Isaac Warden Lewis
Certa
vez, uma leitora criticou o livro “A reflexão dos animais espoliados”, o qual
continha a história “Fazenda de porcos”, sugerindo que o autor se limitou a
imitar o conteúdo da história “A revolução dos bichos, escrito por George
Orwell (1903-1950). A crítica da referida leitora constitui um exemplo de
crítica superficial de leitoras e leitores que realizam leitura por alto ou de
orelhas de livros sem se aprofundarem realmente no conteúdo do texto que estão
lendo. Na história “A revolução dos bichos”, o autor critica, através de
personagens porcos, os descaminhos, o revisionismo, a falsificação das ideias e
das lutas que geraram a revolução russa de 1917. Já, o autor da história
“Fazenda de porcos” relata, através de personagens porcos, as condições e as
relações sociais vividas por povos, em países colonizados, cuja maioria
espoliada não adquiriu consciência revolucionária e que aceitam viver
subumanamente, porém um personagem, Quinho, critica e condena a espoliação
imposta pelos seres humanos a todos os porcos. A leitora superficial não foi
capaz de perceber que o contexto político social vivido pelos porcos em “A
revolução dos bichos” é diferente do contexto colonizado vivido pelos porcos da
“Fazenda de porcos”. Os leitores superficiais têm dificuldades em distinguir o
que é verdadeiro ou falso em um texto. Além disso, não compreendem plenamente a
mensagem expressa no texto.
Lamentavelmente,
em pleno século XXI, ainda há inúmeras pessoas que se intitulam negacionistas da Ciência e, por isso,
dizem-se contrários à vacinação contra o Coronavírus.
Na realidade, não existem negacionistas da ciência. Esse conceito é impróprio
para qualificar essas pessoas (seja presidente, general, ministro, religioso,
professor, doutor, médico, faxineiro, balconista, lixeiro, porteiro ou
empresário etc). Seria mais apropriado chamar essas pessoas de imbecis, idiotas, ignorantes, estúpidas ou analfabetas funcionais porque seguem outras iguais a elas, que não
conhecem a história da ciência ou se leram alguma coisa sobre isso nada
entenderam . Tanto é assim que algumas dessas pessoas dizem ter estudado
teologia (a ciência de um ser inexistente)..
Francis
Bacon (1561-1626), René Descartes (1596-1650), John Locke (1632-1704) e Karl
Marx (1818-1883) empreenderam esforços para construir processos e métodos de
construção de conhecimentos verdadeiros, conhecimentos científicos. Entretanto,
desde a Antiguidade, milhares e milhares de pessoas, incluindo religiosos e
cientistas, acreditavam em geração espontânea. Algumas pessoas acreditavam, por
isso, que toda vida, quando destinada para o bem da humanidade, podia ser
produção de um ser divino ou produzida por um ser diabólico quando se destinava
para o mal do ser humano. Os defensores da geração espontânea diziam que
matéria em putrefação produzia larvas, pulgas, piolhos e insetos em geral. A
partir do século XVIII, inúmeros cientistas começaram a refutar a ideia de geração
espontânea, declarando que as larvas, os vermes e insetos nasciam de ovos. Vários cientistas, como Louis
Pasteur (1822-1895), Joseph Lister (1827-1912), John Tyndall (1820-1893)
realizaram experiências, descobrindo que muitas doenças em seres humanos, em
outros animais e em plantas eram produzidas por bactérias e vírus. Essas
experiências possibilitaram a produção de remédios, vacinas e práticas de
higiene para combater essas doenças e a recomendação universal de adoção de
higiene geral, uso de anestesia e de assepsia nas operações cirúrgicas.
As
classes favorecidas e as classes desfavorecidas criadas no Brasil Colônia e
ainda presentes após a Proclamação da Independência (1822), a Proclamação da
Abolição da Escravatura (1888) e a Proclamação da República (1889) sempre
tiveram dificuldades de entender as
teorias filosóficas, científicas, políticas e sociais produzidas na Europa,
pois os egressos do Ensino Superior (principalmente das escolas privadas e
confessionais) frequentavam a escola para adquirir diplomas ou certificados ,
assimilando somente os conteúdos que servissem para seguir carreiras privilegiadas.
Os militares que ocupam indevidamente o Palácio do Planalto, incluindo o
presidente expulso do Exército por terrorismo, o ministro da Saúde, Marcelo
Queiroga e o ministro da Educação, Milton Ribeiro são exemplos produzidos pelo
Sistema Educacional que não se coaduna com os postulados das várias
proclamações enunciadas no Século XIX. Não devemos estranhar, por isso, que, em um
país colonizado , esses egressos, analfabetos funcionais (juízes,
desembargadores, secretários de segurança, oficiais de Polícias Militares, com
raras exceções) manifestam-se contra vacinação como se estivessem expressando
pensamento profundo sobre o que não entendem.
Felizmente,
toda sociedade evolui dialeticamente, desse modo, apesar de os também negacionistas
da visão dialética do universo, do mundo, da sociedade, do pensamento
empreenderem crimes, omissões, mentiras, violências contra os que estão
empenhados e comprometidos com a
verdade, a ciência e a luta por direitos universais de todos os homens e de
todas as mulheres e crianças brasileiras, condenando as injustiças e
desigualdades sociais, o Brasil, pós proclamações vazias de sentido, encontrará
dignamente seu caminho junto à comunidade humana crítica e solidária.
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