quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

SOCIALISMO OU BARBÁRIE: QUAL É A NOSSA OPÇÃO?


                                                                                               ISAAC WARDEN LEWIS
A cada dia, conscientizamo-nos de que o caminho que conduz ao socialismo é extremamente difícil, porém temos de escolher, como propõe Cornelius Castoriadi (1922-1997) entre o socialismo e a barbárie.
O caminho que leva à barbárie é cômodo, facílimo, imediato. Basta sairmos à rua e integrarmo-nos aos valores e às ideias e práticas hegemônicos que permeiam a sociedade capitalista em que vivemos. Para um bom número de jornalistas, magistrados e políticos, isso revelaria que vivemos numa sociedade norteada pelo estado democrático de direito.
Entretanto vejamos alguns exemplos que contradizem tal estado: 1) Crianças, jovens e adultos pobres vêm sendo assassinados impunemente nas favelas das grandes cidades por policiais assalariados por esse estado. 2) O salário do trabalhador brasileiro é considerado renda, por isso ele é confiscado de ¼ de seu salário e, enquanto isso, a elite econômica que detém renda e propriedade nesse país paga impostos inferiores aos dos trabalhadores ou é isenta. 3) A maioria da população brasileira sofre em filas quilométricas para ser atendida nos posto do INSS, enquanto o governo federal declara não ter recursos para melhorar esse atendimento. 4) A maioria dos hospitais não dispõem de infraestrutura apropriada para atender grande parte de seus pacientes, por isso muitos deles morrem na fila antes de serem atendidos. 5) O governo federal investe maciçamente na política de insegurança pública, precarização dos serviços públicos de saúde e da educação e declara não ter recursos para investimento nesses serviços. 6) políticos eleitos para administrar a coisa pública desviam verbas para si, suas famílias e seus aliados e consideram perfeitamente natural misturar bens públicos e privados. 7) A política econômica nacional vem beneficiando os lucros e os negócios de grandes empresários e banqueiros, enquanto arrocha salários dos trabalhadores e reduz direitos duramente conquistados pelos mesmos. 8) Um bom número de profissionais liberais, médicos, advogados, engenheiros, professores, jornalistas, cientistas estão mais preocupados em vender seu saber técnico às elites econômicas e políticas do que colocá-lo a serviço das necessidades e interesses da maioria da população dessa sociedade.
Na verdade, em nível de discurso, fazemos críticas à sociedade capitalista, porém, no dia a dia, comprometemo-nos com as condições objetivas que possibilitam a barbárie em detrimento da construção de uma sociedade justa, igualitária e humana. Não conseguimos perceber que:
A anarquia da sociedade capitalista como existe atualmente é [...] a verdadeira origem do mal. Vemos perante nós uma enorme comunidade de produtores cujos melhores membros lutam incessantemente para despojar os outros dos frutos de seu trabalho coletivo não pela força. Mas, em geral, em conformidade com as regras legalmente estabelecidas [...] (Einstein, Por que o socialismo, Monthly Review, maio, 1949)
Mais adiante, Albert Einstein (1879-1955) caracteriza a sociedade capitalista e revela alguns fatores que dificultam ao ser humano inserido nessa sociedade de ter clareza do processo de alienação produzido por essa sociedade:

O capital privado tende a concentrar-se em poucas mãos, em parte por causa da concorrência entre os capitalistas e em parte porque o desenvolvimento tecnológico e a crescente divisão do trabalho encorajam a formação de unidades de produção maiores à custa de outras mais pequenas. O resultado destes desenvolvimentos é uma oligarquia de capital privado cujo enorme poder não pode ser eficazmente controlado mesmo por uma sociedade política e democraticamente organizada [...] Além disso, nas condições existentes, os capitalistas privados controlam inevitavelmente, direta ou indiretamente, as principais fontes de informação (imprensa, rádio, educação). É assim extremamente difícil e mesmo, na maior parte dos casos, completamente impossível, para o cidadão individual, chegar a conclusões objetivas e utilizar inteligentemente os seus direitos políticos (Einstein, Por que o socialismo, Monthly Review, 1949).
Acentuamos a dificuldade de fazermos opção entre o socialismo e a barbárie porque, no dia a dia, não basta fazermos discursos delirantes em favor do socialismo, de uma sociedade justa e igualitária, e reforçarmos, com os nossos atos, nossos trabalhos e nossas pesquisas, o mundo desigual e injusto, ou seja, a barbárie, em que vivemos. Isso é feito muito bem e hipocritamente pela burguesia, pela classe média, pelos políticos e intelectuais orgânicos a serviço do capital.
Entendemos que a construção de um mundo melhor para todos é responsabilidade de cada ser humano, por isso concordamos com Jean-Paul Sartre (1905-1980) quando diz que “Ser humano em condições inumanas é um desafio aos bárbaros. Que o consigam, é uma vitória da humanidade.”
Se quisermos construir um mundo melhor, temos de fazê-lo ativa e inteligentemente, pois, como afirmou Bertrand Russell (1872-1970): “o homem é o senhor da Terra; o que ele quer, ele pode conseguir através da energia e inteligência.”
A referência a Castoriadis, Einstein, Sartre e Russell não é gratuita. Além de produzirem intelectualmente, eles participaram das lutas quotidianas de seu tempo, fazendo passeatas e manifestações contra as guerras coloniais e pela garantia de todos os seres humanos terem acesso aos direitos civis e a uma vida digna.   
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Do livro “Educação: doutrinação ou desvelamento.

 

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