quinta-feira, 19 de setembro de 2024

TUDO QUE ERA SÓLIDO CONDENSA-SE NA NUVEM


                                                                                          Lucilene Gomes Lima


 Em Manaus: amor e memória (2004), Thiago de Mello testemunha que os objetos naturais e os objetos e ritos culturais criados por nós, seres humanos, constituem um ritmo próprio na incipiente vida urbana do município de Manaus na primeira metade do século XX. Em sua lembrança afetiva da capital do Amazonas, o poeta relata que conversas se iniciavam em todas as ruas tão logo anoitecia. As frentes das casas, as calçadas recebiam cadeiras de embalo e os habitantes contavam histórias, falavam da vida cotidiana na década de 1930. Outro hábito comum à época eram as sestas diurnas, que ocorriam quando os trabalhadores chegavam às casas para o almoço. Depois de dormir aproximadamente quinze minutos ou meia hora, voltava-se ao trabalho. A sesta não era exclusividade da população local, os trabalhadores estrangeiros também adotavam o hábito. A soneca tinha momento, mas não tinha lugar, podia-se deitar na relva, recostar-se nos troncos das árvores. Diferentemente do que ocorre hoje em dia, em que a vida urbana eliminou a razoabilidade dos hábitos, usava-se chapéu para se proteger do sol e roupa branca para atrair menos calor. A sociabilidade urbana era também muito diferente ou, talvez, deva-se dizer, ela existia. Os vizinhos se conheciam, as casas não eram tão fechadas nem precisavam de grades. Thiago conclui que “[...] o forte da cidade não era a criminalidade, mas a cordialidade” (2004, p. 52). A morte era um espanto porque não era rotineira.

Na Manaus evocada pela lembrança do poeta, os sons urbanos (do apito das fábricas e dos barcos, das serrarias, da usina de luz, das badaladas dos sinos das igrejas, do pregão e dos instrumentos improvisados que usavam os mascates para vender especiarias e de tudo um pouco – linhas, agulhas, botões, morins, chita, brilhantinas, pó de arroz) marcavam as horas do dia e ligavam-se à vida pacata e rotineira, gravando-se na memória, revelando um modo de viver, ser, existir.

Assim como os sons, os cheiros evocam lembranças: o odor da defumação do látex, das madeiras cortadas nas serrarias, exalando aroma de pau rosa, preciosa, cedro: “[...] o cheiro delas ficava nas serragens e não era sempre o mesmo. Era um com o sol, era outro depois da chuva [...]” (2004, p. 82). Os cheiros dos alimentos também constroem a memória. O aroma dos mingais, tomados no mercado Adolpho Lisboa aos sábados e domingos, e das especiarias que os temperavam, o cheiro da tartaruga e da pimenta murupi que acompanhava o guizado e o sarapatel do quelônio, os odores e sabores do cupuaçu, da sapotilha, do jatobá e o cheiro das mariranas que costumava exalar quando as árvores se carregavam de frutos. O cheiro da moagem e da torrefação do café no moinho da cidade. O poeta lembra que o cheiro dos produtos importados vendidos em algumas casas da cidade, tais como camarões, bacalhau, figos, maçãs faziam a felicidade dos que podiam ao menos aspirá-los, uma vez que nem todos podiam comprá-los. Thiago também não se permite deixar de louvar a arquitetura cabocla, a qual denomina “sobradinhos de madeira”, autênticos e condizentes com o espaço, construídos com matéria prima e criatividade local, ao contrário dos casarões e sobradões de inspiração europeia, construídos à época do ciclo da borracha, geralmente com material importado (pedras, mármores, telhas, vidraças, azulejos, gradis).   

A importância da relação entre sujeito e objeto para a memória humana é ressaltada por Ecléa Bosi: “O relógio da família, a medalha do esportista, a máscara do etnólogo, o mapa-mundi do viajante. Cada um desses objetos representa uma experiência vivida. Penetrar na casa em que estão é conhecer as aventuras afetivas de seus moradores” (Memória e sociedade: lembrança de velhos, 1994, p. 441). Quando objetos e espaços físicos são destruídos, com os escombros também se enterra a memória. Os sujeitos se sentem descartados juntamente com os objetos, os lugares que são partes de suas vivências e de sua história.  Diz ainda Ecléa: “[...] o desenraizamento é uma condição desagregadora da memória: sua causa é o predomínio das relações de dinheiro sobre outros vínculos sociais [...]” (1994, p. 443). Os objetos biográficos que criam a sensação de enraizamento tornam-se objetos de consumo. Ecléa vislumbra um “mapa afetivo, sonoro” nas lembranças dos sujeitos testemunhas que entrevista. Identifica uma memória sensorial que marca o humano: “A substituição do trem e do bonde pelo ônibus mudou a paisagem sonora para os ouvidos de d. Risoleta: ‘O trem de Santo Amaro entrava numa mata virgem e ia: Tendendém, tendendém! Dentro da mata... Depois foram tirando tudo, tiraram o bonde e puseram ônibus, se vê como é que está’ ” (1994, p. 445).

Partindo de uma frase expressa no Manifesto comunista, escrito por Marx e Engels, Marshall Berman desenvolve o argumento de seu livro, publicado em 1983, “Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade”.  O autor denomina o Manifesto como arquétipo de um século inteiro de manifestos e movimentos modernistas que se sucederiam. Para Berman, o Manifesto “[...] pode esclarecer especificamente a relação entre a cultura modernista e a cultura e a sociedades burguesas [...]” (1986, p. 89). O autor destaca que a classe burguesa toma para si a tarefa de mudar o mundo. Os membros da burguesia capitalista “[...]fariam o mundo em frangalhos se isso pagasse bem. Assim como assustam a todos com fantasias a respeito da voracidade e desejo de vingança do proletariado, eles próprios, através de seus inesgotáveis empreendimentos, deslocam massas humanas, bens materiais e dinheiro para cima e para baixo pela Terra e corroem e explodem o fundamento da vida de todos em seu caminho [...]” (1986, p. 98). Berman também destaca que a burguesia é a classe dominante mais violentamente destruidora de toda a história.  Aponta, segundo a análise de Marx no Manifesto, que na cultura moderna assim como na economia burguesa convivem revolução permanente, desenvolvimento infinito, perpétua criação e renovação em todas as esferas da vida e sua antítese: destruição insaciável, estilhaçamento, destruição da vida (1986, p. 100).   

A modernidade, conforme analisa Berman, baseado nas transformações culturais, na percepção de escritores e artistas, traz a ideia do novo como valor premente. Não somente prédios, ruas são postos abaixo. Uma febre de mudança transforma tudo em obsoleto. Quaisquer objetos podem decretar a inutilidade daqueles que os antecederam. A onda avassaladora da inovação é, muitas vezes, apenas para a proclamação do novo. Essa veneração pela novidade é captada por Ecléa Bosi, quando afirma [...] os objetos protocolares são os objetos que a moda valoriza, não se enraízam nos interiores, têm garantias por um ano, não envelhecem com o dono, mas se deterioram [...]” (1994, p. 441). Os grandes monumentos construídos pela classe burguesa, celebrados efusivamente nos movimentos vanguardistas e por artistas no século XX, os enormes portos e pontes, infindáveis bulevares, os arranha-céus são espetáculos de grandiosidade para os olhos. Como lembra Berman, são desmantelados pelas próprias forças que os celebram (1996, p. 98). São sólidos que, a vista de um novo empreendimento, podem se desmanchar no ar. O autor ilustra que a mudança na estrutura urbana, no século XIX, modifica os seres humanos em seus hábitos e modos de agir e perceber o mundo: “O homem, na rua moderna, lançado nesse turbilhão, se vê remetido aos seus próprios recursos – freqüentemente recursos que ignorava possuir – e forçado a explorá-los de maneira desesperada, a fim de sobreviver. Para atravessar o caos, ele precisa estar  em sintonia, precisa adaptar-se aos movimentos do caos, precisa aprender não apenas a pôr-se a salvo dele, mas a estar sempre um passo adiante. Precisa desenvolver sua habilidade em matéria de sobressaltos e movimentos bruscos, em viradas e guinadas súbitas, abruptas e irregulares – e não apenas com as pernas e o corpo, mas também com a mente e a sensibilidade.” (1986, p. 154).

Tudo o que é feito pelos seres humanos tem mudado a vida no planeta a cada século, a cada década. Assim como os bulevares mudaram o tráfego e arrastaram em sua poeira uma série de tradições, impondo outro modo de vida, as coisas têm mudado sensivelmente o modo de viver e a nós mesmos. Mudamos a natureza, criamos novos objetos e esses novos objetos criaram novos seres humanos. Pela primeira vez na história, as coisas que nos servem e das quais nos servimos perdem sua materialidade. A era moderna trouxe a urgência de destruir ou fragilizar para reconstruir, mas no século XXI importa menos reconstruir do que reduzir a própria materialidade das coisas. Num determinado período de nossa história recente, em que as coisas eram reconhecidas por sua solidez, a percepção das pessoas era contrária a de agora, fornecida pelos meios eletrônicos digitais. Na primeira projeção cinematográfica, o público não percebeu a diferença entre a realidade expressa por imagens em uma tela e a realidade objetiva, por isso, os espectadores assustaram-se ao ver um trem direcionar-se a sua frente, como se pudesse transpor o objeto de projeção e atingi-los.

Vivemos numa era que caminha cada vez mais para uma superestrutura englobante. O advento da internet funde entretenimento, conhecimento, informação e comércio numa só rede. Quando ocorre tal consórcio, rompem-se as fronteiras espaciais e temporais. O leitor que ia a uma biblioteca encontrava-se num espaço cercado somente de livros, o silêncio era a condição para se estar e permanecer num salão de leitura, enquanto para navegar em aplicativos não se tem qualquer pré-condição que não seja um aparelho conectado, o qual pode ser usado em qualquer lugar e a qualquer hora, inclusive no barulhento espaço urbano. A navegação na rede também inclui a mensagem publicitária intrusiva, ausente no espaço das bibliotecas e no conteúdo dos livros. Em nenhum outro momento da história uma fonte difusora possui tantos produtos e serviços acoplados. Um único aparelho, o telefone celular, comporta em seus aplicativos de dados tv, rádio, cinema relógio, calculadora, calendário, espelho, telefone, telex, fax, revistas, livros, jornais, câmeras fotográficas e filmadoras, bancos para operações financeiras, dinheiro para compra de produtos e pagamentos de serviços, música, relações  sociais e culturais virtuais, uma infinidade de coisas antes palpáveis e, de certa forma, controláveis, agora ao alcance apenas num toque de tela.

O telefone celular passou a ser, mais que um objeto utilitário, um objeto protocolar, valorizado pela moda, pela neurose do novo. Apesar de divinizado pela gama de possibilidades que oferece, o aparelho é constantemente descartado e reposto para acompanhar o avanço tecnológico, diferentemente dos objetos biográficos que envelhecem com os donos, conforme observa Ecléa Bosi: “Só o objeto biográfico permanece com o usuário e é insubstituível” (1994, p. 441). Os “objetos desmaterializados”, em oposição aos objetos biográficos, apenas nos servem, sem fazer parte de nossa vivência. Podemos trocar digitalmente milhares de mensagens, sem que elas sejam mais do que “curtidas”, consumo de comunicação. As mensagens, como também a própria relação na rede digital, são de hospedagem.

Várias relações sociais, tanto quanto objetos tornaram-se efêmeros na era digital. Nada é para reter ou guardar, mas usufruir e descartar. As fotos digitais em meios eletrônicos não representam a experiência vivida, como as fotos físicas de álbuns igualmente físicos, lembranças de momentos especiais, comemorações, viagens. A foto captada hoje imediatamente é descartada devido à quantidade e à banalidade. Em lugar da experiência, passa a valer o simultaneísmo do compartilhamento e a privacidade anula-se no click, no zoom. A era digital cunhou a expressão selfie, que não é propriamente uma fotografia, mas um espelho. A mudança em relação à fotografia convencional é que passamos a ser imagem e espectadores de nós mesmos, ou seja: vemo-nos no ato de nos fotografar. A visão especular também ocorre na transmissão de vídeo ao vivo. Numa conversa on line, vemos o outro, o outro nos vê e cada um vê a si próprio, é, portanto, uma transmissão em espelho. Há uma mudança profunda na relação sujeito-objeto, que vai deixando de ser tangível, quanto na relação sujeito-sujeito que se virtualiza.

Gerações crescidas com telas já não se satisfazem com materialidade. Nos museus, a importância física dos objetos expostos é menor para essas gerações que preferem as exibições holográficas, os pixels que se projetam e se movimentam nas paredes intermitentemente, obliterando as sensações prolongadas, duradouras e contemplativas.

Ecléa Bosi narra que a memória se apoia em coisas sólidas, como a calçada efetivamente pisada, onde outros também imprimiram seus passos, sua presença e vivência. Essa noção de que a memória é constituída pelas sensações que obtemos da concretude das coisas é a mesma de Thiago de Melo ao lamentar o desaparecimento da praça da estação dos bondes em Manaus, juntamente com os objetos que a compunham – calçamento de pedras, plantas, árvores. Para o poeta, a presença material condiciona a memória: “Minha memória trabalha com a matéria de um tempo que o próprio tempo comeu. Como é que era esse tempo?” (2004, p. 4). Sem a solidez das coisas, a memória passa a contar apenas com a capacidade cognitiva de lembrar.

Com o avanço tecnológico, o mundo vai se enchendo de objetos sem funcionamento tanto porque dependem de peças de manutenção que não mais se fabricam quanto porque sua forma de difusão ou transmissão se torna obsoleta. Os dados em nuvens dos servidores de internet podem ser armazenados fora de computadores e celulares, o que torna esses objetos também equipamentos vazios. Os dados em nuvem significam uma rede global de servidores conectados. Enquanto todas as informações na rede se alojam nas nuvens, tornando desnecessários os registros físicos e as memórias em discos rígidos de equipamentos, o sistema de datacenter onde os dados são armazenados, depende de condições físicas determinadas para existir, como um espaço geográfico com temperatura amena, e um sistema de energia permanente.

A perda da materialidade significa mais que um avanço sem precedentes para a humanidade. Pode significar que, se as coisas não estão mais sob o controle de nossas mãos, perdemos o controle sobre nós mesmos e nossas vidas. Os arquivos colocados na nuvem só podem ser acessados através da rede, deixam de ocupar espaço num aparelho físico que, aparentemente, nos pertence, livrando a memória desse dispositivo e a memória humana de seu sentido de concretude.


sexta-feira, 23 de agosto de 2024

COMODIDADE, FACILIDADE, PRATICIDADE NA ALIMENTAÇÃO

 

                                                                                               Lucilene Gomes Lima


A descrição que Geofrey Blainey (Uma breve história do mundo, 2004) faz referente aos seres humanos que viveram, há dois milhões de anos, no planeta Terra pode parecer curiosa aos seres humanos contemporâneos. Nossos antepassados se alimentavam primordialmente de frutas, nozes, sementes e plantas e principiavam a se alimentar de carne, possuindo apenas implementos primitivos para caçar. Mesmo a alimentação frugal era muito difícil de conseguir e exigia longas caminhadas até encontrar frutas e sementes que pudessem ser ingeridas. Foi necessário desenvolver a habilidade de reconhecer plantas comestíveis e não comestíveis, pois, por não possuir esse conhecimento, muitos seres humanos morreram envenenados. A jornada em busca de sobrevivência era repleta de obstáculos e perigos, em nada comparável ao passeio pelo supermercado na época em que vivemos.

Não devemos pensar que apenas na era contemporânea os seres humanos buscam comodidades. Antes de transformar substancialmente os elementos naturais, os seres humanos já faziam alguns usos desses elementos para facilitar sua sobrevivência. Aproveitavam o fogo para clarear a escuridão da noite, endurecer os rústicos instrumentos feitos para cavar, cremar os mortos, realizar rituais simbólicos, afastar o risco de animais peçonhentos ou predadores, repelir insetos.

Hoje o aproveitamento dos elementos naturais se apresenta de forma bastante prática. Comemos com facilidade e rapidez, apesar de existirem fatores relacionados à alimentação que não podemos ignorar: a forma de cultivo e criação dos alimentos, seu processamento industrial e seu acondicionamento. Todos estão ligados à praticidade da produção e do consumo.

Aparentemente, um supermercado com seus balcões assépticos, suas ilhas geladas, suas prateleiras repletas de embalagens é mais higiênico do que uma feira de produtos naturais recém-extraídos da terra ou colhidos das plantas, animais abatidos e tratados no local. Em primeiro lugar, poucos se perguntam como os alimentos prontos para consumo nos supermercados chegaram ali. Não refletem que a praticidade que buscam como consumidores também é visada pelos produtores, principalmente porque para esses últimos ela se traduz em maior lucratividade. Por esse motivo, as fases de criação e produção dos alimentos passam a ser comandadas pela lógica industrial, que quer dizer produção em larga escala. Sob essa perspectiva, o produto agrícola também deve apresentar um controle de qualidade que prime pela padronização, como os produtos fabricados na esteira industrial, ainda que, muitas vezes, isso signifique modificar suas características naturais.

É mais prático e lucrativo para o produtor que galináceos se reproduzam em pouco tempo e em maior número do que no tempo biológico regular, o mesmo se dando com os bovinos, os suínos e os peixes. No sistema de confinamento, o crescimento e a engorda são recordes em todas essas espécies. O gado criado em sistema de confinamento é alimentado em cochos necessariamente com rações a base de farelos de milho e de soja. O produto almejado é o boi gordo, ou seja: aquele que pesa em média 16 arrobas ou mais e tem idade até quarenta e dois meses, de acordo com as informações contidas no site boisaude.com.br. Na chamada pecuária extensiva, em que os animais se alimentam cem por cento de pasto, dificilmente eles adquirirão essas mesmas proporções. O método do boi de cocho não necessita de grandes extensões de terra, uma vez que o gado não é criado solto. Por outro lado, grandes extensões são necessárias para o cultivo de grãos que irão alimentá-los. Esse fator tem feito com que muitos produtores agreguem a pecuária à agricultura para maior controle da cadeia de produção. Apesar da praticidade da criação do boi de cocho, esse animal fica mais susceptível a adoecer com a dieta só à base de grãos, o que leva os produtores a utilizarem os suplementos melhoradores de desempenho.

Do mesmo modo que a criação de animais é feita com modificação dos processos biológicos naturais, alterando os estágios de fecundação, nutrição, crescimento, o cultivo de plantas comestíveis sofre alteração nos processos de adubação do solo, reprodução das espécies e defesa natural. As plantas cultivadas com insumos agrícolas reproduzem-se mais rapidamente, em maior quantidade e tamanho, de tal forma que seu armazenamento se prolonga além do período da safra. Modificadas em sua reprodução natural, ficam mais sujeitas a doenças e pragas.  

Após as etapas de produção de animais e plantas em larga escala para a comercialização, eles sofrem novos processos para que possam ser estocados nos pontos de venda. Na indústria, a maioria dos alimentos também se altera a fim de que possam chegar embalados para o consumo. Como no supermercado tudo é prático e rápido, a leitura de rótulos de embalagens que informam a origem dos alimentos, e a alteração química que sofreram em seu processo de industrialização, é deixada para trás pela maioria dos consumidores. Mais do que ler os rótulos para compreender as composições químicas dos alimentos industrializados, é preciso conhecer as denominações que são empregadas, por exemplo, os tipos, subtipos, grupos, subgrupos, classes, no caso de grãos. Essas informações não são apenas de interesse dos produtores e beneficiadores, são igualmente importantes para os consumidores porque especificam o tipo de tratamento e beneficiamento que os grãos sofrem na fase de industrialização. 

Uma pessoa pode ler na embalagem de um produto que ele contém ou não contém glúten sem que saiba o que é glúten ou que muitos produtos cuja embalagem diz não conter glúten contêm soja, um grão cultivado extensivamente com agrotóxicos no Brasil. O mesmo pode ocorrer, por exemplo, com as denominações sêmola, ácido fólico, ácido tartárico, lecitina de soja e com a classificação transgênico. Os processos e os aditivos químicos são ainda mais difíceis de o consumidor pouco familiarizado com as nomenclaturas entender e a lista de aditivos autorizados para alimento no Brasil é extensa. São trezentos e cinquenta, dentre os quais diglicerídeos, pirofosfato dissódico, emulsificante, poliglicerol, polirrinoneato etc. A justificativa da indústria de produtos alimentícios para tantos aditivos é o melhoramento. Segundo essa indústria, um melhorador de farinha de trigo contém amido de milho, estabilizante, lactilato de sódio, polisorbato, ácido ascórbico, ácido cítrico, enzimas com o objetivo de branquear, melhorar o sabor e a textura, aumentar o volume, o valor nutritivo e a qualidade dos produtos que com ela são feitos. Esse processamento facilita a produção porque permite que a massa seja menos trabalhada, reduz o tempo de fermentação, aumenta o tempo de duração, possibilitando maior capacidade de armazenagem.

Uma pessoa que apresente intolerância ao glúten pode não saber que ele é um composto de proteínas presente em vários cereais, como cevada, trigo, centeio, portanto além dos pães, bolos e biscoitos, o glúten está contido em vários outros produtos, conforme detalha o site sensibilidadealimentar.com.br: sorvetes, bebidas em pó, bebidas maltadas, barras de chocolate, licores, cervejas escuras e claras e também nas chamadas comidas de conveniência, as sopas prontas, os molhos, os temperos, as carnes processadas, transformadas pelos processos de salga, cura, fermentação ou defumação (presunto, salsicha, linguiça, bacon, salame, mortadela, peito de peru, blanquet de peru, charque, toucinho), as refeições prontas (entre elas, hambúrgueres, pizzas, lasanhas), as batatas de forno, carnes ou peixes empanados, carne enlatada, patês ou pastas, molhos de carne, cubos de caldos, ervas, temperos, fermento em pó, comidas enlatadas em geral, espaguetes, assim como em subprodutos do trigo como farinheta, farelo fino e farelo grosso que também estão contidos em alimentos industrializados, de tal sorte que há probabilidade de que a intolerância possa desenvolver-se pelo excesso do composto no organismo. O pesquisador Ulisses Fagundes Neto, do Instituto de Gastroenterologia Pediátrica de São Paulo, aponta que a doença celíaca (decorrente da intolerância ao glúten) era rara até um passado recente e agora é prevalente no mundo ocidental (igastrpoed.com.br). Existem graus de doença celíaca que podem levar também à intolerância à lactose. No Brasil, 70%  da população apresenta algum grau de intolerância à lactose na atualidade.

O triticale é um cereal híbrido, resultado do cruzamento de duas espécies, o trigo e o centeio, após pesquisas e experimentos nas décadas de 30, 40 e 50 do século XX, desenvolvido para comercialização em 1968, no entanto, nenhum símbolo específico foi criado nas embalagens para representar esse cereal, assim como foi feito com o transgênico. As plantas híbridas já fazerem parte do processo agrícola há milhares de anos, incluindo o próprio trigo atual que sofreu sucessivos cruzamentos, passando de planta de dois conjuntos de cromossomos para quatro conjuntos. O triticale apresenta características similares às dos transgênicos (plantas modificadas geneticamente pela transplantação de genes específicos de uma espécie para outra), desenvolvidos na década de 1980, é resistente a doenças fúngicas e tem custo menor de produção em relação ao trigo. Como as plantas transgênicas, apresenta-se resistente aos efeitos de herbicidas, usados para matar pragas e plantas daninhas invasoras, mas tanto as plantas daninhas quanto as pragas também desenvolvem uma resistência aos herbicidas, levando ao uso mais intenso do agrotóxico, que contamina não somente todas as plantas como também o solo e as águas. Além de ser utilizado em biscoitos, massas de pizzas, bolos, waffles, panquecas, tortillas, o triticale também é misturado ao trigo na panificação, pois torna a massa do pão menos pesada e mais branca.

O símbolo de produto transgênico costuma aparecer em produtos primários como soja, milho, mas o transgênico também pode estar presente nos ingredientes secundários de outros produtos que não recebem o selo, como pode também estar nos ingredientes acidentais, aqueles que o rótulo diz “poderem conter”, ou seja, que o consumidor não é informado se estão ou não nos ingredientes. Quando o fabricante usa essa informação, trata-se de um alerta sobre contaminação industrial, o qual é exigido pela Anvisa. Essa informação dúbia, no entanto, fere o artigo 37 do Código de defesa do consumidor, que proíbe informações que levem o consumidor ao erro. Apesar disso, a Anvisa aceita essa rotulação como satisfatória, como também permite que produtos com 30% de ingredientes integrais possam ser denominados de integral.

Pesquisas realizadas pelo Idec, em 2016/2017, constataram que produtos cujos ingredientes continham milho, soja e óleo de soja transgênicos não informavam em seus rótulos que os continham, ou seja, os ingredientes secundários não eram identificados. O órgão constatou procedimento similar no caso de gordura trans. Produtos que informavam não ter essa gordura a possuíam em seus ingredientes secundários. Outras constatações foram que 93% de produtos que alegavam ter aditivos nutricionais eram pobres nutritivamente e bebidas que indicavam ser zero açúcar, possuíam outras substâncias tão nocivas quanto o açúcar, como o sódio e o adoçante. 

O consumidor pode se sentir mal informado ou mesmo ludibriado numa série de situações. Muitos são os produtos alimentícios que não se sabe realmente o que são, incluindo os oferecidos como alimenticiamente corretos, alternativos em situações específicas, como a intolerância à lactose ou ao glúten, situações que poderiam ser evitadas também com a exclusão desses alimentos da dieta e inclusão de outros que os substituíssem, preferencialmente não industrializados. Entre esses produtos alimentícios estão o café descafeinado, o leite sem lactose (açúcar do leite), o leite desnatado, o leite desnatado, sem lactose e gordura trans, as bebidas gaseificadas zero açúcar, o óleo composto de soja e oliva. As informações nos rótulos dos produtos divulgam pouco, às vezes nada, de seus processos industriais No caso dos elementos retirados, parece não ser conveniente informar ao consumidor que o café é descafeinado por meio de solventes que também são usados na produção de vernizes e tintas. Esses solventes, inclusive, são usados como aditivos de outros alimentos industrializados. Também não parece ser de interesse da indústria alimentícia esclarecer que o leite sem lactose é uma expressão não exata para representar os produtos lácteos que têm a sua constituição transformada, ou seja: recebem a enzima lactase em sua fórmula para quebrar as moléculas da lactose, que o organismo humano não mais produz ou produz em níveis muito baixos. Desse modo, a lactose não é, de fato, retirada do processo industrial. Os leites desnatados e semidesnatados, por sua vez, possuem menor teor de gordura em comparação ao integral, embora isso não signifique que a quantidade de proteínas que contêm não possa contribuir para aumento de peso.       

Enquanto surgem os alternativos, com ingredientes a menos e os produtos mistos, outros apresentam excesso de ingredientes processados em sua composição. A lasanha congelada, por exemplo, segundo a matéria o que tem nos alimentos industrializados que consumimos?, publicada no site noticias.uol.br (2017), possui amido modificado, margarina, queijo processado gorgonzola, queijo provolone, requeijão cremoso, queijo parmesão, açúcar, sal, soro de leite, fécula de mandioca, leite concentrado pasteurizado, ácido lático, creme de milho, gordura vegetal de soja, extrato de levedura,  aroma idêntico ao natural de queijo,  aroma natural de galinha,  corante idêntico ao natural caramelo IV,  farinha de arroz, farinha de trigo,  frango, aroma idêntico ao natural de frango, aroma idêntico ao natural de manteiga, clara de ovo, produto processado à base de massa para elaborar queijo, mussarela com gordura vegetal, concentrado proteico de leite, concentrado proteico de soro, além de quatro aditivos com sódio: polifosfato de sódio, sorbato de sódio, cloreto de sódio e glutamato monossódico, usados para estabilizar a textura do alimento e prolongar a sua vida útil. Ao leite UHT integral são adicionados três aditivos à base de sódio: monofosfato, difosfato, trifosfato de sódio, que funcionam como estabilizantes para evitar a sedimentação do produto. O acréscimo de sal no preparo de uma refeição com leite, portanto, é mais um excesso que o organismo recebe. Excessos também ocorrem com a sacarose (açúcar) ou similar que consta na composição de diferentes produtos. Os mais comuns são a maltodextrina, produzida a partir de hidrólise (quebra de moléculas) de amido de milho, que tem rápida absorção pelo organismo humano, contribuindo para um aumento de insulina na corrente sanguínea, e os flavorizantes os quais dão sabor doce a produtos lácteos para crianças, criando-lhes o hábito de consumir alimentos doces. O suco industrializado contém açúcar e maltodextrina ao mesmo tempo, além da frutose, o açúcar próprio da fruta.  

A indústria alimentícia tem criado cada vez mais a ilusão de variedade. Desse modo, acaba-se comendo o mesmo alimento com a impressão de que se está variando as refeições ou fazendo uma escolha personalizada. Os produtores, para entregar ao comércio bandejas com várias unidades de coxas ou miúdos de frango precisam criar mais e em menos tempo. O que é cômodo para o consumidor no balcão frigorífico do supermercado faz parte de uma cadeia complexa que tem de ser altamente produtiva. A alta taxa de produção poderia alimentar a todos. Infelizmente não é o que ocorre. O desperdício de alimento industrializado no Brasil é da ordem de 30%, segundo dados do IBGE.




No processo de embalagem a vácuo, estão associadas a praticidade para o consumidor, a conservação do alimento e a rentabilidade para o produtor. O empacotamento a vácuo estende a vida útil dos produtos em uma quantidade de tempo de 3 a 5 vezes maior que o normal, mas para que isso aconteça é necessário que os produtos sejam mantidos congelados. Desse modo, mesmo alimentos perecíveis podem ser estocados em maior quantidade. Uma praticidade leva à outra. As carnes congeladas tendem a se tornar menos tenras, pois o congelamento enrijece as suas fibras. A praticidade do congelado leva à praticidade do amaciante artificial.    O processo de embalagem é essencial para os produtos alimentícios processados e fracionados. A vantagem propalada das embalagens é a eliminação de intoxicação alimentar. Ironicamente o produto pode já vir contaminado da produção e ao ser embalado no processo a vácuo poderá absorver ainda resíduos tóxicos plásticos no processo de selagem do invólucro, que é por meio de aquecimento. O produto embalado a vácuo fica com o componente químico da embalagem mais próximo do alimento, quase aderindo a ele.

Os aspectos revelados sobre o conteúdo dos alimentos industrializados podem receber a justificativa do beneficiamento, da conservação, qualidade e diversificação, mas os casos de fraude escapam totalmente a essa justificativa. Manipulações grosseiras são ocultas nas perfeições das embalagens. O leite de vaca está entre os produtos mais adulterados no mundo, segundo estudo publicado no Journal of Food Protection. E há mais adulterações: carne de cavalo acrescentada à carne bovina moída, carne bovina misturada com carne de outras espécies, proteína de soja ou vísceras, frutos do mar vendidos como sendo de algumas espécies, mas pertencendo a outras, xarope de milho diluído em mel; sumo de fruta comercializado como cem por cento de polpa com acréscimo de água, açúcar; água, ureia e detergente adicionados a produtos lácteos. Estudos compilados por pesquisadores da Food ChainID apontam outra lista extensa de produtos: azeite de oliva extra virgem, condimentos (pimenta em pó, pó de cúrcuma, açafrão) com corantes artificiais, folhas, cascas e farinha de milho, leite de vaca em pó, vodka, manteiga clarificada, chamada ghee, suco de laranja, vinho, uísque, licor, carne de frango, diferentes tipos de óleos vegetais.  

Certamente nem todos os produtos são falsificados, mas a falta de escrúpulos de empresas, com certificação de qualidade e licença para comercializar, ao adulterarem e falsificarem produtos é vergonhosa e covarde, pois o consumidor em geral não tem recursos técnicos para verificar a autenticidade dos produtos. As fraudes se caracterizam, de acordo com os pesquisadores, pela diluição ou substituição de ingredientes, sendo que 46% das adulterações foram classificadas como potencialmente perigosas para a saúde humana. Entre 34% e 60% dos produtos possuíam pelo menos uma adulteração. Facilidade para os grandes empreendedores do ramo da alimentação é produzir muito em menor tempo para obter grandes lucros, pois esses lucros suplantam com folga os custos. Para isso, necessitam de demanda. A demanda, inclusive, impulsiona a fraude. Quanto mais os produtos industrializados são procurados por causa de sua praticidade, mais são alvos de fraudes.

O quadro geral da alimentação industrializada é preocupante e não é ocultado. As informações estão nos veículos de comunicação (algumas controladas ou atenuadas pelo filtro do patrocínio), as denúncias surgem frequentemente. Por isso, o esforço dos produtores em oferecer alternativas, divulgando e oferecendo o alimento integral, original natural. A situação é tão ostensiva que mesmo pequenos produtores, em feiras locais, de produtos orgânicos, precisam alardear em seus pregões que o que vendem é natural, original. Pagamos cada vez mais caro pelo rótulo natural, original, tradicional ou orgânico em produtos industrializados, pagando, ao mesmo tempo, pelo beneficiamento e embalagem. Na comida congelada paga-se o preço do produto e do gelo, na comida dita saudável, paga-se, muitas vezes, apenas a simulação. Há cada vez mais facilidade na forma de pagar e os produtos estão cada vez mais caros. Os preços e a  dita qualidade são claramente segmentados por classes. São barbaramente segmentados porque o que se está demonstrando é que aqueles que não podem pagar mais podem se nutrir mal, contaminar-se e adoecer. Isso é aceito como normal por alguns que podem escolher consumir melhores produtos e por muitos que não têm escolha. Mesmo pagando mais caro, é possível ser enganado pela simulação de produtos, como falsos ovos caipiras, falsos pães integrais. Marina Colassanti é autora, numa crônica, de uma frase muito apropriada para esse estado de conformação humana: “Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia” (In: Eu sei, mas não devia..., Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 29.10. 1972).


sexta-feira, 19 de julho de 2024

DO FESTIVAL DE BESTEIRAS AO FESTIVAL DE IDIOTICES: UM PASSO APENAS

                                                                                                                   Isaac Warden Lewis

 

O cronista Stanilau Ponte Preta (1923-1968) escreveu o livro “Festival de besteira que assola o país”, informando sobre a hegemonia de besteiras que o povo brasileiro era capaz de produzir. Infelizmente suas crônicas não produziram efeito educativo sobre a maioria da população brasileira que, no século vinte e um, regrediu para produzir Festival de idiotices em todas as áreas do conhecimento, além de cultivar orgulhosamente a pandemia da ignorância juntamente com o Corona vírus. As áreas mais afetadas foram a Política, a Educação, as Ciências Humanas, a Ciência Jurídica, a Medicina (alguns médicos tornaram-se curandeiros ou charlatães. Muitos estudiosos esqueceram que sem mulheres, não haveria humanidade, humanismo, cultura. Isso é percebido na política nossa de cada dia, onde eleitores de todas as classes sociais (favorecidas e desfavorecidas), a maioria analfabeta funcional, elegeu, nas eleições de 2018 e 2022, candidatos que apresentavam níveis avançados de idiotia e de imbecilidade, confirmando a teoria do escritor latino Terêncio,  o qual afirmou que “um idiota sempre encontra outros mais idiotas que o admiram e o seguem”.

O Brasil vem seguindo há muito tempo os exemplos de outros países colonizados, como Uganda, Porto Rico e Haiti, pois os líderes políticos brancos, na sociedade brasileira, assemelham-se a Idi Amin, a famílias Ferdinand Marcos e Imelda Marcos, Papa Doc e Baby Doc e o povo que se comporta como os povos dos países citados, pois ama e adora políticos e empresários norte-americanos, além de acreditar em sua mitológica democracia falsa. Ainda há brasileiros que não acreditam que o território brasileiro constitui sede de uma nação bananeira. Pobres mortais.

Manau, 19 de julho de 2024.

domingo, 24 de março de 2024

LANÇAMENTO

 

                  


                                                          

                                     O FIM DE UM CASAMENTO E OUTROS CONTOS

Este livro reúne doze contos elaborados pelo autor entre 2020 e 2023, inicialmente publicados no blog da Editora Mundo Novo (editoramundonovo.blogspot.com) e agora de forma impressa para atender solicitação de alguns leitores. Os contos narram situações, conflitos e a consciência crítica de personagens de algumas regiões brasileiras como Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Amazonas e Pará. Ressalte-se que qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.

quinta-feira, 14 de março de 2024

A RAIZ DOS PROBLEMAS EM PAÍSES COLONIZADOS

                                                                                                                  Isaac Warden Lewis*

O filósofo Karl Marx nos ensinou que ser radical é ir à raiz das coisas. Na sociedade brasileira colonizada, há algum tempo, alguns políticos oposicionistas criticam e condenam as instituições dessa sociedade, sem se dar ao trabalho de estudar a raiz dos problemas que alegam combater. Acham bonito fazer oposição pelo prazer de fazer oposição e não querem assumir responsabilidade por seus atos. Por isso, não gostam da Revolução francesa ou da Revolução russa ou da Revolução chinesa ou da Revolução cubana porque os revolucionários condenaram seus inimigos à morte.

Nesse contexto, esperávamos, com todo respeito, que o Senhor Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República Federativa do Brasil, analisasse as consequências de suas críticas e de suas ações. A sua crítica ao genocídio praticado pelo governo de Israel contra os palestinos na Faixa de Gaza é pertinente, porém insuficiente para entendermos a raiz do problema. Ele deveria ter criticado também o governo dos Estados Unidos que fornecem armas e apoio logístico para o governo de Israel (um país colonizado) realizar massacre de seres humanos na Faixa de Gaza. Também o Senhor Luiz Inácio Lula da Silva deveria ser radical com relação a todos os genocídios que ocorrem também no Brasil (outro país colonizado). O presidente do Brasil não fez crítica contundente aos genocídios praticados por governadores e secretários de segurança criminosos nazistas do Rio de Janeiro, da Bahia e de São Paulo. Neste último estado, o Senhor Presidente ainda associou-se ao governador para celebrar um contrato de construção de um túnel, tornando-se conivente com os crimes contra a humanidade  da periferia, .praticados pelo governo de São Paulo. Será que a construção de um túnel vale mais que as vidas assassinadas pelo governador e seu secretário de segurança? Essa associação espúria foi comemorada por empresários colonizados nazistas. Lamentamos pelas famílias desfavorecidas que perderam seus parentes tão horrosamente quanto os homens, as mulheres e seus filhos e suas filhas na Faixa de Gaza.

Os colonizadores portugueses massacraram nativos da América e da África com armas produzidas por capitalistas de países colonizadores e com a pregação de amor e conciliação por parte de padres católicos apoiados pelos referidos capitalistas. Precisamos superar essa triste história.

 

..Manaus, março, 2024