A pandemia do coronavirus no Brasil tem exacerbado a cultura do esquecimento e da
alienação de segmentos tanto das classes favorecidas quanto das classes
desfavorecidas, de tal sorte que os comportamentos de alienação e de
esquecimento são confundidos. A Biologia ensina que o desenvolvimento de vírus
e bactérias pode ocorrer à revelia da vontade dos seres humanos. Isso significa
que as instituições científicas precisam estar vigilantes e preparadas para
evitar ou minorar os impactos de tais ocorrências.
O primeiro aspecto a ser observado
são os pronunciamentos de autoridades, especialistas e de políticos que
pretendem transmitir didaticamente os problemas do COVID-19 e as possíveis
soluções para a população, constituída, em sua maioria, de analfabetos
absolutos e funcionais, utilizando palavras inglesas, como fake news, guidelines, lock down, knock down, delivery, live, break,
workshop, paper, home office. Esse comportamento das autoridades e
especialistas é deveras estranhíssimo, pois muitas dessas autoridades afirmam
que “o Brasil será um grande país” ou referem-se a esse país como a “pátria
amada”.
O segundo aspecto comportamental a
ser observado refere-se ao fato de políticos, ministros, empresários e
profissionais liberais alardearem continuamente que o Brasil é a oitava maravilha
capitalista do mundo, porém não explicitam por que o Brasil, independente há
duzentos anos, não consegue fabricar produtos médicos hospitalares para atender
a necessidade dos seus profissionais da saúde e da sua população e precisa
depender da produção de países do Oriente (Coréia, Índia, China) que iniciaram
seu desenvolvimento industrial há menos de cem anos.
O terceiro fato a ser observado é a
louvação que autoridades da saúde, políticos e empresários fazem do SUS – Sistema
Único de Saúde. Louvam-no como o maior sistema público de saúde do mundo (1).
Essa louvação assemelha-se a outras louvações, como, por exemplo, a ideia de
que o Brasil é um estado democrático de direito (2). Essas louvações referem-se
ao que se proclama sobre o SUS ou ao Brasil e não ao sistema real de saúde ou
ao Brasil real.
1 – Não devemos esquecer que antes
da chegada do coronavirus, o Sistema
Único de Saúde estava praticamente falido, quase parando. Ele era público,
porém contava com parcerias estranhas com muitas clínicas e hospitais
particulares. Os planos de saúde nem sempre se revelavam como tal, mais
parecendo planos de morte. Muitos egressos de Faculdades de Medicina cometeram
erros letais e os Conselhos de Medicina nunca se revelaram órgãos científicos
de investigação eficientes. Nem mesmo as faculdades foram responsabilizadas
pelas incompetências de seus egressos. Quando o SUS foi criado, as faculdades
de medicina não foram avisadas, preparadas ou orientadas para formar
profissionais comprometidos com os interesses e as necessidades da maioria da
população brasileira.
2 – Precisamos lembrar que o Brasil
real tornou-se independente e uma república através do protagonismo de
senhores, senhoras e traficantes de escravos e de poucos elementos das classes
emergentes que nunca entenderam ou assumiram
as lutas pela democracia e pela república, defendidas pelos
revolucionários franceses em 1789. O resultado disso é o país ser mais um
estado burocrático de direito do que um estado democrático de direito. Os
dispositivos discriminatórios e excludentes das ordenações coloniais
portuguesas foram reproduzidos nas constituições do império e da república. Uma
das consequências perversas da apropriação do estado brasileiro pelas classes favorecidas
do período colonial foi a monopolização das terras e de seus recursos naturais
e minerais por essas classes e sua cessão exclusiva para classes privilegiadas
das metrópoles colonizadoras. Dessa forma, ocorre a concentração de terras em
mãos de minorias, restando às classes desfavorecidas a ocupação em mangues,
morros, terrenos precários, onde passaram a viver. Por isso as epidemias e
pandemias atingem perigosamente essas populações.
O último aspecto a ser
observado refere-se à insistência de grupos supostamente religiosos cristãos
que pretendem confundir crenças com conhecimentos. Qualquer hora, esses grupos
vão querer instituir diplomas e certificados para as suas crenças. Esquecem
esses falsos religiosos, fanáticos e fundamentalistas, que em 1978, na Guiana
Inglesa, Jim Jones, um messias que confundia crenças religiosas com vários
conhecimentos, liderou suicídio em massa de mais de novecentos membros de sua
Igreja Templo dos Povos, além de assassinatos de 300 crianças e de adultos que
se recusaram a seguir as determinações de suicídio do messias. Quando ele
nasceu, sua mãe acreditava que ele era “o messias”. Concluímos que tanto a
alienação propicia esquecimento quanto o esquecimento induzido ou voluntário
propicia alienação. A História ensina fatos políticos, sociais e religiosos para
quem quer aprender.
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