quarta-feira, 2 de setembro de 2020

O ESTUDANTE E O ESTUDIOSO

                                                                                                           Isaac Warden Lewis

    Cláudia Pereira e Cláudio Pereira eram irmãos e estudavam em uma escola municipal. Suas atitudes e interesses eram diferentes. Moravam em uma casa grande, confortável. Seu pai, Senhor Cláudio Pereira da Silva, era artesão, produzia obras de arte e gostava de ler e era apaixonado por livros, em especial, livros que revelavam a história da ciência.

    A jovem Cláudia Pereira via os livros de seu pai como objetos, coisas como outras quaisquer. Todos os dias, ao retornar da escola, ela jogava sua pasta, contendo os livros, sobre uma mesa em seu quarto e só lembrava da pasta e dos livros no outro dia, na hora de ir para a escola. Mas ela sabia tudo sobre a programação de bailes, espetáculos e divertimentos que ocorreriam no final da semana. Conversava com suas amigas sobre a programação do final da semana e ficava sabendo quem iria e quem não iria. Depois disso, seu tempo era preenchido com a preocupação em aprontar o vestuário, sua aparência e preparar um repertório de informações para transmitir as suas amigas nos eventos semanais.

    O jovem Cláudio Pereira interessava-se pelos livros do seu pai. Estava sempre folheando um livro e escolhendo um para ler. Ao retornar da escola, arrumava seus livros e cadernos sobre a mesa e avaliava as tarefas escolares que deveria dar mais atenção. Sempre procurava ler sobre um assunto que este ou aquele professor abordaria na próxima aula. Quando ele se reunia com seus poucos colegas, todos discutiam e discorriam sobre um assunto de um livro que estavam lendo ou sobre os acontecimentos políticos do país ou notícias de guerra em algum país, ou ainda obras literárias de autores nacionais ou universais ou sobre a história da ciência.

    Sua irmã percebia essas reuniões com uma certa estranheza e tinha a impressão de que seu irmão e os seus colegas imaginavam estar numa sala de aula, cumprindo tarefas escolares sem a mínima necessidade de despender tal esforço. Ela se perguntava para que discutir sobre política, guerra, revolução.  religião, ciência ou história. Para Cláudia Pereira, bastava a compreensão de um conhecimento repassado por um sacerdote para a sua vida. Ela não entendia por que seu irmão insistia em dizer que o leitor deve fazer o esforço de aprender a construir um conhecimento da realidade e não simplesmente assimilar um conhecimento pronto da realidade.

    Numa noite, Cláudia Pereira preparava-se para ir a um baile com suas amigas. Ao passar pelo quarto do irmão, ela percebeu que ele estava lendo um livro como sempre. Ela lhe perguntou: ‘Mano, você não se diverte?”

    – “Quem lhe disse que eu não estou me divertindo.”, respondeu Cláudio Pereira.

 

 

 

Manaus, agosto, 2020

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