Isaac Warden Lewis
Márcio Souza, em
seu livro “História da Amazônia: do período pré-colombiano aos desafios do
século XXI”, registra a compreensão de um tuxaua da região do Sinu, na atual
Colômbia, sobre a versão europeia do “descobrimento e da conquista da América”:
“Concordamos que
há um só Deus, mas quanto o que diz o Papa, de ser o Senhor do Universo e que
havia feita mercê destas terras ao Rei de Castela, este Papa somente poderia
ser um bêbado quando o fez, pois dava o que não era seu. E este rei que pedia e
tomava esta mercê, devia ser louco, pois pedia o que era dos outros. Pois venham
toma-la, que colocaremos as vossas cabeças nos mastros [...]” (2019, p. 112).
Com poucas
palavras, o tuxaua da região do Sinu
resume a patifaria realizada pelos europeus , ao invadirem as terras da
América, África e da Ásia. Inicialmente, desvela a mentira elaborada pelos
europeus de que eram homens inteligentes, superiores e que os homens dos
continentes invadidos eram tolos, imbecis, ignorantes, inferiores. Revela
também que os invasores europeus da América eram vigaristas que inventavam
histórias para ludibriar os povos que viviam nas terras invadidas, portanto,
eram vigaristas os religiosos que apoiavam os invasores, estes eram, vigaristas
´profissionais que invadiam terras alheias para se apropriarem delas, de seus
recursos naturais e da força de trabalho dos nativos através da escravização,
utilizando, para isso, armas de fogo, desconhecidas dos habitantes das terras
invadidas.
Para garantir
seus interesses, elaboravam leis civis e religiosas, estabelecendo seu direito
a tudo que encontrassem nas terras invadidas. Para completar, seus cronistas e
escribas, como Luís de Camões e José de Alencar, por exemplo, abstraíam os
crimes, as violências e as hipocrisias cometidas pelos invasores europeus e
louvavam suas ações como heroicas e épicas. Nessas histórias, os nativos eram
sempre bandidos, selvagens, bárbaros e os invasores, homens virtuosos, como o
padre José de Anchieta que condenava os índios que se recusavam a acreditar nas
mentiras dos colonizadores e os
bandeirantes que faziam expedições para matar, capturar e escravizar índios.
Até há pouco tempo, eram poucos os escritores ou historiadores que estabeleciam
seriamente a verdade sobre as invasões dos europeus em territórios da América,
África e da Ásia.
Hoje temos
acesso a livros que relatam a vitória dos Zulus, em uma batalha contra as
tropas invasoras inglesas na África do Sul. Márcio Souza, em seu livro, mencionado
acima, relata várias derrotas de tropas invasoras portuguesas ao invadirem
aldeias, malocas com o objetivo de cometer genocídios e capturar índios para
explorá-los como escravos no Amazonas e no Pará. As glórias cantadas e louvadas
pelos colonizadores portugueses são sempre de guerras empreendidas covardemente
com armas desconhecidas dos nativos, entretanto, em várias batalhas, os nativos seminus e com lanças derrotaram os
europeus brava e inteligentemente.
De modo geral, a
história oficial sobre a invasão dos portugueses em território brasileiro
mantém os fatos verdadeiros encobertos por mentiras e mais mentiras que servem
para elevar a auto-estima de alguns luso-brasileiros e mamelucos que se julgam
no direito de explorar a terra e seus habitantes como se tivessem recebido uma
herança milenar dos reis portugueses, ignorando e abstraindo que os nativos da
América viviam nessa terra há milhares de anos e sabiam como cultivá-la e
preservá-la,
Vigaristas
atraem vigaristas na razão direta de seus interesses (geralmente mesquinhos) e
repelem-se na razão inversa desses interesses. Vigaristas chegaram à América
com apoio de capitalistas europeus, também vigaristas, que buscavam expandir seus
negócios para além das fronteiras europeias. Os reis vigaristas portugueses
apoiaram as iniciativas de invasão de “novas” terras com o objetivo de
expropriá-las, autorizando os genocídios de povos que recusassem a tutela do estado colonial
português. Os papas, bispos e os padres vigaristas das ordens religiosas
católicas acompanharam e apoiaram as invasões de “novas terras”, os genocídios
e a escravização dos sobreviventes, convencendo-os a aceitarem a tutela do
estado português para serem recompensados pela amor de Cristo, da mãe de Cristo
e de deus depois da morte. Além disso, as caravelas trouxeram séquitos de
medíocres, ignorantes, imbecis, idiotas que fugiam de pensamentos filosóficos,
científicos e educacionais que contestavam a visão de mundo medieval que
mantinha a humanidade europeia pobre, ignorante e estúpida. Os invasores
portugueses pretendiam preservar a visão medieval do mundo entre as populações
do “Novo Mundo” através da violência, vigarice, corrupção, mentira e do
banditismo “legal”.
É essa cultura
que continuou predominando hegemonicamente após a independência do país de
Portugal. É claro e evidente que os heróis que fizeram a independência no
Brasil não leram nem entenderam as filosofias do Iluminismo e da Revolução
Francesa (1789). A maioria dos luso-brasileiros e mamelucos organizaram o país
como uma feitoria para atender as necessidades mercantis, industriais e
agrícolas dos capitalistas das metrópoles
ocidentais. É por isso que a vida social e política em vários países
colonizados são muito semelhantes. O sistema burocrático, jurídico, militar,
policial e político existe como função administrativa da feitoria brasileira
que é igual no Haiti, Porto Rico, Panamá, Congo, República Dominicana,
Venezuela etc. Somente as classes
favorecidas brasileiras, alienadas e iludidas, imaginam que o país se
desenvolverá, aliando-se a uma potência imperialista capitalista, tal como se
iludiram os haitianos, os
porto-riquenhos, os panamenhos e as classes favorecidas da Venezuela e de
outros países colonizados. Por isso, as classes desfavorecidas precisam ter consciência de não se alienar ou
se iludir com os objetos de desejo das classes favorecidas. Como bem nos ensinam
Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895): “A história de todas as
sociedades até hoje existentes é a história da luta de classes”.
O filme “Os sete
samurais”, idealizado e dirigido pelo cineasta japonês Akira Kurosawa
(1910-1998), produzido em 1954, conta a história de um lugarejo, onde viviam e
trabalhavam lavradores. Na época da colheita, bandidos milicianos invadiam o
lugarejo, assaltando e matando vários moradores, e apossando-se de sua
produção. Os camponeses resolveram contratar um samurai experiente que
convenceu mais seis samurais para defenderem o lugarejo. Os samurais organizam
a luta com apoio e participação dos lavradores e conseguem matar todos os
bandidos invasores de suas terras. Esse filme tem um final feliz: Os camponeses
e as camponesas podem, depois da luta, voltar para as suas atividades: Cultivar
a terra que lhes dará seu sustento. Na
refrega, quatro samurais morreram. O líder dos samurais comenta com outros dois
sobreviventes: “Nós perdemos mais uma vez, os lavradores venceram”. Essa
história retrata, de um certo modo, a história dos povos indígenas brasileiros
e de outros países colonizados e de suas culturas: A terra é de todos e não de
uma minoria de vigaristas nacionais e internacionais, por isso, os povos
nativos da América, da África e da Ásia continuarão sua luta para sobreviver
dignamente.
E para
entendermos o mundo colonial pós
“independência”, outros livros merecem ser lidos, como: 1. Amazônia indígena,
também de Márcio Souza (2015); 2. Povos indígenas: terra, cultura e lutas, de
Benedito Prezia, Beatriz Maestri e Luciana Galante (2019); 3. História da resistência indígena: 500 anos de
luta, de Benedito Prezia (2019); 4.
Violência contra os povos indígenas (Relatório), CIMI – Conselho Indigenista
Missionário: Dados de 2017.
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