Isaac Warden Lewis
O colonialismo,
de modo geral, legou às populações dos territórios invadidos na Ásia, África e
América ideias e práticas difíceis de serem abolidas, se essas populações não
se derem conta de que tais ideias e práticas herdadas precisam ser radicalmente
abolidas e superadas.
No cotidiano,
podemos perceber que filhos e filhas de pais e mães mal educados também podem
ser mal educados e eles e elas não se dão conta de que precisam abolir e
superar radicalmente a educação, as atitudes, as visões de mundo herdadas de
seus pais e avós.
Os colonizadores
portugueses, por exemplo, aportaram em terras da Ásia, África e América,
dizendo-se cristãos, civilizados e seres humanos superiores. Mas, no cotidiano, suas ideias de
cristianismo eram distorcidas, enviesadas, nada tinham a ver com possíveis
ideias pregadas por algum sujeito que, por acaso, tivesse vivido, em algum
momento, na Palestina ou na Galileia. Em nome de deus, os colonizadores
portugueses massacraram e escravizaram povos asiáticos, africanos e americanos.
Muitos nativos desses continentes morreram graças às bactérias e aos vírus
transportados por tais civilizados.
No Brasil, os
colonizadores trouxeram leis, decretos, códigos que os beneficiavam e
discriminavam negativamente as populações nativas. Desse modo, os invasores
portugueses tornaram-se latifundiários, traficantes e senhores de escravos,
governantes, enfim, os mandatários da colônia.
Para se
protegerem de possíveis rebeliões das populações nativas, os colonizadores estabeleceram
um sistema político, jurídico, militar e policial que conceituava os nativos
como perigosos, preguiçosos e primitivos. Esse sistema tinha, portanto, funções
pedagógicas: Estabelecia os direitos e privilégios dos colonizadores e os
deveres dos colonizados através da violência.
Como coadjuvante
do sistema político, jurídico, militar e policial, o sistema educacional
preparava alguns estudantes (os filhos dos colonizadores) para estudos maiores,
superiores, para terem acesso a cargos privilegiados, e instruía a maioria (os
nativos) para os trabalhos produtivos ou artesanais.
Essa estrutura
política vigorou na sociedade brasileira, no período colonial, privilegiando
senhores de escravos, governantes, padres, políticos, funcionários públicos,
juízes, policiais e agregados que, a serviço da metrópole portuguesa, cometiam
abusos, arbitrariedades, ações corruptas sem serem jamais julgados ou
condenados pelas leis, decretos e códigos do reino português.
No período
imperial, a proclamação da independência não mudou a estrutura política vigente
no período colonial porque a sociedade monárquica era estruturada e sustentada
pelas mesmas classes favorecidas que sustentaram os reis e as cortes
portuguesas durante o período colonial.
Para se manterem
como classe favorecida, os traficantes e os senhores de escravos assumiram-se
como feitores a serviço das classes privilegiadas inglesas que patrocinaram e
apadrinharam a independência do Brasil de Portugal, apesar dos interesses
conflitantes entre a sociedade agrária escravagista e atrasada dos senhores e
traficantes de escravos e a sociedade que se afirmava industrial , moderna,
capitalista e antiescravagista das classes privilegiadas inglesas.
Entretanto os
mamelucos luso-brasileiros continuavam, em teoria, a se proclamarem europeus,
civilizados e cristãos na época em que os europeus começavam a mudar sua
compreensão sobre a escravização de seres humanos, a sua visão dos povos não
europeus, além de questionarem os dogmas do catolicismo. Portugal, por exemplo,
aboliu a escravidão em 1854, porém os lusodescendentes do Brasil (já
independente), de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau aferravam-se às práticas
escravagistas em seus territórios.
A elite
brasileira e seus agregados proclamavam-se classe privilegiada, embora, política
e economicamente, subordinassem seus interesses aos interesses das classes
privilegiadas europeias. Essa elite brasileira não era, na verdade, uma classe
privilegiada e sim uma classe favorecida. Essa dicotomia entre o que a elite
política brasileira se proclamava e a sua realidade de subordinação a elites de
países avançados explica as atitudes hipócritas, falsas, corruptas,
conservadoras não só de políticos e empresários brasileiros, mas também das
classes favorecidas de países que emergiram da condição de colônias na Ásia,
África e na América (incluindo os Estados Unidos).
É por isso que
as teorias e as práticas de políticos dos países periféricos são tão parecidas.
Sua preocupação política fundamental é garantir condições de desenvolvimento,
segundo os projetos políticos dos países desenvolvidos, permitindo aos
empresários desses países o controle e a exploração dos recursos materiais e
humanos de seus países periféricos, o que leva a se preocuparem em manter a
ordem e o progresso nesses países.
Para execução
dos projetos políticos mencionados acima, os políticos dos países periféricos
que se tornaram repúblicas, através da instalação de estados burocráticos de direito, reconhecidos e apoiados por
estados desenvolvidos – sedes das classes privilegiadas capitalistas
internacionais – estabeleceram sistemas políticos, jurídicos, militares e
policiais que mantêm privilégios e direitos para as classes favorecidas e negam
esses privilégios e direitos para a maioria da população.
Tais sistemas
permitem, na realidade, que os indivíduos das classes favorecidas cometam
crimes impunemente. Não se constitui surpresa, portanto, que, entre os países
mais corruptos do mundo, o Brasil esteja em quarto lugar, precedido pela
Venezuela, Bolívia e o Tchad, segundo a pesquisa do Fórum Econômico Mundial.
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