terça-feira, 11 de janeiro de 2022

A REFLEXÃO DOS ANIMAIS ESPOLIADOS

 


                                                                                    

                                                                                                     Isaac Warden Lewis


Havia escassez de alimentos na floresta. Alguns animais tinham dificuldade em encontrar caça para alimentarem a si e a sua prole. Em vista disso, o leão, o lobo, a raposa, o cachorro e o gato encontraram-se para debater a questão. Depois de longa discussão, decidiram unir seus esforços e suas habilidades individuais para conseguir alimento para o grupo.

            Partiram, então, em busca de uma caça, cada um utilizando sua sagacidade com o intuito de possibilitar o sucesso do empreendimento. A raposa, logo que se deparou com uma caça, procurou atraí-la para local apropriado, onde seus companheiros pudessem apanhá-la. O gato correu para avisar ao cachorro, ao lobo e ao leão sobre a caça descoberta pela raposa. Imediatamente, o lobo correu e procurou perseguir a presa, fazendo ir em direção ao local onde deveria ser abatida. O cachorro interveio acuando a presa numa caverna. O leão chegou e atacou a presa, matando-a.

            Logo, os cinco companheiros estavam reunidos em torno da caça para deliberarem sobre sua partilha. O leão tomou a palavra e disse que dividiria a caça em cinco partes iguais e, efetivamente, ele a dividiu em cinco partes iguais. Depois, declarou que faria a divisão da caça de maneira equitativa. Disse que ficaria com quatro partes da caça e daria uma parte para os quatro companheiros. Pegou um graveto e tentou demonstrar aos seus companheiros que fizera uma divisão equitativa. Escreveu no chão assim:

                         

                          Sendo 1 = 4,

                          Logo:  4 = 1.

 

            Depois dessa demonstração, perguntou aos seus companheiros se eram de parecer contrário. A raposa, mais que depressa, falou em nome dos animais espoliados, dizendo que a divisão do leão merecia uma discussão e deliberação do grupo dos quatro animais que receberiam somente uma parte da caça e solicitou a compreensão do leão para que o grupo majoritário se retirasse, momentaneamente, para refletir e decidir sobre a proposta leonina.

            Assim que a raposa percebeu que podia falar sem ser ouvida pelo leão, explicou ao gato, ao cachorro e ao lobo o que ela pensava sobre a patifaria do leão. Começou dizendo que a demonstração matemática do leão era falsa, pois que “um nunca é igual a quatro”, donde se concluía que “quatro não podia ser igual a um”. Mas que era importante que os quatro companheiros espoliados se unissem para não serem vencidos pela astúcia leonina. A seguir, a raposa explicou que o leão tinha força e detinha, por isso, maior poder de violência, contra o gato, o cachorro, a raposa e o lobo isolados uns dos outros e, possivelmente, com algum esforço, ele poderia vencer os quatro animais juntos. Para se apropriar da maior parte da caça, o leão poderia utilizar sua força, sua violência, contra os quatro animais espoliados. Mas, nem sempre a violência era garantia de que os espoliados se submeteriam aos poderosos, aos espoliadores. Então, esses usam de argumentos ou ideias falsas com o objetivo de persuadir os espoliados da pretensa honestidade de suas decisões e propostas.. Os argumentos ou ideias falsas são utilizados pelos espoliadores com a finalidade de justificar suas decisões e convencer os espoliados de que a decisão tomada é boa para todos.

            A raposa concluiu dizendo que só havia duas alternativas:

            A primeira era aceitarem a ameaça de violência e a falsa demonstração matemática do leão e consequentemente ficarem somente cum uma parte da caça.

            A segunda era demonstrar ao leão que eles, reunidos, rechaçariam e enfrentariam qualquer violência leonina e poderiam provar que “um porrete não é igual a quatro porretes e nem quatro porretes são iguais a um porrete”. Daí, exigiriam do leão a divisão de um quinto da caça para cada animal que participara da caçada.

            A seguir, os animais espoliados passaram a meditar sobre as duas alternativas propostas.

 

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Do livro "A reflexão dos animais espoliados e outras fábulas".


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