ISAAC WARDEN LEWIS
A cada dia, conscientizamo-nos de que o caminho que
conduz ao socialismo é extremamente difícil, porém temos de escolher, como
propõe Cornelius Castoriadi (1922-1997) entre o socialismo e a barbárie.
O caminho que leva à barbárie é cômodo, facílimo, imediato.
Basta sairmos à rua e integrarmo-nos aos valores e às ideias e práticas
hegemônicos que permeiam a sociedade capitalista em que vivemos. Para um bom
número de jornalistas, magistrados e políticos, isso revelaria que vivemos numa
sociedade norteada pelo estado democrático de direito.
Entretanto vejamos alguns exemplos que contradizem tal
estado: 1) Crianças, jovens e adultos pobres vêm sendo assassinados impunemente
nas favelas das grandes cidades por policiais assalariados por esse estado. 2)
O salário do trabalhador brasileiro é considerado renda, por isso ele é
confiscado de ¼ de seu salário e, enquanto isso, a elite econômica que detém
renda e propriedade nesse país paga impostos inferiores aos dos trabalhadores
ou é isenta. 3) A maioria da população brasileira sofre em filas quilométricas
para ser atendida nos posto do INSS, enquanto o governo federal declara não ter
recursos para melhorar esse atendimento. 4) A maioria dos hospitais não dispõem
de infraestrutura apropriada para atender grande parte de seus pacientes, por
isso muitos deles morrem na fila antes de serem atendidos. 5) O governo federal
investe maciçamente na política de insegurança pública, precarização dos
serviços públicos de saúde e da educação e declara não ter recursos para
investimento nesses serviços. 6) políticos eleitos para administrar a coisa
pública desviam verbas para si, suas famílias e seus aliados e consideram
perfeitamente natural misturar bens públicos e privados. 7) A política
econômica nacional vem beneficiando os lucros e os negócios de grandes
empresários e banqueiros, enquanto arrocha salários dos trabalhadores e reduz
direitos duramente conquistados pelos mesmos. 8) Um bom número de profissionais
liberais, médicos, advogados, engenheiros, professores, jornalistas, cientistas
estão mais preocupados em vender seu saber técnico às elites econômicas e
políticas do que colocá-lo a serviço das necessidades e interesses da maioria
da população dessa sociedade.
Na verdade, em nível de discurso, fazemos críticas à
sociedade capitalista, porém, no dia a dia, comprometemo-nos com as condições
objetivas que possibilitam a barbárie em detrimento da construção de uma
sociedade justa, igualitária e humana. Não conseguimos perceber que:
A anarquia da
sociedade capitalista como existe atualmente é [...] a verdadeira origem do mal.
Vemos perante nós uma enorme comunidade de produtores cujos melhores membros
lutam incessantemente para despojar os outros dos frutos de seu trabalho
coletivo não pela força. Mas, em geral, em conformidade com as regras
legalmente estabelecidas [...] (Einstein, Por que o socialismo, Monthly Review, maio, 1949)
Mais adiante, Albert Einstein (1879-1955) caracteriza a sociedade
capitalista e revela alguns fatores que dificultam ao ser humano inserido nessa
sociedade de ter clareza do processo de alienação produzido por essa sociedade:
O capital privado tende a concentrar-se em
poucas mãos, em parte por causa da concorrência entre os capitalistas e em
parte porque o desenvolvimento tecnológico e a crescente divisão do trabalho
encorajam a formação de unidades de produção maiores à custa de outras mais
pequenas. O resultado destes desenvolvimentos é uma oligarquia de capital
privado cujo enorme poder não pode ser eficazmente controlado mesmo por uma
sociedade política e democraticamente organizada [...] Além disso, nas condições
existentes, os capitalistas privados controlam inevitavelmente, direta ou
indiretamente, as principais fontes de informação (imprensa, rádio, educação).
É assim extremamente difícil e mesmo, na maior parte dos casos, completamente
impossível, para o cidadão individual, chegar a conclusões objetivas e utilizar
inteligentemente os seus direitos políticos (Einstein, Por que o socialismo, Monthly Review, 1949).
Acentuamos a dificuldade de fazermos opção entre o
socialismo e a barbárie porque, no dia a dia, não basta fazermos discursos
delirantes em favor do socialismo, de uma sociedade justa e igualitária, e
reforçarmos, com os nossos atos, nossos trabalhos e nossas pesquisas, o mundo
desigual e injusto, ou seja, a barbárie, em que vivemos. Isso é feito muito bem
e hipocritamente pela burguesia, pela classe média, pelos políticos e
intelectuais orgânicos a serviço do capital.
Entendemos que a construção de um mundo melhor para todos
é responsabilidade de cada ser humano, por isso concordamos com Jean-Paul
Sartre (1905-1980) quando diz que “Ser humano em condições inumanas é um
desafio aos bárbaros. Que o consigam, é uma vitória da humanidade.”
Se quisermos construir um mundo melhor, temos de fazê-lo
ativa e inteligentemente, pois, como afirmou Bertrand Russell (1872-1970): “o
homem é o senhor da Terra; o que ele quer, ele pode conseguir através da
energia e inteligência.”
A referência a Castoriadis, Einstein, Sartre e Russell
não é gratuita. Além de produzirem intelectualmente, eles participaram das
lutas quotidianas de seu tempo, fazendo passeatas e manifestações contra as
guerras coloniais e pela garantia de todos os seres humanos terem acesso aos
direitos civis e a uma vida digna.
___________________ Do livro “Educação: doutrinação ou desvelamento.
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