quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

A ILHA DA FANTASIA


                                                                                         Isaac Warden Lewis
Alguns homens e algumas mulheres chegaram  à Ilha da Fantasia e apropriaram-se dela. Fundaram  uma vila chamada Fartura. Nessa vila, esses homens e essas mulheres passaram a usufruir do fruto da terra, construíram moradias, criaram condições de vida para si e seus filhos.
Anos depois, chegaram à ilha da Fantasia outros homens e mulheres. Não puderam ter acesso aos bens materiais e culturais da Vila da Fartura por serem diferentes. Alguns eram discriminados por serem mais claros ou mais escuros do que os primeiros habitantes. Outros, por serem mais baixos ou mais altos. Outros, por virem de um mundo distante. Outros,  por serem mais inteligentes ou menos inteligentes. Além disso, os primeiros habitantes criaram   um  exército e uma legislação especial para garantir seus privilégios na Ilha da Fantasia.
Por isso, os estrangeiros, ou seja, os que chegaram depois, foram-se instalando nos charcos, nos mangues, nas praias, vivendo em condições precárias. Suas casas eram feitas de materiais frágeis. Não tinham  muito o que comer e não tinham onde produzir alimento. Desse modo, surgiu uma outra vila chamada Miséria.
As duas vilas prosperavam  a seu modo. A riqueza material e cultural da Vila da Fartura crescia rapidamente. Outrossim a pobreza e a ignorância da Vila da Miséria desenvolviam-se de maneira espantosa.
Em resumo, a população da Vila da Fartura tinha acesso à moradia decente, a uma boa alimentação e ao trabalho gratificante. A população da Vila da Miséria não tinha como atender as suas necessidades de moradia decente, alimentação básica e de trabalho digno. Ela era levada a se prostituir ou a cometer crimes para sobreviver.  
Os moradores da Vila da Fartura acreditavam que o seu bem-estar e a sua felicidade eram uma providência do destino. Os moradores da Vila da Miséria acreditavam que a sua provação era um desafio estabelecido por um ser divino para que pudessem  alcançar uma vida melhor depois da morte.
Um certo dia, começou a grassar um mal entre os homens, as mulheres e as crianças da Vila da Miséria. Somente os animais – os bois, os cavalos, os cachorros, os gatos, os ratos e os pássaros –  eram imunes a esse mal. A população da Vila da Miséria lutava desesperadamente contra o mal que ceifava gradativamente a vida dos membros da sua comunidade.
Os políticos, os cientistas, os jornalistas e a população da Vila da Fartura não se preocuparam com o mal que grassava na Vila da Miséria. Pensavam que esse mal era exclusivo da população miserável. Porém, um certo dia, os moradores da Vila da Fartura deram-se conta, muito tardiamente,  de que o mesmo mal atingia também as pessoas da sua comunidade.
Em pouco tempo, não havia mais seres humanos na Ilha da Fantasia. Sobreviveram somente os bois, os cavalos, os cachorros, os gatos, os ratos e os pássaros. Esses animais souberam  aproveitar e compartilhar os recursos naturais que floresceram  na ilha depois do desaparecimento dos seres humanos.
_______________________
Do livro “A ilha da Fantasia e outras histórias”

Nenhum comentário:

Postar um comentário