ALIENAÇÃO
ESTRUTURAL EM PAÍSES COLONIZADOS
Isaac Warden Lewis*
Os
ideólogos capitalistas colonialistas sabem muito bem, mas fingem ignorar, que a
alienação é estrutural nas sociedades colonizadas, vinculadas à ordem
capitalista dependente. Isso significa dizer que tanto as classes favorecidas
quanto as classes desfavorecidas são alienadas para possibilitar as injustiças,
as desigualdades, a cultura da ignorância, o regime de propriedade privada, a
sacralização do mistério, o desprezo pela ciência e a naturalização da pobreza
material e intelectual da maioria de homens e mulheres que vivem nos países
colonizados.
As
Ordenações dos reis de Portugal e as bulas dos papas da Igreja Católica Apostólica
Romana continham os preconceitos, o racismo e a xenofobia estruturais que os
invasores europeus e seus descendentes deveriam adotar contra os seres humanos
que, por ventura, fossem encontrados nos territórios invadidos da América,
África e Ásia. Por sua vez, os capitalistas europeus financiaram a fabricação
de embarcações para descoberta de novas terras e a invenção de armas de fogo
para que os invasores se protegessem dos nativos que, por ventura, tentassem
impedir a exploração dos recursos agrícolas e minerais e a espoliação da sua força
de trabalho. É evidente que as classes privilegiadas europeias (capitalistas,
os reis e as suas cortes, os dignatários eclesiásticos) esperavam auferir
grandes lucros através das ações determinadas para as classes favorecidas
(latifundiários) e desfavorecidas nas novas terras. Era através da violência
que as classes favorecidas agiam contra as pessoas das classes desfavorecidas
(nativos da América, África e Ásia) obrigando-as a trabalhar à força nas terras
açambarcadas pelos invasores, impondo nessas terras as normas de propriedade
criadas por capitalistas europeus a partir do século XVI.
No
texto “Manifesto do Partido Comunista”, Marx e Engels declararam que “A
história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história
das lutas de classes”, /”Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e
servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e
oprimidos, em constante oposição têm vivido numa guerra ininterrupta, ora
franca, ora disfarçada [...]”
Os
autores informam que, na época moderna, a burguesia e o proletariado
confrontam-se, para defender seus respectivos interesses. Eles deixam claro que
a burguesia, através da grande indústria, ampliou seus negócios em todo mundo,
determinando os modos e as relações de produção, impondo formas de governo,
mais precisamente, de administração
pública que beneficiam seus interesses. Desse modo, podemos inferir que
a invasão do território brasileiro pelos portugueses, a apropriação das terras
dos nativos, os genocídios praticados contra homens, mulheres e crianças
nativos da América e da África, a escravização desses nativos atenderam os
interesses gananciosos não só de colonos portugueses como das classes
privilegiadas europeias que financiaram esses empreendimentos.
A
proclamação da independência (1822), a abolição da escravatura (1888) e a
proclamação da república (1889) não
aboliram os modos e as relações de produção
implantados pela colonização portuguesa a partir de 1500, haja vista que
as lideranças políticas das classes favorecidas promulgaram em 1850, a Lei da
Terra que reiterava que a aquisição de terras no Brasil deveria ser realizada
através de compra diretamente do Governo
Imperial., impedindo, desse modo, que os imigrantes pobres e as pessoas das
classes desfavorecidas pudessem adquirir terras
para produzir suas condições de vida, ao invés de se submeterem ao
trabalho nas terras dos latifundiários.
Por
sua vez, os políticos e militares, comprometidos com os interesses das classes
favorecidas luso-brasileiras e das classes privilegiadas das metrópoles
capitalistas europeias, continuaram administrando o país independente como se
fosse uma feitoria de sua propriedade, mantendo suas ações e ideias medievais
de dominação e de exploração das classes desfavorecidas. Os políticos continuaram a administrar a
propriedade e a terra privadas em favor das classes possuidoras internacionais.
Os militares e as forças de segurança (milícia, guarda nacional) continuaram
considerando as pessoas das classes desfavorecidas como inimigas estrangeiras
da nação, sem direitos, com a obrigação de cumprirem os deveres estabelecidos
para elas. Os militares e as forças de segurança constituíram-se em forças
mercenárias para garantir a lei e a ordem em favor das classes possuidoras
nacionais e internacionais.
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Janeiro
2022.