Lucilene Gomes Lima
Era uma vez uma
ilha cujas condições geográficas possibilitavam que as aranhas fossem
abundantes. Nessa ilha havia várias canoas motorizadas, várias motocicletas,
alguns carros.
A ilha tinha
algumas igrejas, um complexo turístico, um clube futebolístico, uma quadra
esportiva, um hospital, algumas escolas. Porém, apesar de ter escolas, não
tinha uma biblioteca. Nas casas dos habitantes da ilha também não havia livros,
mas todas as casas tinham um aparelho de tv e quase todos os habitantes da ilha
tinham um telefone celular. Os habitantes da ilha viviam praticamente da mesma
forma que os animais que ali existiam. Comiam, bebiam, reproduziam-se e,
principalmente, divertiam-se.
Os primeiros
habitantes da ilha conheciam o lugar, os animais, as plantas, os lagos, os
rios. Por muitos séculos, esses conhecimentos empíricos foram transmitidos a
várias gerações. Mas, a nova geração de descendentes que agora se locomovia
motorizadamente e utilizava aparelhos modernos para se distrair, desconhecia
tudo isso. Não se dedicava em saber o nome dos peixes, dos pássaros, não
conhecia as características e as propriedades das plantas. Esses novos
descendentes não conheciam o trabalho artesanal, manual, viviam de eflúvios de
fora, sem se preocuparem como se originava aquilo que absorviam, o que
realmente era.
A ilha das
aranhas, como os animais que lhe davam o nome, vivia somente para o interior de
sua teia, recebia as coisas de fora, mas nada produzia para fora de sua teia.
Era uma ilha no sentido estrito, isolada, cercada pelas águas.
Um dia, a ilha
das aranhas foi inundada e submergiu. A sociedade que ali então vivia, sem
raízes, solta no ar como as teias das aranhas, desapareceu sem deixar marcas,
sem dar contributo para a humanidade.
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