho, nenhuma filha, nenhum neto, nenhuma neta ousaram interferir ou criticar o senhor Francisco Medeiros.

É preciso entender as circunstâncias que levaram o senhor Francisco Medeiros à situação de paciência negativa com relação ao neto, à moça que devolvera o troco errado e à esposa que lhe cobrava tolerância. Algumas semanas antes, ele participara de uma reunião de pais e mestres na escola dos  netos e a professora de Maria Neta lhe revelou que sua neta, na sexta série, não conseguia aprender os pronomes pessoais, os substantivos e os adjetivos da língua portuguesa e, por isso, ela não conseguia fazer uma simples redação, mas ela teria de passar a menina de ano porque a orientação da Secretaria de Educação era para “não reprovar nenhum aluno ou nenhuma aluna para o bem das crianças”. O senhor Francisco Medeiros foi o único responsável que protestou pela decisão absurda da Secretaria de Educação.

O senhor Francisco Medeiros voltou para casa meio intolerante, disse que ele tinha aprendido a ler, escrever e calcular muito bem na escola primária em uma escola pública e não conseguia entender como professores, professoras, pedagogos, pedagogas e outras autoridades educacionais diziam não ser importante os alunos e as alunas aprenderem o mínimo que ele aprendera bem quando era criança sem que os professores e as professoras daqueles tempos exprimissem tanto blá, blá, blá sobre ensino e aprendizagem.

O senhor Francisco Medeiros achava estranho que mães e avós achassem bonito quando uma menina ficava grávida, tinha filhos com treze ou quatorze anos sem ter aprendido a lavar suas roupas, lavar louças, cuidar de uma casa, cuidar de si, quanto mais cuidar de uma criança e, na escola, não conseguia aprender as classes gramaticais da sua língua. Ele começou a criticar autoridades educacionais, as quais informaram que a educação seria reformada para dar ensino técnico aos jovens, os quais não aprenderam a ler e nem a escrever. Concluiu dizendo que tais autoridades mereciam ser premiadas pelo seu doutoramento em burrice, estupidez e ignorância educacional precoce.

A seguir, o senhor Francisco Medeiros fez a seguinte revelação. “No outro dia, fui à cidade, entrei numa loja, fiz algumas compras e quando me dirigi ao Caixa para pagar, dei uma nota à funcionária que pegou uma máquina de calcular para saber quanto ela deveria me devolver.  O cálculo era muito simples. Achei o uso da máquina tão fútil quanto os neurônios que essa moça tinha em sua cabeça. Ontem fui a uma loja neste bairro, fiz uma compra, dei uma nota para pagar e o dono da loja pegou também uma máquina de calcular para saber quanto ele deveria me devolver de troco. Sinceramente, não aguento mais encontrar tantas pessoas com suas mentes com neurônios atrofiados por falta de uso. O que devemos esperar de uma país coalhado de analfabetos funcionais e de doutores analfabetos?”

O senhor Francisco Medeiros estava furioso. Revelou que aprendera a tabuada aos oito anos, aprendera a ler aos sete anos com sua mãe e não fora para nenhuma creche. Disse que se tivesse ido a uma creche, com certeza, ele seria mais um hipopótamo naquela casa. Declarou que não tinha certeza se aquela era uma casa para seres humanos ou uma estrebaria com animais que não conseguiam aprender contas, nem aprender a ler e a escrever e nem a pensar. .Afirmou que estava pensando em comprar capim para os animais que viviam naquela casa. Criticou mais uma vez as autoridades educacionais, dizendo que elas deveriam voltar para uma escola séria para seres humanos, pois, agora, inventaram de ensinar crianças e jovens através de jogos e brincadeiras, não aprenderam que temos hora e tempo para tudo na vida. Tempo para brincar, tempo para trabalhar, tempo para estudar e tempo para divertimento.

 

Manaus, novembro 2021 

sábado, 12 de novembro de 2022

ELEIÇÃO DIALÉTICA EM 2022 NO PAÍS COLONIZADO

                                                                                                                 Isaac Warden Lewis

 

A disputa eleitoral em 2022 no Brasil revelou-se pedagogicamente dialética. A máquina governamental da mentira, vigarice e do estelionato que desgovernava o país desde 2019 foi suplantada pela ânsia de verdade, justiça, liberdade, igualdade e fraternidade da maioria de homens e mulheres que vivenciaram práticas de desrespeito, desonestidade e traição a princípios basilares da sociedade brasileira.

É verdade que os cidadãos que se autodenominam conservadores não sabem o que esse termo realmente significa. O que querem conservar, que tradição aspiram conservar? Os conceitos importados de países da Europa Ocidental geralmente são distorcidos ou atribuídos significados completamente diferentes dos usados em países desenvolvidos. Em países colonizados, como o Brasil, a tradição das classes favorecidas é restringir a compreensão de conceitos que poderão ser-lhes desfavoráveis. Um exemplo disso é de um colunista articulista que qualificou o movimento terrorista do governo federal de “conservador revolucionário”. Esse articulista parece não saber o que seja “um conservador” e nem sabe o que seja “um revolucionário”. Uma outra confusão muito frequente  é designar as “confusões débeis mentais” de políticos e governantes atuais de “fascistas” ou “nazistas”. Esses políticos e governantes são herdeiros de bandidos que ocuparam as terras dos nativos que viviam no território achado casualmente por navegantes portugueses em 1500. E desde então, esses aventureiros espoliaram os nativos de suas terras, assassinaram covardemente milhares e milhares de nativos, nativas e suas crianças, escravizaram os sobreviventes e, além disso, adotaram práticas destrutivas contra a natureza, a fauna, a flora, os rios e os mares em nome da civilização, o que significou, na verdade, a adoção de modos de produção financiados por capitalistas europeus.

Depois da independência de Portugal em 1822, políticos, letrados e militares luso-brasileiros continuaram administrando o território a serviço de metrópoles que planejaram o modo e a relação de produção do país chamado Brasil, que nunca revogou os conteúdos racistas, discriminatórios e preconceituosos da cultura medieval, contidos nas Ordenações elaboradas pelos reis de Portugal no século XVI.

Entretanto, do século XIV ao século XIX, a Europa passou por muitas revoluções: a Comercial, a Intelectual (a Renascença, o Iluminismo), a Religiosa, a Industrial (Inglaterra), a Social (Inglesa e Francesa) . Nesse período, o que vigorou no Brasil foi o domínio e a expansão do latifúndio,  a sociedade escravagista, a violência colonial contra nativos da América e da África, ou seja, a espoliação das terras dos nativos e a exploração violenta da força de trabalho dos nativos  da América e da África. Na colônia portuguesa, os políticos, os letrados, os juízes, os militares , os latifundiários não tomaram conhecimento ou fingiram não tomar conhecimento das lutas dos Movimentos Populares na Revolução Francesa (1789) que aboliu privilégios, distinções, realizou reforma agrária, extinguiu a monarquia, condenando à morte na guilhotina o rei Luís XVI, a rainha Maria Antonieta e muitos latifundiários conservadores medievalistas. Fundou-se, então, a república moderna.

Em resumo, a vitória da Frente Ampla Democrática, liderada por Luís Inácio Lula da Silva, foi dialética porque seus eleitores exerceram o direito de destituir um desgoverno, que não respeitava os interesses e as necessidades da maioria da população como apregoavam os Movimentos Populares que realizaram a Revolução Francesa, seguindo os ideais políticos de Jean-Jacques Rousseau..

Para sabermos realmente o que são revolução, revolucionário e Movimentos Populares, podemos também estudar as Histórias da Revolução Russa de 1917, a Revolução Chinesa de 1949 e a Revolução Cubana de 1959. Nesses países, os autores de crimes políticos e peculatos são punidos e sumariamente executados, o que explica a raiva dos conservadores medievalistas brasileiros contra esses países.

 

 

 

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

IDIOSSINCRASIAS DAS CLASSES FAVORECIDAS LUSOBRASILEIRAS EM PAÍS COLONIZADO

                                                                                           Isaac Warden Lewis

O Senhor Roberto Jefferson, ex-deputado, advogado, declarou, ao ser preso em sua residência, que ele não poderia ser preso porque ele não era do PCC. Ele poderia também acrescentar que não era do CV, do PC ou do PCB ou de qualquer partido anticapitalista e não era morador em uma favela. Ao que parece, todos os letrados, como ele e o ministro da Justiça, Anderson Torres são sobreviventes do período colonial português, por isso, ignoram todas as revoluções (intelectuais, comerciais, industriais, sociais) ocorridas na Europa do século XIV ao XIX que aboliram privilégios, condenaram discriminações e preconceitos contra as classes desfavorecidas. Não me consta que esse Ministro da Justiça tenha, alguma vez, se dirigido a uma favela da periferia invadida para investigar a legalidade ou a constitucionalidade de tais operações policiais. Tais invasões policiais covardes afetam mais o prestígio do país no mundo do que uma revolta de um deputado e advogado com visões de mundo muito mais confusas do que as defendidas pelos terroristas do Taliban ou do Boko Haram e as atitudes guerrilheiras destes terroristas são mais coerentes e honrosas do que o exemplo vergonhoso assumido pelo advogado e ex-deputado Roberto Jefferson.  

No período colonial, os navegantes portugueses que acharam o território brasileiro, por acaso, chegaram em caravelas, trazendo canhões, mosquetes, arcabuzes para atirarem covardemente nos nativos desarmados da América e da África em nome de Cristo para se apropriarem de suas terras e explorarem sua força de trabalho. Nas caravelas, também vieram ouvidores, juízes e promotores do rei para garantir a justiça e a ordem na colônia e punir os nativos que se rebelassem contra as ordens do rei e do papa.    O que as faculdades de Direito têm ensinado, de fato, a advogados como Roberto Jefferson e Anderson Torres? Será que estudam ainda as Ordenações medievais, prenhe de preconceitos e discriminações, promulgadas pelos reis de Portugal no período colonial? Os advogados formados em faculdades fundadas, segundo o programa de ensino vigente no período colonial e medieval, poderiam, ao menos, ler bons livros de História universal, consultando os eventos históricos ocorridos do século XIV ao XIX, época em que vigorava, no Brasil, a cultura medieval portuguesa.