Isaac Warden Lewis
Alguns homens e algumas
mulheres chegaram à Ilha da Fantasia e
apropriaram-se dela. Fundaram uma vila
chamada Fartura. Nessa vila, esses homens e essas mulheres passaram a usufruir do
fruto da terra, construíram moradias, criaram condições de vida para si e seus
filhos.
Anos depois,
chegaram à ilha da Fantasia outros homens e mulheres. Não puderam ter acesso
aos bens materiais e culturais da Vila da Fartura por serem diferentes. Alguns
eram discriminados por serem mais claros ou mais escuros do que os primeiros
habitantes. Outros, por serem mais baixos ou mais altos. Outros, por virem de
um mundo distante. Outros, por serem
mais inteligentes ou menos inteligentes. Além disso, os primeiros habitantes
criaram um exército e uma legislação especial para
garantir seus privilégios na Ilha da Fantasia.
Por isso, os
estrangeiros, ou seja, os que chegaram depois, foram-se instalando nos charcos,
nos mangues, nas praias, vivendo em condições precárias. Suas casas eram feitas
de materiais frágeis. Não tinham muito o
que comer e não tinham onde produzir alimento. Desse modo, surgiu uma outra
vila chamada Miséria.
As duas vilas
prosperavam a seu modo. A riqueza
material e cultural da Vila da Fartura crescia rapidamente. Outrossim a pobreza
e a ignorância da Vila da Miséria desenvolviam-se de maneira espantosa.
Em resumo, a
população da Vila da Fartura tinha acesso à moradia decente, a uma boa
alimentação e ao trabalho gratificante. A população da Vila da Miséria não
tinha como atender as suas necessidades de moradia decente, alimentação básica
e de trabalho digno. Ela era levada a se prostituir ou a cometer crimes para
sobreviver.
Os moradores da
Vila da Fartura acreditavam que o seu bem-estar e a sua felicidade eram uma
providência do destino. Os moradores da Vila da Miséria acreditavam que a sua
provação era um desafio estabelecido por um ser divino para que pudessem alcançar uma vida melhor depois da morte.
Um certo dia,
começou a grassar um mal entre os homens, as mulheres e as crianças da Vila da
Miséria. Somente os animais – os bois, os cavalos, os cachorros, os gatos, os
ratos e os pássaros – eram imunes a esse
mal. A população da Vila da Miséria lutava desesperadamente contra o mal que
ceifava gradativamente a vida dos membros da sua comunidade.
Os políticos, os
cientistas, os jornalistas e a população da Vila da Fartura não se preocuparam
com o mal que grassava na Vila da Miséria. Pensavam que esse mal era exclusivo
da população miserável. Porém, um certo dia, os moradores da Vila da Fartura deram-se
conta, muito tardiamente, de que o mesmo
mal atingia também as pessoas da sua comunidade.
Em pouco tempo,
não havia mais seres humanos na Ilha da Fantasia. Sobreviveram somente os bois,
os cavalos, os cachorros, os gatos, os ratos e os pássaros. Esses animais
souberam aproveitar e compartilhar os
recursos naturais que floresceram na
ilha depois do desaparecimento dos seres humanos.
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Do livro “A ilha
da Fantasia e outras histórias”
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