sexta-feira, 2 de junho de 2017

BRASIL E SUA CULTURA POLÍTICA COLONIZADA


                                                                        Isaac Warden Lewis
O colonialismo, de modo geral, legou às populações dos territórios invadidos na Ásia, África e América ideias e práticas difíceis de serem abolidas, se essas populações não se derem conta de que tais ideias e práticas herdadas precisam ser radicalmente abolidas e superadas.
No cotidiano, podemos perceber que filhos e filhas de pais e mães mal educados também podem ser mal educados e eles e elas não se dão conta de que precisam abolir e superar radicalmente a educação, as atitudes, as visões de mundo herdadas de seus pais e avós.
Os colonizadores portugueses, por exemplo, aportaram em terras da Ásia, África e América, dizendo-se cristãos, civilizados e seres humanos superiores. Mas, no cotidiano, suas ideias de cristianismo eram distorcidas, enviesadas, nada tinham a ver com possíveis ideias pregadas por algum sujeito que, por acaso, tivesse vivido, em algum momento, na Palestina ou na Galileia. Em nome de deus, os colonizadores portugueses massacraram e escravizaram povos asiáticos, africanos e americanos. Muitos nativos desses continentes morreram graças às bactérias e aos vírus transportados por tais civilizados.
No Brasil, os colonizadores trouxeram leis, decretos, códigos que os beneficiavam e discriminavam negativamente as populações nativas. Desse modo, os invasores portugueses tornaram-se latifundiários, traficantes e senhores de escravos, governantes, enfim, os mandatários da colônia.
Para se protegerem de possíveis rebeliões das populações nativas, os colonizadores estabeleceram um sistema político, jurídico, militar e policial que conceituava os nativos como perigosos, preguiçosos e primitivos. Esse sistema tinha, portanto, funções pedagógicas: Estabelecia os direitos e privilégios dos colonizadores e os deveres dos colonizados através da violência.
Como coadjuvante do sistema político, jurídico, militar e policial, o sistema educacional preparava alguns estudantes (os filhos dos colonizadores) para estudos maiores, superiores, para terem acesso a cargos privilegiados, e instruía a maioria (os nativos) para os trabalhos produtivos ou artesanais.
Essa estrutura política vigorou na sociedade brasileira, no período colonial, privilegiando senhores de escravos, governantes, padres, políticos, funcionários públicos, juízes, policiais e agregados que, a serviço da metrópole portuguesa, cometiam abusos, arbitrariedades, ações corruptas sem serem jamais julgados ou condenados pelas leis, decretos e códigos do reino português.
No período imperial, a proclamação da independência não mudou a estrutura política vigente no período colonial porque a sociedade monárquica era estruturada e sustentada pelas mesmas classes favorecidas que sustentaram os reis e as cortes portuguesas durante o período colonial.
Para se manterem como classe favorecida, os traficantes e os senhores de escravos assumiram-se como feitores a serviço das classes privilegiadas inglesas que patrocinaram e apadrinharam a independência do Brasil de Portugal, apesar dos interesses conflitantes entre a sociedade agrária escravagista e atrasada dos senhores e traficantes de escravos e a sociedade que se afirmava industrial , moderna, capitalista e antiescravagista das classes privilegiadas inglesas.
Entretanto os mamelucos luso-brasileiros continuavam, em teoria, a se proclamarem europeus, civilizados e cristãos na época em que os europeus começavam a mudar sua compreensão sobre a escravização de seres humanos, a sua visão dos povos não europeus, além de questionarem os dogmas do catolicismo. Portugal, por exemplo, aboliu a escravidão em 1854, porém os lusodescendentes do Brasil (já independente), de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau aferravam-se às práticas escravagistas em seus territórios.
A elite brasileira e seus agregados proclamavam-se classe privilegiada, embora, política e economicamente, subordinassem seus interesses aos interesses das classes privilegiadas europeias. Essa elite brasileira não era, na verdade, uma classe privilegiada e sim uma classe favorecida. Essa dicotomia entre o que a elite política brasileira se proclamava e a sua realidade de subordinação a elites de países avançados explica as atitudes hipócritas, falsas, corruptas, conservadoras não só de políticos e empresários brasileiros, mas também das classes favorecidas de países que emergiram da condição de colônias na Ásia, África e na América (incluindo os Estados Unidos).
É por isso que as teorias e as práticas de políticos dos países periféricos são tão parecidas. Sua preocupação política fundamental é garantir condições de desenvolvimento, segundo os projetos políticos dos países desenvolvidos, permitindo aos empresários desses países o controle e a exploração dos recursos materiais e humanos de seus países periféricos, o que leva a se preocuparem em manter a ordem e o progresso nesses países.
Para execução dos projetos políticos mencionados acima, os políticos dos países periféricos que se tornaram repúblicas, através da instalação de estados burocráticos de direito, reconhecidos e apoiados por estados desenvolvidos – sedes das classes privilegiadas capitalistas internacionais – estabeleceram sistemas políticos, jurídicos, militares e policiais que mantêm privilégios e direitos para as classes favorecidas e negam esses privilégios e direitos para a maioria da população.
Tais sistemas permitem, na realidade, que os indivíduos das classes favorecidas cometam crimes impunemente. Não se constitui surpresa, portanto, que, entre os países mais corruptos do mundo, o Brasil esteja em quarto lugar, precedido pela Venezuela, Bolívia e o Tchad, segundo a pesquisa do Fórum Econômico Mundial.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário