I
As
palavras podem ferir, ofender ou magoar os sentimentos de pessoas que vivem ao
nosso redor. Também elas podem ser alentos, estímulos ou princípios pedagógicos
que contribuem para o desenvolvimento da consciência, inteligência e do
conhecimento pessoal. As palavras ofensivas podem tornar uma pessoa próxima
infeliz, magoada por toda a sua vida. As palavras estimulantes podem tornar as
pessoas próximas felizes por toda vida.
II
Charles Johnson , professor de inglês, descendente de barbadianos, chegou à cidade de Manaus. Ele havia lido em um livro de autor inglês que a maioria da população do Amazonas era descendente de inúmeros povos nativos que lutaram contra os colonizadores portugueses. Mister Jonhson viajou para outras cidades situadas no interior do Amazonas. Lecionou inglês para estudantes e professores das escolas municipais. Em uma de suas aulas, ele comentou sobre a informação que um autor inglês declarara sobre a descendência nativa da maioria da população do Amazonas. Alguns professores ficaram revoltados. Disseram que “eles nada tinham a ver com os povos que viviam na floresta.” O professor desculpou-se e disse que, com certeza, o autor do livro não conhecia, com profundidade, a cultura da população do Amazonas. Alguns professores romperam amizade com o professor Charles Johnson.
III
Paulo
Nascimento nasceu no Amazonas, numa cidade à beira do rio Amazonas. Seu pai, Manoel
Nascimento, era português, comerciante próspero, amigo de índios, mamelucos,
caboclos, negros, mulatos e de estrangeiros ou de descendentes de turcos,
libaneses, judeus, árabes, barbadianos,
colombianos, peruanos e de outras gentes que viviam no Amazonas. Paulo
Nascimento pensava em conhecer Portugal algum dia, mas o destino ou a sorte
acabou fixando-o no solo amazônico. O destino chamava-se Lindalva, uma moça
mulata, filha de um paulista e de uma maranhense, gente extremamente
trabalhadora. Paulo e Lindalva tornaram-se amigos, namorados e, por fim,
noivos. Paulo Nascimento comunicou aos amigos que iria casar-se com Lindalva. A
maioria desses amigos parabenizaram-no, com exceção de Joaqumi Santana, filho
de outro casal de portugueses. Joaquim perguntou, em tom de reprovação: “Você
vai casar com essa mulher?”. Paulo Nascimento sentiu-se ofendido e respondeu:
“Sim, qual é o problema? “Mas, ela é mulata”, respondeu Joaquim. Desde então,
Paulo Nascimento não falou mais com Joaquim e deixou de frequentar a casa dos
pais de Joaquim. Também, desistiu de conhecer Portugal.
IV
Pedro
Menezes nasceu no Rio de Janeiro. Ele era mulato. Filho de mãe branca e pai
negro. Quando criança, Pedro gostava de sua mãe e de seu pai. Na verdade, ele
adorava seu pai. Na adolescência, sua admiração pelo pai decresceu porque
descobriu que ele era intolerante com seus amigos. Pedro
Menezes conheceu Laura, uma estudante de medicina. Ela era branca, inteligente
e estudiosa. Pedro e Laura namoraram por três anos. Pedro tornou-se escrivão da
polícia. Também tornou-se crítico da sociedade em que vivia e extremamente
rigoroso e competente profissionalmente. Não admitia injustiça de qualquer
ordem para com os oprimidos da sociedade. Angariou, por isso, muitos inimigos
na repartição onde trabalhava. Amoroso com seu pai na infância, tornou-se
amargoso com ele por causa de sua atitude desrespeitosa com Gina, a sua nova namorada.
Ela era negra e também amiga, carinhosa e inteligente. Um dia, seu pai lhe
perguntou pela Laura. Pedro respondeu que ele e Laura romperam relações. Seu
pai lhe perguntou se estava namorando “essa nega”. Pedro Menezes percebeu o tom
preconceituoso de seu pai com relação à Gina. Pedro ficou mudo, olhou para o
pai alguns instantes como se duvidasse que ele era realmente negro. Com certa
rispidez, Pedro Menezes respondeu: “Sim, senhor meu pai, ela é minha nova
namorada e vou me casar com ela, mesmo que o senhor não concorde”. Depois
disso, Pedro Menezes passou a evitar seu pai e não falou mais com ele.
Logo,
Pedro Menezes casou com Gina. Eles passaram a morar numa casa ao lado da casa
dos pais. Muitas vezes, Pedro chegava tarde. O senhor Lourenço Menezes costumava
sentar na varanda para observar a chegada do filho. Numa noite, quando seu
filho chegou, o senhor Menezes chamou-o. Em tom delicado e com muita cautela,
falou com o filho que ele não devia deixar Gina sozinha até tarde da noite.
Pedro Menezes ficou mudo. Observou o semblante de seu pai por alguns instantes
e afastou-se para a sua residência.
Manaus,
Janeiro 2023
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