Isaac Warden
Lewis*
A realidade social e política de um
país colonizado, como o Brasil, é mais fantástica do que a ficção produzida por autores latino americanos
(incluindo autores luso brasileiros). Stanilaw Ponte Preta produziu livros, na
década de 1960, revelando o festival de besteiras que assolava o país,
denominado Brasil. Percebemos que há necessidade de autores brasileiros
debruçarem-se sobre os festivais de besteiras do Brasil Colônia, Brasil Império
e do Brasil República pós morte de Stanilaw Ponte Preta. Possivelmente essa gigantesca
obra deveria chamar-se Festival de Horrores que assolaram/assolam o país. Há necessidade, por exemplo, de alguém ir
estudar na Universidade de Chicago e retornar ao Brasil para afirmar que os
servidores públicos brasileiros são parasitas, sem explicitar que servidores
são realmente parasitas ou dizer que até as empregadas domésticas estão
viajando para Disney? Será que alguém que estudou na Universidade de Chicago
sabe que, no Brasil Colônia e Brasil Império, traficantes, senhores e senhoras
escravagistas analfabetos viajavam para
Paris para comprar roupas, perfumes e livros em francês somente para exibição?
Precisamos
lembrar que a proposta de educação democrática, defendida por John Dewey e
outros filósofos educacionais americanos, formou/forma jovens doutores que entraram/entram
em bombardeiros e jogaram/jogam bombas
em países orientais (Japão, Vietnam, Iraque) sem remorsos de serem
heróis genocidas. Que educação
democrática é essa? Na década de 1960, muitos oficiais militares de países
latino americanos (incluindo o Brasil, é claro) foram estudar nos Estados
Unidos e, ao retornarem aos seus países, participaram de golpes militares
contra os governos democráticos que não eram da simpatia do Complexo Industrial
Militar dos Estados Unidos. Não haveria necessidade de a Secretaria Estadual de
Educação de Rondônia explicitar que formação tiveram e onde se formaram os
assessores e os técnicos educacionais que censuraram os livros de Machado de
Assis, Mário de Andrade, Euclides da Cunha, Rubem Fonseca, Ferreira Gullar,
Nelson Rodrigues, Carlos Heitor Cony, Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira,
Franz Kafka, Edgar Allan Poe, entre outros?
Em um país onde a grande maioria da
população é constituída de analfabetos funcionais com diplomas, que necessidade
há ou que sentido faz censurar os livros dos autores citados pelos censores ou
inquisidores modernos? Esses inquisidores censores leram funcionalmente quantos
livros durante sua formação escolar? Arriscamos afirmar que nem leram os livros
da bíblia que costumam chamar de sagrados. Se tivessem lido funcionalmente a
bíblia, teriam observado que ela está
cheia de ideias e conteúdos inapropriados, como preconceitos e discriminações
contra os outros, contra as mulheres, além de informações incorretas sobre o
mundo, a natureza e sobre os seres humanos. Os censores inquisidores deveriam ficar
atentos às ideias e aos conteúdos contidos nos livros sagrados de todos os
povos. O que sabem dos livros que
constituem a bíblia foi-lhes contado por algum pastor. Como foi a formação desse pastor?
Quantas vezes esse pastor viajou para os Estados Unidos para receber
orientações de como alienar as mentes e os corações dos crentes do Terceiro
Mundo? Do mesmo modo, precisamos saber como se dá a formação de um juiz,
secretário de polícia, policial, militar, médico, professor, advogado em um
país colonizado que não mudou a formação de sua casta política escravagista com
a proclamação da independência, com a proclamação da abolição, com a
proclamação da república. A propósito, o roteiro do filme “Queimada” (1969),
dirigido por Gillo Pentecorvo, revela como um país colonizado por um país
europeu pode se tornar independente, tornando-se, ao mesmo tempo, colonizado
por outro país imperialista.
A realidade social e política
fantástica do Brasil seria melhor compreendida, se tivéssemos algumas das
respostas para as perguntas feitas nos parágrafos anteriores. Talvez a leitura
dos livros “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury; “O admirável mundo novo”, de
Aldous Huxley; “1984”, de George Orwell; “A crônica da morte anunciada”, de Gabriel
Garcia Marques, “O inspetor geral”, de Nicolai Gogol; “O processo”, de Frank Kafka,
“Os ratos”, de Dyonelio Machado seja suficiente para entendermos a sociedade
colonizada brasileira fantástica. Mas, atenção, é preciso adquirir esses livros
urgentemente antes que os inquisidores censores dos tempos das trevas medievais
contemporâneas resolvam censurar esses livros.