Isaac Warden Lewis
Quando os portugueses e espanhóis
chegaram na Amazônia a partir do século
XVI, os nativos desse território já adotavam processos de produção e de
manutenção de suas vidas de modo que a fauna, a flora, o solo e os recursos
hídricos não se deteriorassem. Os europeus ignoraram a sabedoria dos nativos que
viviam na região centenas e centenas de anos antes da chegada dos europeus. Os
nativos da Amazônia sabiam que todos os elementos da floresta se relacionavam
entre si de modo que qualquer alteração drástica em um elemento prejudicava
drasticamente outro ou outros elementos que compunham a flora e a fauna da
floresta. Na realidade, os nativos da América, África e Ásia sabiam que havia
conexão entre o ar, a água, as plantas, os animais e os seres humanos muito
antes de os ambientalistas europeus, norte-americanos ou japoneses fazerem tal
descoberta a duras penas.
A população nativa, ao reagir à
obrigação de atuar danosamente sobre os frutos da terra e sobre a própria terra
como trabalhadores escravos, foi considerada preguiçosa pelos colonizadores, que pretendiam viver da
escravização da população nativa sem trabalharem, eles, sim, preguiçosos e
exploradores de povos e de terras
invadidas.
No século XVI, os reis ou as
rainhas de Portugal, os funcionários e os letrados da corte portuguesa
insistiram em afirmar hipocritamente que os nativos da América e da África eram
preguiçosos, indolentes e selvagens com o objetivo de mascarar suas condições
de espoliadores dos habitantes, exploradores das terras invadidas e sua
tradicional preguiça em trabalharem para produzir suas próprias condições de
vida.
Dessa forma, não nos surpreendemos
que um juiz, um procurador, um ouvidor, um secretário de segurança um médico,
um advogado, um político, um militar ou um policial da época contemporânea faça
declarações preconceituosas contra os nativos da América ou da África e de seus
descendentes, como, por exemplo: “Índio não gosta de trabalhar” ou “Negro não
gosta de trabalhar”. Na verdade, esses profissionais tentam mascarar e justificar os crimes
perpetrados pelas classes favorecidas de Portugal (no período colonial) e do
Brasil (latifundiários, traficantes, senhores e senhoras de escravos e os
letrados que serviam os interesses das classes favorecidas) no período do
império.
O que os jornais, revistas ou livros deveriam revelar é onde e como
esses profissionais se formaram. Revelar as instituições educacionais
(públicas, particulares ou militares) que formam profissionais liberais ou
militares preconceituosos, racistas e ignorantes. Esses profissionais esquecem
que, no Brasil-Colônia e no
Brasil-Império, a maioria dos índios, negros, mamelucos, mulatos, cafuzos não
tinha acesso a conhecimentos científicos e os letrados e as classes favorecidas
podiam expressar seus preconceitos como se fossem conhecimentos supostamente
verdadeiros. Porém, no Brasil contemporâneo, os índios, os negros e os outros
elementos das classes desfavorecidas estão reescrevendo a história do país,
chamado Brasil, resgatando a sua história
coletiva, refazendo a educação de seus filhos e aprofundando o entendimento da
realidade natural e social em que vivem. Em suas comunidades, os filhos de
índios e de negros podem aprender melhor do que nas escolas comprometidas com
projetos de país colonizado, subordinado a países colonialistas. Um provérbio
bantu ensina que: “Uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas”. Acrescentamos:
Tanto para o bem, como para o mal.