ISAAC WARDEN LEWIS
Num bairro de
uma cidade moderna, vivia uma família constituída do pai, Coriolano; da mãe,
Carolina, e de um menino, Paulino.
O menino vivia
muito feliz com seus pais. Conversava, ria, chorava e se divertia como todos os
meninos de sua cidade. Ele tinha um aparelho de televisão em seu quarto. Todos
os dias, ele via seus programas favoritos. Tudo parecia ir muito bem para o
Paulino.
Entretanto, um
dia, seu pai lhe deu um aparelho de videogame. A partir de então, Paulino
passou a viver em seu quarto. Saía somente para ir à escola. Brincava com o
videogame de manhã à noite.
Desse modo,
quase ninguém o via. Dona Carolina o via todos os dias. Ela lhe levava o café
da manhã, as merendas, o almoço e a janta. De vez em quando, o Seu Coriolano
costumava passar no quarto para brincar com o filho.
E, assim,
passaram-se muitos dias, muitos meses, muitos anos. Paulino não deixava de
brincar com o videogame. Dona Carolina e
o Seu Coriolano quase não falavam mais com ele. Por isso, Dona Carolina e o Seu Coriolano não perceberam
que o Paulino já não crescia há algum tempo. Também não perceberam que ele
tinha desaprendido a falar, a expressar-se por meio das palavras como a maioria
dos seres humanos. Além disso, Paulino deixou de relacionar-se normalmente com
as pessoas do mundo real. Seu cérebro estava povoado de personagens e de suas
ações nos jogos do vídeo. Dir-se-ia que Paulino estava-se tornando um daqueles
personagens. Quando sua mãe falava com ele, Paulino resumia-se a grunhir um sim
ou um não. Quando andava, ria ou gesticulava, parecia um boneco mecânico.
Também, na
escola, Paulino comportava-se estranhamente. Entrava na sala de aula, não
conversava com ninguém. Não entendia o que os professores lhe ensinavam. Não
acompanhava as explicações que eram dadas em sala de aula. Como ele se
comportava indiferente e passivamente a tudo o que ocorria a sua volta, os
professores qualificaram o seu comportamento como exemplar. Daí, todos os anos,
ele era promovido para a série seguinte.
E, assim,
foram-se passando os anos, sem que a família, os professores e os vizinhos se
dessem conta do que estava realmente acontecendo com o menino.
Paulino, agora,
estava-se tornando adolescente. Ocorreu ao Seu Coriolano fazer uma festa de
aniversário para seu filho. No dia da festa, havia muitas pessoas e muitas
crianças na casa do Paulino. Mais uma vez, ocorreu um fato estranho. Falava-se
do aniversariante, comemorava-se seu aniversário, mas Paulino permanecia em seu
quarto, brincando com seu videogame, indiferente a tudo e a todos.
Em face disso, o
Seu Coriolano começou a perceber que alguma coisa estava errada. Deu-se conta
de que aquele menino era um estranho em sua casa. Correu até o quarto do filho.
Lá estava ele absorto, brincando com o videogame. Não ouvia nada e ninguém. Seu
Coriolano compreendeu tudo imediatamente. Foi à cozinha rapidamente, pegou um
machado e voltou ao quarto do menino. Desfechou vários golpes no aparelho de
videogame. Choveram faíscas para todos os lados. Paulino levou um susto. Gritou
por socorro, chorou, adoeceu, mas já está-se recuperando.
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Do livro, A ILHA DA FANTASIA E OUTRAS HISTÓRIAS.
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