Isaac Warden
Lewis
Sabe-se que o
ensino, em qualquer um de seus níveis – o fundamental, médio e o superior –
pode ser considerado como uma doação feita pelo professor para o aluno ou como
uma proposta de participação de professores e alunos na busca da compreensão da
realidade.
No primeiro
caso, a verdade ou o conhecimento é considerado um fim em si mesmo e tem um
sentido absoluto tanto para os que ensinam quanto para os que aprendem. O saber
codificado é passado do professor para o aluno, sem se fazer perguntas a esse
saber e ao que se passa na realidade em que professores e alunos vivem. No
segundo caso, o saber é um meio para se entender a realidade e tem um sentido
relativo tanto para os professores quanto para os alunos. O saber é discutido
entre professores e alunos e relacionado com a realidade vivida por ambos.
Inevitavelmente,
as duas opções de ensino pressupõem modos diferentes de apropriação de saber
para os membros da comunidade escolar. Na pedagogia
da doação, alguns privilegiados têm acesso aos instrumentos e aos recursos
para apreender os conteúdos do saber, enquanto à maioria dos não privilegiados
são negados os instrumentos e os recursos para a apropriação do saber. A
prática de ensino resume-se à transferência do saber dos iniciados para os não
iniciados. Na pedagogia da participação, os instrumentos e os recursos para
aquisição, apropriação do saber são colocados à disposição de professores e
estudantes igualmente. A prática de ensino é entendida como uma prática de
estudo tanto para os professores quanto para os estudantes.
As consequências
das duas opções de ensino numa sociedade dividida em classes serão marcadamente
diferenciadas. Na pedagogia da doação, o saber, visto como um conjunto de
conhecimentos guardados numa redoma, de propriedade de poucos e carinhosamente
mantido longe das questões do dia a dia da maioria dos não iniciados, permanece
neutra com relação aos interesses e problemas da comunidade. Na pedagogia da
participação, o saber, considerado como meio para se compreender a realidade em
que vivem professores e alunos, é utilizado para debater e buscar soluções para
as questões que interessam à comunidade.
Dessa forma,
todo projeto educacional, voltado para reflexão do contexto histórico e social
em que educandos e professores vivem e compromissado em conscientizá-los no
engajamento nas atividades que interessam à sua comunidade, tem necessariamente
de fornecer instrumentos, técnicas e recursos de estudos que permitam a eles
colocar o saber de sua área de especialização em Benefício dos interesses da
maioria dos membros da sua comunidade.
______________
Publicado
originalmente, no livro “Educação: doutrinação ou desvelamento”. Manaus:
Editora Mundo Novo, 2013, p. 130.
Nenhum comentário:
Postar um comentário