quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

O CONTEXTO POLÍTICO SOCIAL EM PAÍSES COLONIZADOS

                                                                                        Isaac Warden Lewis* 

O assassinato do cidadão negro brasileiro,    João Alberto Silveira Freitas, no dia 19 de novembro de 2020, expõe, de maneira contundente, a relação COLONIZADORES VERSUS PAÍSES COLONIZADOS, em especial, no Brasil. A proclamação da independência (1822), a proclamação da abolição e a proclamação da república (1889) não mudaram o estatuto de país colonizado da nação brasileira. Isso porque o modo de produção de produtos agrícolas para exportação continuou sendo o projeto produtivo da sociedade constituída de duas classes: 1) a classe favorecida (cuja maioria é mameluca), encarregada de  administrar e controlar o país como se fosse uma simples feitoria, produzindo produtos agrícolas e minerais para atender a demanda dos países colonizadores e 2) a classe desfavorecida, cuja maioria tem sido obrigada a produzir sob regime de escravidão, de servidão e, agora, “livremente” em favor das classes favorecidas nacionais colonizadas e das classes privilegiadas colonizadoras dos grandes centros econômicos europeus e dos Estados Unidos.

Na independência, a terra usurpada dos índios pelos colonizadores portugueses não foi devolvida aos nativos da terra. A exploração da mão de obra dos africanos escravizados pela força e de seus descendentes não foi devidamente indenizada. A reforma agrária para possibilitar o seu usufruto pela maioria da população nunca foi realizada pelas classes favorecidas, que continuaram a aceitar como legais os conteúdos da bula papal, das ordenações do reino português que consideravam que a terra e o produto dela era monopólio de europeus e de luso-brasileiros. Além disso, o sistema político, jurídico, militar e policial brasileiro continuou perseguindo os nativos dos territórios invadidos da América, da África e da Ásia, como atestam as invasões continuadas das terras indígenas, quilombolas, sendo que os referidos invasores acabam adquirindo o direito à posse dessas terras. Há poucos meses, indígenas e ribeirinhos, moradores na margem do rio Abacaxis, em Borba, no Amazonas,  foram assassinados pela polícia militar. Por acaso, o governador, o secretário de segurança, os policiais foram punidos? O estado indenizou as famílias das vítimas pela barbárie e violência cometidas contra elas e suas comunidades? O sistema político, jurídico, militar e policial (incluindo empresas de segurança particulares) age como força mercenária e miliciana a serviço das classes favorecidas que, por sua vez, estão a serviço das classes privilegiadas de países colonizadores.

A morte de João Alberto Silveira Freitas, as mortes de favelados no Rio de Janeiro e em São Paulo, de índios por policiais, o desrespeito aos direitos das mulheres e de negros nos tribunais mostram que a cultura colonialista prevalece no estado burocrático de direito, constituído para parecer uma “sociedade civilizada”. A educação dos profissionais liberais realiza-se para que os egressos das escolas elementares e superiores assumam cargos para atender as demandas do estado burocrático de direito. Essa educação (com raras exceções) segue o modelo das escolas jesuíticas e universitárias medievais (Coimbra e Salamanca) que formavam letrados (médicos, advogados, engenheiros, policiais, militares, ministros, políticos) para operacionalizar as leis pré-históricas e medievais contidas nas bulas papais e nas Ordenações do reino português.

Por sua vez, que setor da sociedade francesa a empresa Carrefour representa, de fato? Vale lembrar que, na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), franceses combateram tanto o fascismo (a Itália) quanto o nazismo (a Alemanha).  Os empresários franceses não deveriam desconhecer o nível inferior civilizatório do estado brasileiro, cujas lideranças políticas e empresariais estão sempre propensas a atenderem os interesses  das classes privilegiadas de países colonizadores e imperiais, perpetuando, desse modo, barbáries, discriminações racial e de gênero contra os nativos de origem indígena e africana. Afinal de contas, os colonizadores franceses invadiram os continentes americanos, africanos e asiáticos adotando as mesmas barbáries e discriminações contra os nativos desses continentes em nome da “civilização” e do “cristianismo”, além de insinuar que estavam propagando os princípios de “liberdade, igualdade e fraternidade”, elaborados pelos revolucionários populares franceses de 1789. Também os empresários franceses sabem que países colonizados, como o Brasil, não possuem burguesia como essa categoria social é entendida na Europa. Esse país tem, na verdade, empreendedores emergentes que se apresentam como burgueses, sem terem a noção de suas responsabilidades como agentes sociais, fundadores de uma nação realmente burguesa. Classe média, por isso, é uma categoria social inexistente, funcionários públicos  se intitulam classe média. O alto número de supermercados de propriedade de empresas estrangeiras, os quais comercializam os produtos agrícolas e industriais na maioria das cidades brasileiras demonstra a incapacidade dos empreendedores emergentes brasileiros para assumirem responsabilidade pelo controle e administração da atividade comercial nacional. A atitude dos administradores franceses em querer reparar o irreparável é até louvável, mas tal atitude seria desnecessária se os empresários franceses (e outros estrangeiros, de modo geral), agissem civilizadamente nos países colonizados, contrapondo-se às atitudes colonialistas pré-históricas e medievais das classes favorecidas luso-brasileiras. Há pouco, autoridades políticas francesas declararam que os terroristas islâmicos eram bárbaros, desumanos e impiedosos. O que essas autoridades teriam a declarar com relação aos colonizadores e colonos cristãos franceses que invadiram territórios da América, da África e da Ásia, praticando barbáries e genocídios?

Vale ressaltar que nos países colonizadores (do século XVI ao XX), como o Reino Unido, a França e os Estados Unidos da América (país frankenstein  que adota política externa imperialista e política interna colonizada), setores significativos da população têm manifestado sua oposição a intervenções militares e empresariais desonestas  em países colonizados. Vale lembrar que, desde a década de 1950, intelectuais e escritores franceses apoiaram corajosamente as lutas anticoloniais realizadas pelos povos americanos, africanos e asiáticos. Nos Estados Unidos, desde a década de 1960, estudantes, professores e intelectuais norte-americanos têm-se manifestado contra a política imperialista e armamentista de seu país.

O assassinato de João Alberto é um episódio lamentável (no dizer do general Hamilton Mourão, formado pela Academia Militar das Agulhas Negras e em academia norte-americana). Na verdade, esse episódio é recorrente e conhecido por índios, negros, brancos, mulatos, mamelucos e cafuzos despossuídos criminosamente pelos colonizadores portugueses e seus descendentes luso-brasileiros. O episódio João Alberto acabou levando parcela significativa da população brasileira às ruas para manifestar sua discordância de práticas racistas, xenofóbicas e de gênero realizadas por setores políticos, jurídicos, empresariais, militares, policiais, desmentindo as declarações do general Hamilton Mourão e do capitão do mato Sérgio Camargo de que, no Brasil, não há racismo, não há crimes ambientais, não há incompetência política e administrativa. Esses senhores seriam capazes de dizer o que, no Brasil, não foi importado? Afonso Henriques Lima Barreto, em seu romance “Triste fim de Policarpo Quaresma”, criou um personagem que queria resgatar a cultura original do Brasil. Efetivamente, somente os conhecimentos indígenas (inclusive, a cultura do banho) são originais e foram desenvolvidos muito antes de os europeus chegarem a esse país. Sabemos que, afora a cultura indígena, os mitos gregos, os mitos romanos, os mitos hebraicos, os mitos europeus, os mitos africanos, as igrejas evangélicas, o culto ao militarismo, a falsa política, tudo isso e muito mais foram importados. Na França, os médicos que atendem africanos, costumam humildemente ouvir e respeitar os conhecimentos dos xamãs africanos antes de realizar procedimentos médicos em seus pacientes africanos. No Brasil, os antropólogos brasileiros  têm dialogado com os indígenas e quilombolas sobre seus conhecimentos tradicionais.

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A POLÍTICA NOS PAÍSES COLONIZADOS

 Isaac Warden Lewis* 

Pessoas de todos os países do mundo estão tendo a oportunidade de apreciar o espetáculo da cultura pseudodemocrática dos Estados Unidos da América do Norte (excluindo o México e o Canadá) em sua eleição presidencial de 2020. Vale dizer que antes de ser um estado democrático de direito, os Estados Unidos são, na verdade, um estado burocrático de direito tal como os países colonizados da América Latina, da África e da Ásia. Podemos entender por que os líderes políticos e militares dos Estados Unidos, a serviço do seu Complexo Industrial-Militar,  utilizaram a força para implantar ditaduras nas Filipinas, na República Dominicana, Guatemala, Argentina, no Haiti, Chile, Brasil etc. ou apoiaram regimes pseudodemocráticos em várias partes do mundo. Para a elite política norte-americana (formada em escolas e universidades, ditas democráticas), esses países tinham de ser a imagem e semelhança dos Estados Unidos: Países com forças armadas fantoches e sistema político, jurídico-policial corrupto para controlar a população nativa, garantindo, desse modo, os interesses  das classes privilegiadas de países colonizadores imperialistas e das classes favorecidas dos países colonizados (incluindo os Estados Unidos).

Essas classes privilegiadas e classes favorecidas são herdeiras dos invasores europeus (espanhóis, portugueses e ingleses) que abandonaram a Europa a partir do século XVI, trazendo, em sua bagagem  bíblias e armas de fogo e a recusa sistemática em aceitar ideias novas sobre o mundo, o universo que haviam sido desenvolvidas a partir do século XV por cientistas como Nicolau Copérnico (1473-1543), Johannes Kepler (1571- 1630), Galileu Galilei (1564-1642), entre outros. Tais ideias científicas refutavam  totalmente as historinhas pré-históricas contidas na bíblia. Os invasores católicos e protestantes trouxeram as novas experiências mercantilistas que vinham se desenvolvendo nos burgos da Europa. Para esses invasores, pobres e ignorantes, o que importava era o lucro. Não lhe importavam tanto os conhecimentos científicos produzidos na Europa quanto os conhecimentos tradicionais dos povos nativos da América, África e da Ásia, a não ser, desvirtuando-os para servir seus interesses mesquinhos. Desse modo as ideias de reforma religiosa, do humanismo, do renascimento, do iluminismo, da revolução inglesa, revolução francesa, do socialismo, foram totalmente amesquinhadas para produzir ideias de democracia, humanismo, cristianismo, civilização totalmente deturpadas, empobrecidas, para beneficiar as classes capitalistas e favorecidas norte-americanas e isso ocorreu também em países colonizados da América Latina, África e da Ásia. Para os colonizadores europeus, civilização era barbárie, democracia era ditadura, participação política era golpe de estado, além de praticarem genocídio, racismo, xenofobia, misoginia e intolerância religiosa. É por isso que os sistemas políticos, jurídicos, militares, policiais, educacionais dos Estados Unidos e dos países colonizados da América Latina, África e Ásia são muito parecidos, produzindo burocratas e letrados que ainda se orientam, profissional e intelectualmente, pelas Ordenações, elaboradas, na Idade Média, por reinos europeus para orientarem e explorarem as populações nativas da América, África e Ásia, com o objetivo de se apropriarem de seus recursos materiais e naturais.

É importante ressaltar que imigrantes de todas as partes do mundo, adeptos de ideias renascentistas, iluministas, revolucionárias, libertárias e científicas também aportaram ao continente americano, o que explica, de certo modo, o desenvolvimento de pensamento crítico em vários setores culturais e artísticos da sociedade norte-americana.

Contrapondo-se aos colonizadores europeus e aos seus herdeiros, os nativos da América, África e Ásia têm empreendido lutas para defender sua terra, vida, cultura, seus direitos, apesar de contarem com armas desproporcionais com relação as armas possuídas pelos europeus. Isso explica os morticínios, as barbaridades e as ações terroristas praticados pelos colonizadores contra os povos (homens, mulheres e crianças) dos territórios invadidos. Do mesmo modo, os setores desfavorecidos dos países colonizadores não puderam impedir que as classes privilegiadas e favorecidas cometessem crimes contra a humanidade nos países invadidos. Contemporaneamente, temos testemunhado setores da população de países colonizadores (Estados Unidos, Reino Unido, França etc.) protestarem contra o envio de tropas militares ou a intervenção de força de seus governos nos países outrora colonizados.